sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

MAGIAS PARA O ANO NOVO


Tenho um vizinho aqui no bairro (acho que todo mundo tem algum desse tipo) que é uma pessoa sensacional. Sempre solícito, dá carona, às vezes varre meu passeio e se oferece para ficar tomando conta do meu filho quando preciso sair.

Pois é, esse poço de gentileza me faz um pedido, e aí vocês vão perguntar: como recusar um pedido de uma pessoa assim, dubem?

O pedido é exatamente assim:
- Você poderia me emprestar o seu cartão pra mim comprar lentilha? – tudo bem, ele é dubem mas fala “mim comprar”.

Pra não entediar vocês com o conversê todo, vou resumir: ele quer comprar lentilha pra comer na passagem de ano, pois quer melhorar sua situação financeira, que, por não estar muito boa, levou-o à Serasa, motivo pelo qual está sem cartão.

Normalmente, eu sou uma pessoa muito, mas muito gentil mesmo. Até coloquei como resolução de ano novo ser só gentil. Mas, depois de ouvir esse pedido, acho que perdi um pouco as estribeiras:
- Não! – respondi.

Eu ia dar a explicação, mas minha meta de ser menos gentil bateu mais forte e falei só o “não”. Não falei pra ele o porquê pois entendo que, quando alguém pede alguma coisa pra gente, a resposta só pode ser “sim” ou “não”. Aquela coisa de “empresto sim, mas só desta vez” ou “por que é que você está me pedindo?” não faz parte do meu repertório, nem quando eu era mais gentil.

Mas, se não contarem pra ele, vou contar pra vocês.

É que eu não suporto mais essa coisa (tenho visto isso há sessenta anos) de atribuir um poder mágico às coisas. É lentilha, semente de romã, uva, não comer animal que cisca pra trás, calcinha amarela, cueca vermelha. Francamente, acho isso tudo uma coisa assim tão tribal, tão ridiculamente infantil que resolvi falar.

Ora, meus amigos, não é uma semente ou uma pedra ou sei lá o quê que irão melhorar, ou piorar, as nossas vidas. Aliás, para falar a verdade, não é nem uma pessoa também que é responsável pela nossa desgraça ou pelo nosso sucesso.

Pensem nisso: temos a mania de dizer que a nossa vida está ruim por culpa do olho gordo, do nosso vizinho, do nosso chefe, da situação política, do horóscopo.

Que, em 2018, possamos perceber que a nossa vida é ruim, às vezes, e que também é boa, às vezes. E que a melhor simpatia pra ser feliz é viver. Sem culpas, nem desculpas, sem lentilha, nem brasília, sem magia, só com alegria. E um pouquinho de sabedoria. Feliz Ano Novo, pessoal!

Crônica: Jorge Marin

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