sexta-feira, 24 de março de 2017

CARNE DE PAPELÃO


Tenho corrido de política como o diabo corre da cruz. Mas, aqui e ali, alguns fatos do dia a dia acabam nos causando revolta e não resisti: publiquei uma mensagem contra a reforma da previdência no Face.

Achando ter cumprido um dever cívico (embora seja apenas mais uma bobagem publicada nas redes sociais), volto para curtir o que eu realmente gosto, que são as músicas dos anos 70, filosofia, budismo, teatro, e piadas. Nisso recebo o inbox de um amigo com o seguinte comentário: “Se você é eleitor da Dilma, também é eleitor do Temer. Logo, não pode reclamar, pois é o SEU candidato que está detonando a classe trabalhadora”.

Fico pensando nessa lógica e chego à conclusão que não há resposta possível para esse questionamento. Se eu disser que não era isso que estava no programa de governo da minha candidata, vai dizer que eu sou ingênuo. Se eu disser que era isso que o candidato dele faria, vai me responder que não tem candidato e que, aliás, nem vota.

Surge, assim, uma coisa que detesto: a figura do APOLÍTICO. Não que a pessoa não possa detestar política. De repente, ela tem mais o que fazer e está mais preocupada com os seus assuntos pessoais do que com o destino dos outros. Na Grécia Antiga, esse tipo de pessoa, mais centrada em seus interesses particulares, era chamada de IDIOTA (do grego idiotes, que significa “indivíduo privado”).

Mas o que me irrita é o seguinte: se esse idiota (ainda no sentido grego) é apolítico, por que é que ele acha que tem que dar pitaco na postagem daqueles que querem participar de grupos que integram a pólis (cidade) e, por isso mesmo, chamado de políticos? Quando os políticos queriam, na Grécia, saber da opinião desses plebeus, chamavam-nos para uma opinião coletiva, o que se chamava (chama até hoje) PLEBISCITO.

A posição do apolítico é, a princípio, muito confortável, porque, seja qual for o acontecimento político do momento, ele critica. No entanto, como ele não opina, fica obrigado a sofrer TODAS as consequências dos seus não-atos. Afinal, quem não toma partido, toma... sei lá onde.

No tempo do golpe militar, me diziam “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Hoje sei que, na verdade, manda quem permitimos que mande e obedece quem tem medo. Carne de papelão, sangue de barata.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em https://assimerahollywood.wordpress.com/2013/01/10/filmes-em-busca-do-ouro/

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