sexta-feira, 17 de junho de 2016

O ADEUS AO NOSSO MALEIRO


Triste, leio nesta sexta-feira, a notícia da morte do Gilson Duro. A imagem dele, mais de cinquenta anos pra lá, e 65 quilômetros pra cá, ainda é muito clara na minha mente: o ônibus do pai do Silveleno chegando na Rodoviária, e o Gilson, com aqueles óculos escuros de sempre e sua tradicional carroça, recolhendo as malas dos passageiros para entregar nas casas das pessoas.

Chego à janela e, de frente para a paisagem fria e urbana de hoje, vejo aquelas cenas todas do passado. Afinal, não será isso a vida? Uma sucessão de cenas passadas em nossa janela? Será que tudo não se resume a uma série de paisagens que vamos curtindo e colecionando e, eventualmente, dizendo aos outros que as nossas, sim, são as mais belas?

No tempo do Gilson jovem maleiro, diziam pra mim que era para eu estudar para ter sucesso. Sucesso era uma coisa assim do tipo ter carro, uma bela casa, dinheiro no banco e ser feliz. Mas, isso era um objetivo para DEPOIS que eu estudasse. Eu vinha da escola e atravessava a rua ali, em frente à Assembleia de Deus. Na esquina de cá, via o Gilson, deitado na carroça, tirando um cochilo. Pensava: ele não tem casa, nem carro, nem parece ter dinheiro; será que é infeliz? De repente, ele acordava, olhava pra mim (era irmão de armas do meu pai, o que fazia dele meu tio de armas) e dizia:
- Oi, minino, feliz natal procê! – e ria. Definitivamente, era feliz.

Hoje, as nossas “janelas” transformaram-se nestas telas de computador na qual estamos proseando aqui. No entanto, as coisas não mudaram muito. E sempre um achando que a dele é melhor, que a do outro é pior. Mas, o que é mais grave, querendo mudar as imagens das janelas dos outros.

O maleiro se foi, mas nós – os malas – continuamos por aqui. Nos achando. Vai com Deus, Gilson!

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em http://caricatusfalador.blogspot.com.br/

2 comentários:

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL