Viver
dói. Às vezes, muito. Quem viveu mais de meio século, olha para trás, e, em
meio às recordações inesquecível do “nosso tempo” muito retratadas aqui no
Blog, depara-se, na maior parte do tempo, com problemas, inquietações, perdas e
sofrimentos indizíveis.
Não se
trata de ser pessimista ou derrotista, mas saber que, para cada momento (efêmero)
de glória, prazer e vitória, vive-se uma rotina de sacrifícios, amolações e
tédio.
Presos
nesse emaranhado de sentimentos, alguns não suportam a dor da vida. Pior: esses
“alguns”, na verdade, representam quase um quarto da população da Terra. Quem
não conhece um amigo, ou uma amiga, que reclama, a todo instante de uma opressão
no peito, tristeza profunda e falta de energia?
A questão
que preocupa é: quando é que essa tristeza deixa de ser natural (causada por
perdas, stress e traumas) e passa a ser patológica? Na maioria das vezes, essa
constatação é ignorada ou mesmo negligenciada pela pessoa adoecida de depressão
e por sua família. É que essa “dor de viver” muitas vezes se mistura às dores
universais que todos sentimos no dia a dia.
Estamos
muito acostumados a dores pontuais e bem localizadas. Novo oráculo ou deus de
todas as causas sofridas, as tomografias, scans e ultrassonografias não apenas
descobrem como também fotografam a origem da sua dor. Pronto, vamos atacar
aquele ponto com nossos super-ultra-medicamentos e a saúde se restabelecerá!
Mas, como
explicar a depressão, onde o que dói é, justamente, continuar vivendo? Como preencher
esse vazio imenso quando tudo o que se apresenta são conteúdos indesejáveis e
incômodos. E, o que é pior, como gritar por socorro ante a vergonha de ser tachado
de fraco, louco ou looser?
No “nosso”
tempo, que, independente da cronologia, situava-se em algum tempo entre os 7 e
os 30 anos, o tal “vazio” era mais facilmente preenchido: seres mágicos,
amores, Deus e até mesmo uma entidade chamada “carreira” atestavam que não
estávamos sós e que, houvesse o que houvesse, haveria aquela instância ali para
nos proteger.
Mas,
hoje, no século XXI, rapidíssimo e conectado até o último neurônio, pouco nos
sobra daquele vazio, iluminado por luzes fugazes de faces e zaps contínuos que só apagam quando dormimos intoxicados de
informação.
Termino
essas considerações sobre a psique (alma) humana com um alerta: depressão é
doença. Séria, crônica e recorrente. Há depressivos dos 8 aos 80 anos, parte
dos quais se mata. Ao pensar em tudo que eu falei acima, considerem seriamente,
pessoas com alguns desses sintomas e seus familiares, a possibilidade de buscar
a ajuda de um profissional de saúde.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Biggi Fraley, disponível em https: //www.flickr.com/photos/biggifraley/2286472847/sizes/o/
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