sexta-feira, 24 de junho de 2016

ONDE DÓI A DEPRESSÃO?


Viver dói. Às vezes, muito. Quem viveu mais de meio século, olha para trás, e, em meio às recordações inesquecível do “nosso tempo” muito retratadas aqui no Blog, depara-se, na maior parte do tempo, com problemas, inquietações, perdas e sofrimentos indizíveis.

Não se trata de ser pessimista ou derrotista, mas saber que, para cada momento (efêmero) de glória, prazer e vitória, vive-se uma rotina de sacrifícios, amolações e tédio.

Presos nesse emaranhado de sentimentos, alguns não suportam a dor da vida. Pior: esses “alguns”, na verdade, representam quase um quarto da população da Terra. Quem não conhece um amigo, ou uma amiga, que reclama, a todo instante de uma opressão no peito, tristeza profunda e falta de energia?

A questão que preocupa é: quando é que essa tristeza deixa de ser natural (causada por perdas, stress e traumas) e passa a ser patológica? Na maioria das vezes, essa constatação é ignorada ou mesmo negligenciada pela pessoa adoecida de depressão e por sua família. É que essa “dor de viver” muitas vezes se mistura às dores universais que todos sentimos no dia a dia.

Estamos muito acostumados a dores pontuais e bem localizadas. Novo oráculo ou deus de todas as causas sofridas, as tomografias, scans e ultrassonografias não apenas descobrem como também fotografam a origem da sua dor. Pronto, vamos atacar aquele ponto com nossos super-ultra-medicamentos e a saúde se restabelecerá!

Mas, como explicar a depressão, onde o que dói é, justamente, continuar vivendo? Como preencher esse vazio imenso quando tudo o que se apresenta são conteúdos indesejáveis e incômodos. E, o que é pior, como gritar por socorro ante a vergonha de ser tachado de fraco, louco ou looser?

No “nosso” tempo, que, independente da cronologia, situava-se em algum tempo entre os 7 e os 30 anos, o tal “vazio” era mais facilmente preenchido: seres mágicos, amores, Deus e até mesmo uma entidade chamada “carreira” atestavam que não estávamos sós e que, houvesse o que houvesse, haveria aquela instância ali para nos proteger.

Mas, hoje, no século XXI, rapidíssimo e conectado até o último neurônio, pouco nos sobra daquele vazio, iluminado por luzes fugazes de faces e zaps contínuos que só apagam quando dormimos intoxicados de informação.

Termino essas considerações sobre a psique (alma) humana com um alerta: depressão é doença. Séria, crônica e recorrente. Há depressivos dos 8 aos 80 anos, parte dos quais se mata. Ao pensar em tudo que eu falei acima, considerem seriamente, pessoas com alguns desses sintomas e seus familiares, a possibilidade de buscar a ajuda de um profissional de saúde.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Biggi Fraley, disponível em https: //www.flickr.com/photos/biggifraley/2286472847/sizes/o/


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