Os
anos se passaram e, desde o fatídico dia em que vimos com muita tristeza o
fechamento das portas do ginásio do Sôbi pela última vez, é que ficamos a
recordar, quase que diariamente, de nossos inesquecíveis mestres, daquela
educação primorosa, da disciplina, do aconchegante espaço físico, de nossos colegas
e, principalmente, daqueles momentos divertidos e dos APERTOS ante as muitas
situações de sufoco, que vez ou outra aconteciam conosco. E é justamente um
desses causos EMBARAÇOSOS que, diante de nomes fictícios, irei fazer este remake pra vocês agora:
Lá
pelos idos da década de setenta, após um fatídico segundo ano ginasial, minha
querida e saudosa mãe me transferiu para o turno da noite. Minha tia, pela
mesma razão, e mais que depressa, também transferiu meu primo. Como já dizia o
velho ditado: “Um gambá já cheirava o outro”. Fomos fazer o curso BÁSICO, na
justificativa que estaríamos com pessoas mais responsáveis e maduras.
Justamente aí que começaria toda historia.
Numa
bela noite, ao entrar na sala após o término do recreio, vi que algo estranho
acontecia. De antemão, já haviam me informado que uma revistinha muito
interessante estaria circulando misteriosamente pela sala. Lembram daquelas
revistinhas despudoradas, quase sempre em preto e branco?
Pois
é, foi exatamente uma dessas que o maluco do Magela teve a coragem de levar na
escola. Até o presente momento, eu só havia visto de longe, mas esperava
ansioso pelo término das aulas para que pudesse, se possível, vê-la com mais
detalhes.
Naquele
ano, estudávamos numa daquelas salas onde havia duas portas de acesso, e. para
minha felicidade, após retornar do intervalo, entrei justamente pela de
trás. Ao ver aquela muvuca formada lá na
frente, tive o pressentimento que alguma coisa iria acontecer. E não deu outra!
Fui
para os fundos da sala. Mal havia me sentado, quando, de repente, pude sentir
que, do lado de fora, um estranho vulto silenciosamente começava a se
posicionar em uma das portas. Já
imaginando quem seria, tive a vontade de poder avisá-los, mas, infelizmente,
ele já estava bem mais próximo que eu. Era
tarde demais.
Aquele
vulto, que todos já deverão estar imaginando, começou sorrateiramente a fazer
uma silenciosa aproximação e, dando inveja a muito gato, pressentia com certeza
que algo não muito bom poderia estar acontecendo ali.
Era
uma rodinha de aproximadamente seis a sete alunos, sentados em círculos, nas
primeiras carteiras da sala.
Quanto
mais ele se aproximava, mais suado eu ficava. Pisava tão de mansinho que os
meninos nem observavam. Chegou ao cúmulo de conseguir esticar o pescoço sobre
eles e ficar espiando tudo por cima. Meu primo foi o primeiro a vê-lo. Ficou
estático e mal se mexia. Magela, na ânsia de tentar esconder a revista, deixou
cair uma página aos pés do digníssimo mestre. Custódio, que também estava na
rodinha, e vendo aquela página aterrissar suavemente próxima ao seu pé,
procurou mais que depressa pisar sobre ela, numa inocente tentativa de poder
ocultá-la.
Magela,
na mesma hora, se mandou. Segundo me disseram, desceu aquela escadaria do
ginásio sem mesmo colocar o pé em um único degrau.
Enquanto
isso, o velho mestre queria saber o que Custódio estaria escondendo sob o
sapato. Coitado do Custódio! Estava tão apavorado, que foi preciso que o mestre
levantasse seu pé, para que, enfim, fosse revelado, aquilo que jamais deveria
ser visualizado. Foi quando, realmente, teve-se a ideia da gravidade do fato.
Por
azar e para piorar ainda mais aquela situação, exatamente naquela página,
estaria estampado o desenho de um... Bem, deixa pra lá! Passemos adiante!
E
o professor, não acreditando no que estava acontecendo, trincava os dentes de
tanta raiva. Ordenou, imediatamente, que todos os alunos das demais salas
descessem e que ficasse apenas a nossa. Evacuou todo o ginásio, pedindo pra que
fôssemos de três em três, para um interrogatório a ser feito no salão do
Juquinha. Pra quem não sabe, Juquinha era um simpático esqueleto. Por sinal,
única testemunha dos fatos a seguir.
Nosso
querido mestre estava tão nervoso, que achei que iria desmaiar.
Ao
chegar minha vez, tive a companhia de Custódio e Clarindo. Este último era um
colega superdivertido e satirizava como ninguém diversos personagens.
Começou então o interrogatório pelo Clarindo:
-
Como
é, Clarindo, viu aquela revista? - perguntou o mestre, quase desmaiando de
raiva.
-
Eu
vou ser muito sincero com o senhor: eu não vi! Não vi porque não sabia, mas, se
soubesse, não perderia por nada neste mundo! - respondeu Clarindo, em tom de
brincadeira e sem um pingo de noção da gravidade do fato.
Nosso
mestre, meio que abobado diante daquela resposta um tanto infantil, e vendo que
com Clarindo não conseguiria nada, passou então para mim:
-
E
você, Sérgio, viu a revista ou não viu? – ainda mais embravecido perguntou.
- Bem! Eu vi de longe!
-
Eu
não quero saber se você viu de longe ou de perto, eu quero saber se você viu?
Viu ou não viu? - perguntou ainda mais exaltado.
-
Eu
vi de longe! - tornei a responder.
Depois
de haver reafirmado por umas cinco ou seis vezes que só havia visto de longe,
enfim ele desistiu de mim.
Transtornado
e furioso, passou então para o Custódio que, neste meio tempo, num canto da
sala, de olhar fixo para uma das janelas, não mexia um só fio de cabelo.
Confesso que, naquele momento, cheguei a ponto de temer pela integridade
psicológica do colega.
-
Como
é, Custódio, você viu ou não viu aquela revista nojenta? - perguntou o mestre!
Custódio,
de semblante apavorado, tremendo igual vara verde, após dar uma ultima olhada
para o teto, respondeu:
-
Ahhhh...
EU VI DE LONGE!
Nesta
hora, o professor só não esfregou a cabeça do Custódio na parede, porque jamais
seria capaz fazê-lo.
Conclusão:
pouco a pouco, foram sendo eliminados e liberados todos os possíveis inocentes.
Na escola, já silenciosa e vazia, restavam apenas... o Custódio, o primo, o Clarindo
e eu. Até então, éramos para o mestre,
os possíveis suspeitos. Um a um, ainda teríamos que passar por outra
eliminatória, digo interrogatório, na secretaria. Nesse meio tempo, já deveria
ser quase meia-noite.
E,
falando em meia-noite, deixarei pra contar o resto da história semana que vem.
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : acervo Pitomba Blog
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