quarta-feira, 22 de junho de 2016

BAIÕES DE MANGUEIRA E BOTAFOGO


Foi diante deste breve período glacial que vivemos dias atrás que, proseando com um conterrâneo, comentava sobre o frio que fazia na garbosa nesta mesma época do ano.  Aí, ficamos a catalogar algumas festas em que ele (o frio!!!) era presença marcante, além de indispensável pra compor o cenário perfeito daqueles momentos festivos tão típicos de inverno.

Foi quando nos lembramos de como eram geladas aquelas noites de junho e julho em que aconteciam as festas juninas de Santa Rita, São José, Santo Antônio e, principalmente, os famosos baiões de Mangueira e Botafogo.

E, já que falamos em baiões, confesso que jamais consegui sentir em lugar algum aquele mágico e singular cheirinho dos churrascos e pastéis que ali eram feitos. De minha casa, na Rua Zeca Henriques e entorno, o referido aroma era algo marcante. Segundo alguns conhecedores, o uso de cachaça nas massas contribuía em muito para que isso acontecesse.  O cheirinho de quentão e “leideonça” então, nem se fala!

Mas, voltando ao frio, ele passava somente despercebido por aquela garotada que, quase sempre de calção e sem camisas, ficava ante ao desafio de um imenso pau-de-sebo, tentando alcançar uma trouxinha de dinheiro posicionada bem na sua ponta. Por sinal, apenas uma única vez, vi este desafio ser alcançado. Foi numa pirâmide humana, feita por cinco ou seis rapazes que, após encher os bolsos de areia e irem esfregando no pau de sebo a cada braçada, conseguiram, enfim, alcançar o tão sonhado objetivo.

Aconchegante e de muita criatividade era aquele inesquecível ambiente, sempre decorado com muitas bandeirinhas, balões e bambus. Um grande palco era montado para que o conjunto musical animasse e esquentasse ainda mais aquelas gélidas noites de baião.

Assim também me narrou a irmã Mika:

“O que eu mais gostava era das quadrilhas e dancinhas nos palcos. Nos palcos, também havia um momento para alguma apresentação cômica. Eram semanas de ensaios, uma delícia. Eram duas quadrilhas: uma de adultos e outra das crianças. As roupas eram lindas, havia até concurso.

Mangueira e Botafogo se desdobravam, cada um querendo fazer a festa mais linda. Pedíamos prendas para as barraquinhas. Cada grupo pedia em uma rua. Eu sempre ficava com a subida da Matriz. E o povo se esmerava.

Em todas as duas festas, tocava o Conjunto Itaborahy. Músicas lindas. Era um verdadeiro baile. Na adolescência, dancei muito, namorei. Estes bailes eram a delícia da juventude e dos adultos também. O espaço pra a dança era especial! Espaço grande, pois todos dançavam.

Houve uma época, em que as festas fugiram um pouco da cultura popular, pois faziam apresentações nas piscinas. O Mangueira erguia uma passarela no meio da piscina. Dali desfilavam e apresentavam danças típicas de vários países. Muito lindo! Botafogo também fez uma apresentação na piscina, mas não cheguei a ver. Ficávamos na expectativa da apresentação. O local ficava cheio”.

Outro fato interessante era quando o trem, chegando na cidade e passando ali na Rua Forte Bustamante, alguns de seus passageiros, possivelmente até vindo pra festa, ficavam a gritar e acenar pra turma do pau-de-sebo. Devido à lentidão da locomotiva em estar atravessando o centro da cidade, cheguei a presenciar alguns passageiros saltando dos vagões ali mesmo e adentrando pelo portão dos fundos do Mangueira.

Lugar de muitas paqueras e encontros de amigos e familiares.  Eram momentos únicos, de confraternização e divertimento, principalmente numa época em que tudo era muito inocente, romântico e a violência praticamente não existia.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : disponível em http://www.saomigueldotapuio.pi.gov.br/

2 comentários:

  1. Muito bom e o final da crônica por si já diz tudo:
    “Eram momentos únicos, de confraternização e divertimento, principalmente numa época em que tudo era muito inocente, romântico e a violência praticamente não existia”.

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  2. Voltei no tempo...julho as férias eram em São João, na casa de vovô Gomes e vovó Conceição.Não perdia os famosos baiões de Mangueira e Botafogo. Fecho os olhos e consigo escutar o Conjunto Itaborahy ...tempos que não voltam mais!!!

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