Foi diante
deste breve período glacial que vivemos dias atrás que, proseando com um conterrâneo,
comentava sobre o frio que fazia na garbosa nesta mesma época do ano. Aí, ficamos a catalogar algumas festas em que
ele (o frio!!!) era presença marcante, além de indispensável pra compor o
cenário perfeito daqueles momentos festivos tão típicos de inverno.
Foi
quando nos lembramos de como eram geladas aquelas noites de junho e julho em
que aconteciam as festas juninas de Santa Rita, São José, Santo Antônio e, principalmente,
os famosos baiões de Mangueira e Botafogo.
E, já que
falamos em baiões, confesso que jamais consegui sentir em lugar algum aquele mágico
e singular cheirinho dos churrascos e pastéis que ali eram feitos. De minha
casa, na Rua Zeca Henriques e entorno, o referido aroma era algo marcante. Segundo
alguns conhecedores, o uso de cachaça nas massas contribuía em muito para que isso
acontecesse. O cheirinho de quentão e “leideonça”
então, nem se fala!
Mas,
voltando ao frio, ele passava somente despercebido por aquela garotada que,
quase sempre de calção e sem camisas, ficava ante ao desafio de um imenso pau-de-sebo,
tentando alcançar uma trouxinha de dinheiro posicionada bem na sua ponta. Por
sinal, apenas uma única vez, vi este desafio ser alcançado. Foi numa pirâmide
humana, feita por cinco ou seis rapazes que, após encher os bolsos de areia e
irem esfregando no pau de sebo a cada braçada, conseguiram, enfim, alcançar o
tão sonhado objetivo.
Aconchegante
e de muita criatividade era aquele inesquecível ambiente, sempre decorado com
muitas bandeirinhas, balões e bambus. Um grande palco era montado para que o
conjunto musical animasse e esquentasse ainda mais aquelas gélidas noites de
baião.
Assim também me narrou a irmã Mika:
“O que eu mais gostava era das quadrilhas e dancinhas nos palcos. Nos
palcos, também havia um momento para alguma apresentação cômica. Eram semanas
de ensaios, uma delícia. Eram duas quadrilhas: uma de adultos e outra das
crianças. As roupas eram lindas, havia até concurso.
Mangueira e Botafogo se desdobravam, cada um querendo fazer a festa mais
linda. Pedíamos prendas para as barraquinhas. Cada grupo pedia em uma rua. Eu
sempre ficava com a subida da Matriz. E o povo se esmerava.
Em todas as duas festas, tocava o Conjunto Itaborahy. Músicas lindas.
Era um verdadeiro baile. Na adolescência, dancei muito, namorei. Estes bailes
eram a delícia da juventude e dos adultos também. O espaço pra a dança era
especial! Espaço grande, pois todos dançavam.
Houve uma época, em que as festas fugiram um pouco da cultura popular,
pois faziam apresentações nas piscinas. O Mangueira erguia uma passarela no
meio da piscina. Dali desfilavam e apresentavam danças típicas de vários
países. Muito lindo! Botafogo também fez uma apresentação na piscina, mas não
cheguei a ver. Ficávamos na expectativa da apresentação. O local ficava cheio”.
Outro
fato interessante era quando o trem, chegando na cidade e passando ali na Rua
Forte Bustamante, alguns de seus passageiros, possivelmente até vindo pra
festa, ficavam a gritar e acenar pra turma do pau-de-sebo. Devido à lentidão da
locomotiva em estar atravessando o centro da cidade, cheguei a presenciar
alguns passageiros saltando dos vagões ali mesmo e adentrando pelo portão dos
fundos do Mangueira.
Lugar de
muitas paqueras e encontros de amigos e familiares. Eram momentos únicos, de confraternização e
divertimento, principalmente numa época em que tudo era muito inocente,
romântico e a violência praticamente não existia.
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : disponível em http://www.saomigueldotapuio.pi.gov.br/
Muito bom e o final da crônica por si já diz tudo:
ResponderExcluir“Eram momentos únicos, de confraternização e divertimento, principalmente numa época em que tudo era muito inocente, romântico e a violência praticamente não existia”.
Voltei no tempo...julho as férias eram em São João, na casa de vovô Gomes e vovó Conceição.Não perdia os famosos baiões de Mangueira e Botafogo. Fecho os olhos e consigo escutar o Conjunto Itaborahy ...tempos que não voltam mais!!!
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