sexta-feira, 10 de junho de 2016

TEM AMOR PRA HOJE?


A nossa volta ao passado aqui no Blog é feita de momentos românticos, como se o romantismo fosse um produto com validade até o final dos anos 80 mais ou menos.

Mas, a partir daí, o que aconteceu com o amor romântico? Será que o fim da repressão, ou o fim da guerra fria, ou o baixo preço das pílulas fizeram com que essa coisa do “eu te amo” se tornasse obsoleta?

Lógico, aqui e ali, casaizinhos suspirantes e apaixonados ainda tentam passear de mãos dadas pelas praças. Mas, até isso se tornou meio perigoso ante a escalada da violência urbana.

Pesquisamos no Google e vamos descobrir, meio decepcionados, que o amor romântico é uma invenção da Idade Média, quando um determinado cavaleiro saía para as suas cruzadas e, temeroso de não voltar, dedicava sua empreitada a determinada donzela que lhe serviria de inspiração e consolo em seus momentos infernais.

Nessa visão, o amor romântico surge como uma espécie de obsessão incontrolável em que, milhas distantes, ainda nos preocupamos com o que pensa a pessoa amada, com o que sonha, qual sabor tem os seus beijos, qual a maciez do seu corpo. Isso era considerado uma maldição porque amar assim era perder o controle, coisa que, naquele tempo, era um ato condenável.

No nosso tempo de jovens, a coisa já estava mais pacificada, e amar assumia ares de coisa tolerada, desde que dentro de um contexto de comprometimento. Ou seja, podíamos amar desde que aquela “febre passageira” durasse para sempre. Lembro-me de uma amiga me confidenciando, nos idos de 1970 e poucos, que tinha sérias dúvidas se o amor dela para o namorado era PARASSEMPRE. Hoje, continuam casados, mas fico me perguntando se o amor romântico resiste a um apartamento de dois quartos e a um seguro de carro que vence justamente quando voltamos da viagem financiada.

Adolescentes modernos vivem verdadeiros idílios de algumas semanas, inundando o Facebook com uma quantidade sem fim de “teamos”, palavra que só perde na rede para os “kkks” e os “rsrsrs”, embora, na vida real, pouco se ame e pouco se ria. É como se o amor, para esses jovens, fosse a manutenção tardia daquela crença em Papai Noel que tínhamos no passado.

Por isso, neste Dia dos Namorados, se estiverem acometidos dessa (incontrolável) doença amorosa, liberem os sintomas. Que os atchins sejam beijos loucos e que as dores se manifestem em formas de carícias agudas, cutâneas e viscerais.

Crônica: Jorge Marin

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