Terminando,
então, com o causo sobre a revistinha despudorada que teria sido admirada por
quase todos, mas que ninguém viu, aconteceu o seguinte:
O
primo foi o primeiro a comparecer à condução coercitiva, sendo que Custódio,
Clarindo e eu ficaríamos aguardando na sala de aula.
Enquanto
acontecia o depoimento do primo, Custódio, não resistindo à pressão psicológica
da espera, pulou o muro dos fundos e sumiu. Foi visto, quase meia-noite, lá
pelas bandas de uma das ruas de acesso ao bairro Santo Antônio. Detalhe: Com a
calça toda rasgada em função da travessia na cerca de arame farpado.
Reza
a lenda que Clarindo, até então calmo e sereno, resolveu repentinamente,
encarar um dos muros laterais do colégio. Coitado, foi cair exatamente no
terreiro da Rosicleide. E, o que é pior, justamente em cima da casinha do
AMIGO, um sistemático cãozinho pastor alemão, nada simpático e de quase um
metro de altura. Por sinal, detestava
alunos. Coitado do Clarindo!
Quase
quarenta minutos haviam se passado, e um silencio funesto, já há algum tempo,
se fazia perceber nos corredores vazios do colégio.
Quer
saber de uma coisa? Eu vou é me mandar daqui também! Sei lá o que o futuro nos
aguarda! – pensei.
Pior
que naquela hora da noite, já com o ginásio quase todo trancado, teria como
única opção passar pelo corredor da secretaria. Era tudo ou nada! A única
certeza que tinha naquele momento era a de não tentar fazer uma arriscada
travessia na cerca de arame farpado e, muito menos, cair na casinha do AMIGO.
Dessa
forma, sabendo de antemão que, na sala do mestre, a coisa deveria estar “braba”,
e que o referido local oferecia uma visão estratégica pro corredor de saída, procurei,
sorrateiramente, ir passando bem de mansinho. Mas, ainda antes, tive a infeliz ideia
de querer dar uma última olhadinha e ver o que estaria acontecendo com o primo.
Percebi,
de imediato, que a cena lá dentro estava meio complicada, e que o parente estaria
prestes a fazer uma delação premiada. Foi quando comecei a empurrar suavemente
aquela portinhola de faroeste, que separava o pátio interno do corredor da
secretaria. Meu negócio era executar o famoso sebo nas canelas o mais rápido
possível.
Naquele
exato momento, e para meu desespero, escutei quando o primo disse lá dentro:
-
Eu juro, pode perguntar ao Sérgio, que ele sabe que sou inocente! – a fala
ocorreu no mesmo instante em que eu adentrava pelo corredor, e estava acabando
de colocar um pé naquelas quase centenárias tábuas de madeira nobre do assoalho. Por infelicidade, fui surpreendido com um
grande estalo da madeira e, antes mesmo que iniciasse o sprint final pra conseguir alcançar a tão sonhada liberdade,
escutei lá de dentro:
-
Entra prá cá, Sérgio! Tá achando que vai aonde? Aproveita e chama o Clarindo e
o Custódio!
Não
teve outro jeito, e tive mesmo que entrar. Sem ambos, é claro.
Naquela
hora, comecei a observar que o mestre estava com ares de que começara acreditar
na versão do parente, pois nem chegou a reparar que eu havia entrado sozinho em
sua sala. Ofereceu-nos cafezinho, algumas bolachas e até piadas começou nos
contar.
A
seguir, pediu-nos para que o esperássemos, pois iria acabar de fechar o ginásio
e sair conosco. E assim foi... Com um de
cada lado, e com os braços sobre nossos ombros, descemos o morro dando boas
risadas. Já era quase uma da madruga, e ele ainda nos levaria até a esquina da
pracinha do Coronel, onde, por um bom tempo, continuamos proseando e jogando
conversa fora.
Pra
ser sincero, eu estava mesmo era me divertindo bastante, pois, na realidade,
pelo menos dessa vez, eu nada tinha a ver com aquela revistinha. Fui apenas um
pobre e inocente e fiel leitor. Só perguntar ao primo.
Magela,
por sua vez, após ter sido descoberto, foi expulso. Retornou um mês depois com
a promessa de nunca mais levar ao ginásio tais revistas ou similares. No dia de
seu retorno, ao chegar à sala com ar angelical, já na primeira aula, foi logo
jogando algo sobre nossas carteiras. Pasmem!
Era, simplesmente, a edição de número 2!
Quanto
a mim, pelo fato de, quase todas sextas-feiras, ir direto para casa da tia, em
função de serenata, o fato passou despercebido pela mamis.
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : disponível em http://glauberdestro.blogspot.com.br/2011/03/programa-os-crentes-8.html.
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