quarta-feira, 15 de junho de 2016

CAUSOS DO GINÁSIO - Final


Terminando, então, com o causo sobre a revistinha despudorada que teria sido admirada por quase todos, mas que ninguém viu, aconteceu o seguinte: 

O primo foi o primeiro a comparecer à condução coercitiva, sendo que Custódio, Clarindo e eu ficaríamos aguardando na sala de aula.
Enquanto acontecia o depoimento do primo, Custódio, não resistindo à pressão psicológica da espera, pulou o muro dos fundos e sumiu. Foi visto, quase meia-noite, lá pelas bandas de uma das ruas de acesso ao bairro Santo Antônio. Detalhe: Com a calça toda rasgada em função da travessia na cerca de arame farpado.

Reza a lenda que Clarindo, até então calmo e sereno, resolveu repentinamente, encarar um dos muros laterais do colégio. Coitado, foi cair exatamente no terreiro da Rosicleide. E, o que é pior, justamente em cima da casinha do AMIGO, um sistemático cãozinho pastor alemão, nada simpático e de quase um metro de altura.  Por sinal, detestava alunos. Coitado do Clarindo!

Quase quarenta minutos haviam se passado, e um silencio funesto, já há algum tempo, se fazia perceber nos corredores vazios do colégio.
Quer saber de uma coisa? Eu vou é me mandar daqui também! Sei lá o que o futuro nos aguarda! – pensei.

Pior que naquela hora da noite, já com o ginásio quase todo trancado, teria como única opção passar pelo corredor da secretaria. Era tudo ou nada! A única certeza que tinha naquele momento era a de não tentar fazer uma arriscada travessia na cerca de arame farpado e, muito menos, cair na casinha do AMIGO.

Dessa forma, sabendo de antemão que, na sala do mestre, a coisa deveria estar “braba”, e que o referido local oferecia uma visão estratégica pro corredor de saída, procurei, sorrateiramente, ir passando bem de mansinho. Mas, ainda antes, tive a infeliz ideia de querer dar uma última olhadinha e ver o que estaria acontecendo com o primo.

Percebi, de imediato, que a cena lá dentro estava meio complicada, e que o parente estaria prestes a fazer uma delação premiada. Foi quando comecei a empurrar suavemente aquela portinhola de faroeste, que separava o pátio interno do corredor da secretaria. Meu negócio era executar o famoso sebo nas canelas o mais rápido possível.

Naquele exato momento, e para meu desespero, escutei quando o primo disse lá dentro:
- Eu juro, pode perguntar ao Sérgio, que ele sabe que sou inocente! – a fala ocorreu no mesmo instante em que eu adentrava pelo corredor, e estava acabando de colocar um pé naquelas quase centenárias tábuas de madeira nobre do assoalho.  Por infelicidade, fui surpreendido com um grande estalo da madeira e, antes mesmo que iniciasse o sprint final pra conseguir alcançar a tão sonhada liberdade, escutei lá de dentro:
- Entra prá cá, Sérgio! Tá achando que vai aonde? Aproveita e chama o Clarindo e o Custódio!

Não teve outro jeito, e tive mesmo que entrar. Sem ambos, é claro.
Naquela hora, comecei a observar que o mestre estava com ares de que começara acreditar na versão do parente, pois nem chegou a reparar que eu havia entrado sozinho em sua sala. Ofereceu-nos cafezinho, algumas bolachas e até piadas começou nos contar.

A seguir, pediu-nos para que o esperássemos, pois iria acabar de fechar o ginásio e sair conosco. E assim foi...  Com um de cada lado, e com os braços sobre nossos ombros, descemos o morro dando boas risadas. Já era quase uma da madruga, e ele ainda nos levaria até a esquina da pracinha do Coronel, onde, por um bom tempo, continuamos proseando e jogando conversa fora.   

Pra ser sincero, eu estava mesmo era me divertindo bastante, pois, na realidade, pelo menos dessa vez, eu nada tinha a ver com aquela revistinha. Fui apenas um pobre e inocente e fiel leitor. Só perguntar ao primo.

Magela, por sua vez, após ter sido descoberto, foi expulso. Retornou um mês depois com a promessa de nunca mais levar ao ginásio tais revistas ou similares. No dia de seu retorno, ao chegar à sala com ar angelical, já na primeira aula, foi logo jogando algo sobre nossas carteiras.  Pasmem! Era, simplesmente, a edição de número 2!

Quanto a mim, pelo fato de, quase todas sextas-feiras, ir direto para casa da tia, em função de serenata, o fato passou despercebido pela mamis.

Crônica: Serjão Missiaggia

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