Somos uma
imensa família onde todos têm nome e quase todos se conhecem. Já repararam
quando alguém quer explicar quem é o fulano, e você, não consegue identificar?
A coisa funciona mais ou menos assim: é o vizinho do sicrano, que é irmão do
genro daquela mulher que era casada com o Irmão do beltrano de tal. E por aí
vai.
Pagar
depois, quando não se tem dinheiro, somente acontece no interior. Se bem
verdade que, muitas vezes, não acontece o depois. Mas isso é outra história. De
qualquer forma, dito pelo não dito, sugiro receber mesmo somente à vista.
Certa vez
cheguei ao açougue e pedi, feliz da vida, um quilo de lombo. Meu solícito
atendente, enquanto ia fatiando a carne em bifes, vira pra mim, num semblante
de total desânimo e diz:
- Se você
soubesse o que tem na carne de porco, nem passaria perto! – E, quando ia me
retirando, ainda gritou:
- Frango
e boi então, nem se fala! - Fiz sinal de positivo e resolvi mesmo foi comprar e
almoçar cenouras naquele dia.
Também
são muitos aqueles que são tratados por números, sendo que o vinte e quatro é
sempre a figurinha da vez. São as eternas recordações do Tiro de Guerra que
continuam a circular pela calçada, diante dos números de seus atiradores. E como seria explicar ou fazer isso, se você
fosse apenas mais um, no meio do gigantesco formigueiro das grandes
metrópoles?
E as
famosas corridinhas atrás da balança amiga de uma farmácia qualquer? Explico: é
a incessante perseguição de todos aqueles que estão fazendo regime ou querendo
ganhar alguns pesos, àquela que seria a melhor balança para se tentar emagrecer
ou mesmo engordar. Segundo alguns especialistas locais, que, previamente, já
estudaram cada balança, a matemática funciona da seguinte maneira: ordem
crescente sentido sudeste pra nordeste, ou seja, as balanças vão aumentando
alguns gramas sentido pracinha do chafariz, passando pelas ruas centrais até
terminar próximas as imediações do Centro Cultural. Não que eu seja curioso,
mas, ao aferir cada uma delas, cheguei mesmo à conclusão de que essa suposta
neura tem certo sentido. Mas, como seria provar isso numa grande metrópole?
Aderi,
recentemente, àquelas dezenas de pessoas que gostam de jogar fubá e canjiquinha
aos canários da terra. Já cheguei a contar mais de vinte deles numa única
esquina. Já imaginou fazer isso na Avenida Paulista? Se não nos recolheram pra
internação, provavelmente seremos abordados, revistados e interrogados. Haverá
forte suspeita de estarmos analisando o local pra futuras incursões.
Sinto
saudade do tempo em que o padeiro, com aquele imenso cesto, deixava, ainda de
madrugada em nossa porta, aquele pãozinho quentinho. Infelizmente, esta coisa
tão interiorana teve mesmo que acabar, pois os pãezinhos começaram a
desaparecer.
Mas, se da
mesma forma já não se pode escutar o apito da Maria Fumaça e da Fábrica de
Tecidos, ainda temos o privilégio de sermos embalados pelo repicar dos sinos
das igrejas nas manhãs de domingo.
Não
podemos esquecer também que somente no interior é que, muitas vezes, aparece um
blog tipo esse do Pitomba que, administrado por dois conterrâneos “apusentados”,
insiste em ficar postando fotos da terrinha e a contar causos e “bubiças” dos
bons tempos. Além, é claro, de raros momentos como esse captado na foto acima,
de uma inusitada introspecção e troca de olhares entre nosso parceiro e mestre
das trilhas de bike e dos mistérios, com um poste.
Pra terminar, assim como cada um de vocês
deverá ter um monte de situações interessantes pra contar, reconheço o que
sempre representará pra todos nós os grandes centros. Quem sabe então, um pouquinho lá, um
pouquinho cá? Pelo visto, o segredo é manter um pé na PEDRA e outro no ASFALTO.
Crônica e
foto: Serjão Missiaggia
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