quarta-feira, 1 de junho de 2016

NOSSO INTERIOR - FINAL


Somos uma imensa família onde todos têm nome e quase todos se conhecem. Já repararam quando alguém quer explicar quem é o fulano, e você, não consegue identificar? A coisa funciona mais ou menos assim: é o vizinho do sicrano, que é irmão do genro daquela mulher que era casada com o Irmão do beltrano de tal. E por aí vai.

Pagar depois, quando não se tem dinheiro, somente acontece no interior. Se bem verdade que, muitas vezes, não acontece o depois. Mas isso é outra história. De qualquer forma, dito pelo não dito, sugiro receber mesmo somente à vista.

Certa vez cheguei ao açougue e pedi, feliz da vida, um quilo de lombo. Meu solícito atendente, enquanto ia fatiando a carne em bifes, vira pra mim, num semblante de total desânimo e diz:
- Se você soubesse o que tem na carne de porco, nem passaria perto! – E, quando ia me retirando, ainda gritou:
- Frango e boi então, nem se fala! - Fiz sinal de positivo e resolvi mesmo foi comprar e almoçar cenouras naquele dia.

Também são muitos aqueles que são tratados por números, sendo que o vinte e quatro é sempre a figurinha da vez. São as eternas recordações do Tiro de Guerra que continuam a circular pela calçada, diante dos números de seus atiradores.  E como seria explicar ou fazer isso, se você fosse apenas mais um, no meio do gigantesco formigueiro das grandes metrópoles? 

E as famosas corridinhas atrás da balança amiga de uma farmácia qualquer? Explico: é a incessante perseguição de todos aqueles que estão fazendo regime ou querendo ganhar alguns pesos, àquela que seria a melhor balança para se tentar emagrecer ou mesmo engordar. Segundo alguns especialistas locais, que, previamente, já estudaram cada balança, a matemática funciona da seguinte maneira: ordem crescente sentido sudeste pra nordeste, ou seja, as balanças vão aumentando alguns gramas sentido pracinha do chafariz, passando pelas ruas centrais até terminar próximas as imediações do Centro Cultural. Não que eu seja curioso, mas, ao aferir cada uma delas, cheguei mesmo à conclusão de que essa suposta neura tem certo sentido. Mas, como seria provar isso numa grande metrópole?

Aderi, recentemente, àquelas dezenas de pessoas que gostam de jogar fubá e canjiquinha aos canários da terra. Já cheguei a contar mais de vinte deles numa única esquina. Já imaginou fazer isso na Avenida Paulista? Se não nos recolheram pra internação, provavelmente seremos abordados, revistados e interrogados. Haverá forte suspeita de estarmos analisando o local pra futuras incursões.

Sinto saudade do tempo em que o padeiro, com aquele imenso cesto, deixava, ainda de madrugada em nossa porta, aquele pãozinho quentinho. Infelizmente, esta coisa tão interiorana teve mesmo que acabar, pois os pãezinhos começaram a desaparecer.

Mas, se da mesma forma já não se pode escutar o apito da Maria Fumaça e da Fábrica de Tecidos, ainda temos o privilégio de sermos embalados pelo repicar dos sinos das igrejas nas manhãs de domingo.

Não podemos esquecer também que somente no interior é que, muitas vezes, aparece um blog tipo esse do Pitomba que, administrado por dois conterrâneos “apusentados”, insiste em ficar postando fotos da terrinha e a contar causos e “bubiças” dos bons tempos. Além, é claro, de raros momentos como esse captado na foto acima, de uma inusitada introspecção e troca de olhares entre nosso parceiro e mestre das trilhas de bike e dos mistérios, com um poste. 
   
Pra terminar, assim como cada um de vocês deverá ter um monte de situações interessantes pra contar, reconheço o que sempre representará pra todos nós os grandes centros.  Quem sabe então, um pouquinho lá, um pouquinho cá? Pelo visto, o segredo é manter um pé na PEDRA e outro no ASFALTO.


Crônica e foto: Serjão Missiaggia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL