Triste,
leio nesta sexta-feira, a notícia da morte do Gilson Duro. A imagem dele, mais
de cinquenta anos pra lá, e 65 quilômetros pra cá, ainda é muito clara na minha
mente: o ônibus do pai do Silveleno chegando na Rodoviária, e o Gilson, com
aqueles óculos escuros de sempre e sua tradicional carroça, recolhendo as malas
dos passageiros para entregar nas casas das pessoas.
Chego à janela e, de frente para a paisagem fria e urbana de hoje, vejo aquelas cenas
todas do passado. Afinal, não será isso a vida? Uma sucessão de cenas passadas
em nossa janela? Será que tudo não se resume a uma série de paisagens que vamos
curtindo e colecionando e, eventualmente, dizendo aos outros que as nossas,
sim, são as mais belas?
No tempo
do Gilson jovem maleiro, diziam pra mim que era para eu estudar para
ter sucesso. Sucesso era uma coisa assim do tipo ter carro, uma bela casa,
dinheiro no banco e ser feliz. Mas, isso era um objetivo para DEPOIS que eu
estudasse. Eu vinha da escola e atravessava a rua ali, em frente à Assembleia
de Deus. Na esquina de cá, via o Gilson, deitado na carroça, tirando um
cochilo. Pensava: ele não tem casa, nem carro, nem parece ter dinheiro; será
que é infeliz? De repente, ele acordava, olhava pra mim (era irmão de armas do
meu pai, o que fazia dele meu tio de armas) e dizia:
- Oi,
minino, feliz natal procê! – e ria. Definitivamente, era feliz.
Hoje, as
nossas “janelas” transformaram-se nestas telas de computador na qual estamos
proseando aqui. No entanto, as coisas não mudaram muito. E sempre um achando
que a dele é melhor, que a do outro é pior. Mas, o que é mais grave, querendo
mudar as imagens das janelas dos outros.
O maleiro
se foi, mas nós – os malas – continuamos por aqui. Nos achando. Vai com Deus,
Gilson!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://caricatusfalador.blogspot.com.br/
Belo texto!
ResponderExcluirÉ desse jeitinho mesmo! Bravo Gilson duro!!
ResponderExcluir