quarta-feira, 3 de junho de 2015

UM MOMENTO ESQUECIDO NO TEMPO


Pegando uma carona na aproximação do 10º Nepopó Festivao (que acontecerá de 4 a 7 de junho), e por ter acompanhado, na Semana Santa, a bela encenação da morte de Jesus Cristo, pelo grupo de teatro Novos Horizontes, comandado por nosso amigo Ney Fabiano de Morais e sua equipe, lembrei-me de outro fenômeno teatral que, mesmo genuinamente sanjoanense e de beleza rara, acabou esquecido no tempo.

Estou me referindo à peça de teatro DONA XEPA, que aconteceu em 1968, logo após a não menos sensacional apresentação de PLUFT O FANTASMINHA, também encenada pela mesma trupe. Foram momentos de pura magia e emoção, que ficarão guardados para sempre em nossas memórias. Não tenho duvida de ter sido aí o nascimento dessa FORTE VOCAÇÃO teatral que tem hoje nossa cidade.

Assim me narrou o cunhado Hélcio Velasco por e-mail:

“Lembro-me de que, na época, eu estava no Tiro de Guerra, e, nos dias que antecederam a estreia, nós havíamos feito faixas e pintado as ruas de propaganda da peça. Descendo do Estande de Tiros no jipe do Sargento, ele comentou:
- Essa tal de dona Xepa nem chegou à cidade e já tá emporcalhando as ruas. O que vai ser quando ela chegar?
As propagandas eram algo mais ou menos assim: ‘DONA XEPA VEM AI’ ‘ELA ESTÁ CHEGANDO! AGUARDEM!’
O Sargento não sabia que se tratava de peça de teatro. Depois que estreou, ele chegou pra mim e cobrou de não ter lhe falado que trabalhava na peça, e que eu o havia deixado passar por ‘idiota’. Naquele dia, o jipe tava cheio de ’Cabos’. Todo mundo segurou o riso e ninguém dedurou. Curtimos muito com a cara dele, como desforra do que ele fazia com a gente. KKKK”

Dona Xepa, peça de Pedro Bloch, uma comédia dividida em três atos, teve como produtor Ramon Ferreira e Terezinha. Direção de Dona Glorinha Torres tendo, na cenografia, Elano Pinto e Aparecida. A sonoplastia ficou a cargo de Goinha (naquele tempo era um pequeno aparelho de som), e quem escolheu as músicas foi a própria Dona Glorinha Torres que, por sinal, ajudava em todos os ensaios.
Ramon escreveu a Pedro Bloch pedindo licença dos direitos autorais. Foram feitas três apresentações no antigo Cine Rádio, assistidas por, aproximadamente 2.000 pessoas.

- Dona Xepa: mulher do povo, 50 anos e magnificamente interpretado por Maria das Graças Missiaggia (Mika);
- Rosália, filha de dona Xepa e namorada de Manfredo, interpretada por Maria Helena Gomes;
- Edson, filho da dona Xepa, 26 anos: Hélcio Velasco;
- Hilda, vizinha e namorada de Edson, 20 anos: Ana Maria Martins;
- Ângelo Fragalanza, um velho italiano, vizinho de Xepa, foi interpretado por um seminarista que estava em São João na época, e que acompanhava o grupo de jovens da Igreja Matriz, de nome Guimarães;
- Guiomar, uma pequena menina que entrava toda hora na casa de dona Xepa e pedia para telefonar, foi interpretada pela saudosa Selminha Sarmento Verardo;
- Camila, amiga de Xepa, melhor dizendo, sombra e eco, idade indefinida: Terezinha; 
- José, filho de Ângelo Fragalanza. 27 anos: Zé Heleno Barroso;
- Professor, um velhinho especializado em física, 60 anos: Jorge Laurindo;
- Manfredo, namorado de Rosália, diplomata em início de carreira, 32 anos, interpretado por Ramon.
Interessante lembrar que, na época, Pedro Bloch enviou um livro autografado para o Ramon.

Então, já que o assunto hoje é teatro, irei parodiar meus amigos Everson Resende e Márcio Sabones, conclamando todos vocês a prestigiarem este grande evento cultural na arte de representar: o 10º NEPOPÓ FESTIVAO, que acontecerá na terrinha nos dias 4 a 7 de junho, no Centro Cultural.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : acervo do autor

8 comentários:

  1. Foi a primeira peça de teatro que assisti e hoje tenho certeza que o sucesso era devido ao “quilates “da equipe. DORINHA

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    1. Muito boa a comparação, Dorinha, porque "quilates" são medidas de peso para diamantes e pureza para o ouro. E talvez a grandiosidade de "Dona Xepa" tenha sido essa mistura de talentos preciosos ainda em estado bruto (lapidados pela Dona Glorinha) e a pureza dos estudantes querendo se manifestar. isso é sucesso!

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  2. De fato, o sucesso foi muito grande. Na época ficamos muito felizes por sentir que o povo gostou mesmo. Você esqueceu-se de uma peça que também apresentamos com direção de dona Glorinha novamente e que também muito agradou: " O boi do burro no caminho de Belém " de Maria Clara Machado. Eu fiz o Burro e quem fez o Boi foi nossa saudosa e querida Lucimar Albuquerque. Quanto ao Pluft, quem nos dirigiu foi a professora Maria do Rosário Knop.

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    1. Mika, não sei se você teve a oportunidade de ler os comentários da postagem no Facebook, mas inúmeras pessoas se lembraram, e a "Dona Xepa" ficou impressa na consciência emocional (se é que isso existe) das pessoas, e muita gente resolveu, assistindo à peça de vocês, que também queria fazer teatro em São João.

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  3. Essa informação é muito preciosa, sobretudo para nós que não tivemos a chance de saber quem foi a D. Glorinha. Muitos nem sabem da existência dela para a cultura de SJN e de tantos outros nomes. Precisamos conhecer mais nossa história.
    Uma coisa que sempre me chamou a atenção em SJN é o fato de ir ao teatro e, de repente, ver no palco uma pessoa que jamais imaginaria um dia ver na pele de um personagem. E atuando bem. SJN é uma terra de artistas, de gente que se envolve com arte por amor, seja no carnaval, no teatro, nas artes plásticas, na música... Hoje com o festival a cidade parece começar a retomar o fôlego para ocupar mais os palcos. Tomara.

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    1. Marcus, a Dona Glorinha era uma pessoa fantástica. Enquanto todos os professores do Ginásio eram enérgicos, ela era energética: chegava nas aulas e, encarando um bando de marmanjos, com aquele complexo de superioridade que é dado aos adolescentes, falava lá frente (sem subir naquele tablado reservado aos mestres): "Meninos, resposta!" e nos corrigia. Como diretora, apesar se ser uma senhora idosa, representava exatamente como queria a cena, pulava, jogava-se no chão e rolava. Levantava-se meio cansada e dizia: "não se preocupem, eu faço yoga".

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  4. "O teatro é o último reduto onde o ser humano pode se reconhecer humano."
    (Fátima Ortiz)

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    1. Obrigado, Sylvio, e tem esta aqui também do (já) saudoso Abu: "Britar pedras é pior do que fazer teatro. Então eu quis faze teatro porque é mais fácil pra mim porque eu não sei britar pedras".

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