Sei que,
para muitos, isto deve parecer uma besteira, mas, para mim, domingo é um dia
sagrado. Quando eu era criança, era o dia de irmos à Missa das Crianças, com o
Padre Jacy, na Igreja do Rosário. Depois, o tempo passou, o padre casou, mas
guardo a manhã de domingo como um momento especial para curtir a família,
cochilar até mais tarde ou, simplesmente, nada fazer.
Por isso,
não é sem uma certa irritação que vou atender ao interfone que, também
religiosamente, costuma tocar por volta das nove horas. E não dá outra: ou é
alguma seita evangélica querendo me salvar pela palavra, ou são alguns jovens
do grupo espírita querendo me salvar pela caridade.
Entre o
impulso de ser cordial (e ficar ouvindo aquele lero-lero na minha sagrada manhã
de domingo) ou ser grosso (e ficar sentindo culpa o resto do dia), resolvo ser
assertivo: pessoas, por favor, eu NÃO quero ser salvo!
Mas,
parece que não adianta. Nos dias atuais, o que mais tem por aí são salvadores.
Um grupo me convida para ser salvo do pecado, outro para ser salvo dos adoradores
de imagens, outro (acreditem se quiser) do comunismo, e até o flanelinha quer
salvar meu carro de ser vandalizado (por ele mesmo).
E no Facebook
a coisa não é diferente: dizem que só Jesus salva, que só a humildade salva,
que só o amor salva e que só uma dieta rica em fibras salva.
Que
ninguém venha me salvar quando eu gritar, mas, SOCORRO!!!
Gente, me
salvem dos salvadores, me protejam das fórmulas mágicas de salvação, me guardem
das instituições que, por módica quantia (ou nem tanto) me levam para a
salvação eterna.
Será que
ninguém consegue entender que, mais que ser salvo, o que eu quero mesmo é ser
LIVRE?
Livre do
proselitismo, da conversa fiada, do moralismo fácil, dos bons conselhos, dos
psicologismos, dos achismos e das declarações oficiais.
Quando eu
era criança, eu ouvia o padre mas jogava pedra. Agora que estou velho não quero
mais jogar pedra (em ninguém), mas também não quero ouvir o padre. Não quero
manchar a virtude, mas também não quero trair o desejo. Não vou abrir minha
porta aos demônios, mas, certamente, não vou atender a campainha insistente, e
chata, dos anjos.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Billy Hunt, disponível em http://lokotopia.com.br/retratos-de-pessoas-gritando-por-billy-hunt/
Aqui em nosso apartamento tínhamos o mesmo problema de perturbações desnecessárias nas manhãs de domingo. A solução foi simples: passamos a tirar o fone do interfone quando vamos deitar no sábado à noite e só o recolocamos no aparelho no domingo quando estamos com vontade.
ResponderExcluirNossas manhãs de domingo foram salvas! ALELUIA!
PS: Raciocínio perfeito e ótima escolha nos termos. Parabéns pelo ótimo e lúcido texto!
Se o problema se restringisse aos domingos de manhã, estava bom, Sylvio. É que os "salvadores" são muitos, e não têm educação. Lembra do caso do escoteiro que obrigou a velhinha a atravessar a rua (e ela não queria)? Pois é, sem contar os salvadores da pátria. Cruz credo!
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