Aos
domingos, logo pela manhã, escutávamos o sermão da montanha. Não, não somos tão
velhos assim, embora alguns colegas afirmem que o Nilson Baptista era primo em
primeiro grau do João Batista, aquele!
Meninos,
não conseguíamos tirar os olhos do padre Oswaldo que explicava toda aquela
coisa de ser humilde e ir para o céu. Descíamos o Largo da Matriz ali pelo lado
da casa dos Pulier, e gritávamos uns para os outros:
- Eu sou
mais humilde que você!
- Não, eu
é que sou!
E assim,
naquela algazarra infantil, deixávamos felizes os nossos pais, quando, na
verdade, tratava-se de uma corrida para o céu.
O tempo
passou, deixamos de acreditar no céu, e, após um breve período acreditando em
discos voadores, passamos a acreditar em médicos (algumas meninas, nossas
ex-coleguinhas, em cremes rejuvenescedores).
Uma coisa,
no entanto, ainda não me sai da cabeça, e acho que também de muitos dos meus
contemporâneos, que é a história dos humildes herdarem a terra como herança. Isso
fez um estrago danado conosco, pois, pensando que ser humilde é mesma coisa que
ser modesto, passamos a adotar uma postura de ter vergonha de nos destacar, ou
de mostrar os próprios talentos.
Imaginem
o Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro, voltando para a sua Bauru e,
ao ser questionado sobre o seu feito histórico, respondesse:
- Foi
nada não, gente, só uma viagenzinha ali mesmo.
Ser rico,
então, dentro da mesma lógica, seria o pior dos sofrimentos. Acho que é reflexo
daquela história do camelo passar no fundo de uma agulha, uma coisa meio psicodélica.
Tanto que, quando o bilionário (agora apenas milionário) Eike Batista começou
sua queda, muita gente comemorou, dizendo:
- Agora,
ele vai se transformar numa pessoa melhor. Santa inveja!
O fato é
que o ensinamento cristão tem muitas riquezas, isso eu não louco de negar. No entanto,
a interpretação literal, quase psicótica, dos conteúdos bíblicos podem muitas
vezes causar sérios problemas, quando confrontados com a realidade do mundo
atual.
E isso
vale para todo o tipo de fundamentalismo. Seja o que critica as pessoas por
praticarem atos diferentes daqueles catalogados por seus livros “sagrados”,
seja o que faz as pessoas crerem que são indignas, insuficientes e pecadoras.
Se há um
deus, ele é pai, ou mãe, e, se assim for, faço questão de ser rico, e mostrar a
minha riqueza: “mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo”. Palavras
salvadoras de Walter Franco.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://espiritualidadeparatodos.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html
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