Ouvi essa
frase aí, dita pelo meu Gerente de Relacionamento, enquanto examinava uma
melhor taxa de juros para um empréstimo. Antigamente, ele (não esse novinho aí)
orientava os meus investimentos, hoje os aposentados só falam em empréstimos!
Pois bem,
ao falar alguma coisa sobre amor a não sei o quê, ele lascou esta:
- O amor
não é lá essas coisas!
Dita por
moço bem jovem, menos de trinta anos talvez, a frase me assustou porque sempre
fui ensinado que amor era tudo: vida é amor, Deus é amor, amor ao trabalho,
amor à família, amor à pátria. Mas, por trás da telinha de seu monitor de LED,
ele começou seu discurso:
- “Veja
bem, meu senhor, no seu tempo talvez o amor tivesse alguma significação, pois,
como as mulheres não podiam corresponder completamente aos desejos masculinos,
o sujeito ficava apaixonado, não porque o amor fosse sublime e coisa e tal, mas
por causa da falta.
Aí, as
pessoas se casavam, o que eu acho normal para “aquela” época (me senti com uns
duzentos anos!), pois, naquele tempo, as pessoas morriam aos quarenta e cinco,
ou cinquenta anos. Então, não era amor, pois as pessoas viviam juntas, no
máximo, uns quinze anos.
Eu, por
exemplo, não me apaixono nunca. E sabe por quê? Por que não suporto essa coisa
de apego. Se você se apaixona, você vive aquela pessoa vinte e quatro horas por
dia. O senhor acha que eu tenho tempo com esta minha carteira de clientes e com
as metas que eles colocam?
Além
disso, se você está apaixonado, você acaba sofrendo as dores do outro: a mulher
fica com cólicas, você se preocupa, tem que telefonar. E se tiver filhos então?
Como é que eu vou conciliar os cuidados com uma criança e meu trabalho, minha
pós-graduação, pilates, squash e o happy
hour da sexta-feira, que é o único momento da semana em que eu me divirto?
Por isso,
quando eu quero ficar com uma garota (veja bem, estou falando só de sexo),
passeio pelos bares: elas estão lá, aos montes, ávidas por um encontro. Aí é só
dar uma saída, e soltar os bichos. Isso é que é gostoso! Quem ama, tem a ilusão
de que um dia vai reproduzir aquela sensação maravilhosa do primeiro encontro.
Não vai. Jamais!”
Gente,
confesso que fiquei meio jururu, adjetivo que só reforçou minha idade avançada.
Não fiz o tal empréstimo, mas saí dali com a sensação de que eu estava bem
desatualizado. Aquilo que, antigamente, chamávamos de “canalha” está
supernamoda.
Quanto a
mim, que ainda sou chegado a um vinil, prefiro mais amar, mesmo sofrendo, mesmo
sendo esnobado, ou mesmo, como diz o Frejat, desejando todo dia a mesma mulher.
Às vezes, a exceção acontece. Aí, é só beijar na boca!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : frame do filme “Amor sem fim – 2014”
Não é bem uma defesa do amor, mas no caso em questão acredito que o jovem mancebo acredite que o amor não é lá essas coisas porque a vida dele parece não ser lá essas coisas!
ResponderExcluirO cara afirma que o único momento da semana em que se diverte é no fim da sexta-feira... fica difícil alimentar sentimentos (e)ternos numa rotina de pressões e conveniências como a dele. Talvez seja uma ingenuidade ou idealização da minha parte, mas sem investir em ações mais afetuosas e generosas, nos aproximamos muito dos animais que vivem para objetivos pragmáticos e imediatos, como arranjar comida, lugar para descansar e um sexo casual e oportuno. Não é das piores vidas, mas para mim não está entre as melhores. O EGOísmo da satisfação apenas das próprias necessidades tende, em longo prazo, a formar pessoas inúteis até para si mesmas, quanto mais para os outros! Daí para a depressão ou psicopatia é logo ali na esquina...
Enfim... se sofremos por amor somos taxados de bestas, se não sofremos por amor somos taxados de bostas! É questão de escolher qual letra se encaixa melhor no seu espírito.
Amigo Sylvio, concordamos com você em gênero, número e grau. Mas você acredita que, embora a crônica tenha sido escrita num tom debochado e acintosamente canalha, tivemos muitas curtidas no Facebook e alguns comentários concordando francamente com o tal gerente aí?
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