quarta-feira, 24 de junho de 2015

CENÁRIO


Tenho vivido com a nítida sensação de que tudo vai, aos poucos, se desfazendo. Como se um imenso e mágico cenário, que teria sido montado no palco de nossa infância e juventude, fosse aos poucos sendo desmontado.

Desmontado a cada ÁRVORE que morre ou que é sacrificada.
Desmontado quando um ENTE querido vai embora.
Desmontado a cada NASCENTE que seca.
Desmontado no puro AR ou no precioso SILÊNCIO que em poluição se transforma.

Desmontado a cada CASARÃO que tomba ou que simplesmente é jogado ao chão.
Desmontado a cada AMIGO que parte, levando de nós um pedaçinho da canção.           

E tudo vai se desfazendo.
As luzes se apagando,
As cortinas se fechando,
Até que um belo dia
Teremos que, também, sair de cena.

Crônica e foto: Serjão Missiaggia

4 comentários:

  1. Boa e filosófica crônica. A não perenidade é uma terrível angústia humana, indecifrável.

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  2. Postagem perfeita!
    Esta triste, bela e verdadeira realidade foi muito bem descrita pelo sucinto e preciso texto, e o Serjão ainda emendou com esta foto que, por si só, também já passa o mesmo recado: pessoas idosas vendo casas idosas sendo descartadas, antevendo a iminente derrubada para o esquecimento.
    A história se forma através de sucessivas camadas de pós (do depois, dos escombros e dos ossos). Implacável realidade...

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    1. Obrigado, Sylvio, também achamos que a presença daquelas duas senhoras, angustiadas, refletem bem a angústia nossa de cada dia, pois o fato da impermanência chegar para todos não nos exime da obrigação cívica de preservar e valorizar a identidade local e a memória urbana. Como diz o Jaime Lerner, que já esteve ensinando em Juiz de Fora (mas parece que ninguém aprendeu): "cidade não problema; cidade é solução".

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    2. Obrigado, Sylvio, também achamos que a presença daquelas duas senhoras, angustiadas, refletem bem a angústia nossa de cada dia, pois o fato da impermanência chegar para todos não nos exime da obrigação cívica de preservar e valorizar a identidade local e a memória urbana. Como diz o Jaime Lerner, que já esteve ensinando em Juiz de Fora (mas parece que ninguém aprendeu): "cidade não problema; cidade é solução".

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