Passadas
as festas, a alegria e a euforia, já em 2015 temos uma conta vencendo e, ainda
pisando em confetes e copos descartáveis, contemplamos um céu de anil, como se
dizia, mas, afinal, perguntam os meus filhos, o que é essa porcaria de anil?
Normalmente,
tenho a mania de ficar analisando as coisas e as pessoas, comparando,
avaliando. Ou seja, sou um chato! Outro chato, este do século XVII, analisando
a busca incessante pela alegria, afirmava: “não é por julgarmos uma coisa boa
que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos,
mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la,
por desejá-la, que a julgamos boa”.
Aí, a
gente percebe que tudo aquilo que fizemos na virada do ano para atrair
prosperidade foi uma tremenda besteira, ou, colocado de outra forma, não
comemos lentilha porque dinheiro é uma coisa muito boa, mas, na verdade, grande
parte do valor do dinheiro é determinado porque comemos lentilha no réveillon. Pelo menos, assim pensava
Espinoza, um dos pais da Ética.
Aí, um
dos convidados da festa pode deixar o seu tablet (sim, porque, nestes tempos, para
cada cem pessoas dançando, há pelo menos umas setenta conectadas em seus
gadgets eletrônicos), e então questionar o filósofo:
- Você
não está entendendo, véi, dinheiro é bom porque é naturalmente bom, e não
porque eu acho que ele é bom.
Pois é,
eu também pensava assim, que as coisas eram “naturalmente” boas. Por exemplo,
desejo determinada mulher porque ela é muito gata, supergata. Mas, segundo meu
guru holandês, ela só é supergata porque eu a desejo.
Essa
Ética, matéria aliás da qual estamos carentes até a medula, é uma ética da
ALEGRIA, porque é a busca da alegria que nos impulsiona, esse é o único
sentimento que Espinoza reconhece. Ah, mas e a tristeza? É a falta de alegria! E
o amor? É a alegria direcionada a uma causa exterior. E o ódio, tão presente em
nosso mundo? É a falta de alegria também direcionada a uma causa exterior.
O fato é
que, mesmo no século XXI, as pessoas são treinadas para acreditar que a razão
está no controle; afinal, temos que controlar nossas paixões. Besteira! Aquela
bobagem que você falou na noite passada, e que atribuiu aos efeitos da tacinha
de champanha que tomou, na verdade é a sua potência de agir atuando em nome da
alegria.
Assim, se
tudo se resume à alegria, a questão de viver bem resume-se à retirada dos
acessórios que normalmente associamos ao afeto, tipo “falta de”, “e se não” ou “e
depois”, e vivenciar, saborear, apreciar e cultivar... a ALEGRIA! Palavra do
Pitomba BLOG, ALEGRIA de ser sanjoanense.
Ah, e,
para os mais jovens, anil é um corante azul.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Alissa, disponível em http://www.deviantart.com/art/Eternal-Blue-Sky-242891465
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