sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

AS CHAVES DA FELICIDADE


Tendo dedicado as últimas postagens à alegria e à felicidade, dizendo como NÃO ser feliz em 2015, e também sobre a ética da alegria, é inevitável a pergunta que recebi via e-mail anteontem: “então, COMO ser feliz?”.

Tenho fixado o olhar sobre esse assunto porque parece que a questão, em nosso século, tornou-se a coisa mais importante da vida. Se, antigamente, preocupávamos em salvar a nossa alma, hoje parece que o lance é ser feliz, e não apenas ser feliz agora, mas ser feliz o tempo todo ou, pelo menos, na maior parte do tempo.

O problema é que a noção de felicidade para uma pessoa que nasceu na década de 50 é bem diferente da noção de felicidade para uma pessoa que nasceu no século XXI. No nosso tempo de meninos, a felicidade era muito ligada à religião: segundo Cristo, seriam felizes os humildes, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, e outros tantos desafortunados.

Fazendo um corte semelhante àquele do filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, vemos hoje que a felicidade está muito ligada a alguns estágios que o filósofo dinamarquês Kierkgaard descreveu no século XIX. Primeiramente, o estágio estético: é feliz quem faz o que quiser, transa com quem quiser, compra tudo o que quiser, noção muito bem capturada pelos profissionais de mídia modernos que resumem tudo isso ao poder econômico e financeiro. O slogan para este estágio seria aquele do filme “curtindo a vida adoidado”.

O segundo estágio, chamado ético, é o sujeito bom, mas não naturalmente bom, e sim porque uma pessoa conformada ao condicionamento social. Dessa forma, um exemplo de pessoa eticamente feliz seria o ecologista politicamente correto. Ou seja, pessoas que acreditam que, usando a razão, levam um tipo de vida corretíssimo, que deve ser imitado por todos. É a felicidade encontrada nos livros de autoajuda.

O terceiro estágio é o religioso. Este se expressa de dois modos: no primeiro deles, a pessoa segue a religião de forma automática, conectada ao seu livro sagrado, feliz porque, diz ela, só aquele caminho conduz a Deus, mais ou menos como aprendemos sobre os fariseus antigamente, ou como procedem alguns crentes fundamentalistas no mundo de hoje (que até matam em nome de Deus).

O outro modo do estágio religioso é a desistência, ou o salto no escuro, como diz o filósofo. É um momento em que, mais do que sacrificar tudo em nome de Deus (como o fez Abraão), o homem reconhece-se dentro da angústia existencial: um ser finito, perdido, que só faz o que é possível, e que jamais será absolutamente feliz, nem obtendo todos os objetos do seu desejo e nem seguindo todas as dicas do Facebook.

Termino aqui e prometo não voltar tão cedo a esse tema da felicidade, pois, quanto mais estudo a matéria, mais descubro maneiras diferentes de ser infeliz.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : frame do filme Batman, o Cavaleiro das Trevas

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