Ainda
lembrando alguns fatos pitorescos do Stidum. Certa vez meu amigo Beto, numa
daquelas inocentes brincadeiras de criança, cismou em andar de olhos fechados
em toda a extensão de sua beirada. O negócio, segundo ele, seria tentar
mostrar, claro, além de coragem, que isso seria possível. Não foi! Por sorte, veio a acontecer uma queda sem
nenhum arranhão, principalmente, por ter caído centímetros de uma enorme pedra.
Numa
época em que ainda não existia um dos muros laterais, gostávamos de ficar
descendo e escorregando pelo barranco até próximo a água. Fazíamos isso com
bastante maestria, mas sempre sentados. Até, que um belo dia, adivinhe quem?
Isso mesmo, meu amigo Beto, resolvendo inovar, começou descer de barriga. Minha mãe havia acabado de passar sobre a pequenina
ponte que ligava uma rua a outra e ter me alertado sobre o perigo de cair
naquela água. E não deu outra, quando, na tentativa de imitar meu amigo, e
ignorando totalmente o alerta de minha mãe, lá fui eu tranquilamente deslizando
de barriga barranco abaixo. E não é que teria sido uma descida tranquila e
emocionante se não fosse pelo simples fato de ter me esquecido de perguntar ao
saudoso amigo como faria pra frear? Fui
de cara naquela água barrenta e imunda pra descobrir, meses depois, diante de
fortes dores abdominais, que havia pescado algumas amebas.
Hoje,
observando como uma grande parcela da população fica a tratar impunemente seus
rios e mananciais, poluindo-os com os mais diversos tipo de lixo, é que lembrei
um fato que aconteceu comigo e o inesquecível Bolote. Foi certa vez, quando me
encontrava sozinho na beirada do córrego e brincava de jogar pedras na água pra
fazer patinho. Lembram dessa brincadeira? Então! No exato momento em que eu
estava arremessando uma dessas pedras, para minha infelicidade, também estava o
Bolote, acabando de passar com sua famosa charrete. Ao ver-me atirando a pedra,
puxou com toda força a rédea, pulou da charrete e vindo “furioso” pro meu lado
foi logo dizendo: “Ah, se eu te pego, italiano! Dá no pé e pare de sujar córrego!”
Só sei que saí a duzentos por hora e entrei rapidinho dentro de casa. Moral de história:
nunca mais joguei uma única pedra no córrego.
Sempre tive pavor de aranhas e, para meu desespero, era
muito comum depararmos com alguma subindo o muro. Certa vez, enquanto da
varanda observava o movimento da rua, vi quando duas senhoras, vindo andando em
sua beirada, começaram a pular e a gritar pedindo para que eu fosse matar uma
dessas. Fingi não escutar!!!
Acho que todos já ouviram falar da enchente de 1960, que,
segundo historiadores, teria sido em função de uma tromba d’água que havia
caído na nascente do Stidum. A forte correnteza veio arrastando tudo, inclusive
algumas toras de uma marcenaria que existia ali naquele lava-jato na Rua
Joaquim Murtinho. As tais toras, entre umas e outras coisas, ajudaram a entupir
a passagem da água sobre as pontes e, saindo do leito, foram parar frente à
casa de nosso irmão pitombense Suveleno. Graças a um de seus ônibus (Expresso
Picorone), que estava estacionado em frente, nada aconteceu, pois serviu de
barreira pra que elas não atingissem a casa.
Naquele córrego já caiu também um Aero Willis, que, segundo
consta, teria perdido o freio enquanto descia a Guarda-Mor Furtado, sendo que o
mesmo aconteceu com uma bicicleta. Dizem que teve uma pessoa que pulou certa
vez ali para suicidar, mas, sinceramente, não me lembro.
Para terminar, confesso que dois fenômenos muito me
intrigaram ao longo desses anos: um deles foi o fato de ver tantos casais de
namorados ali sentados e nunca terem se desequilibrado, e o outro foi o
mistério pelo qual dezenas e dezenas de bebuns passaram naquela beirada, e, cambaleando
daqui, cambaleando dali, jamais terem caído lá dentro.
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : acervo do autor
DIANTE DESSE CALOR INSURPOTAVEL EM QUE ESTAMOS VIVENDO, NÃO PODEMOS DEIXAR DE OBSERVAR NESTA IMAGEM, A INTERESSANTE CULTURA DE REPLANTIO DE ARVORES QUE EXISTIA ANTES NA CIDADE. ATUALMENTE ESTAMOS COLHENDO OS BENEFICIOS DE SUAS SOMBRAS, ENQUANTO INFELIZMENTE, VEMOS QUE HOJE, MUITAS SÃO PERDIDAS E SEM NENHUMA REPOSIÇÃO.
ResponderExcluirIsso mesmo, o que a gente percebe é que, antes de todo o discurso ecológico, existiam pessoas como o Bolote, que, logo após esse causo, tornou-se prefeito municipal, que possuíam um senso prático, uma inteligência natural, que os levava a preservar e conservar o patrimônio municipal que, antes da era dos descartáveis, era constituído de: natureza, espaço público agradável e respeito às leis.
ExcluirFala serjao vendo essa foto eu me lembrei quando era pequeno tinha medo de passar por ai e cair no corrego kk
ResponderExcluirOi, Marcos, acho difícil alguém que tenha passado pela nossa Zeca Henriques "fora de hora" e não tenha sentido um friozinho na espinha.
ExcluirJá brinquei muito nestes barrancos do Estidum. Engraçado é que só depois de ler sua crônica é que me lembrei deste nome. Lembro-me muito bem de alguns destes acontecimentos.
ResponderExcluirMika