O enredo
é nosso velho conhecido: estudante passando o Carnaval em São João Nepomuceno
vê, entre as passistas de uma escola de samba, uma menina maravilhosa, que,
definitivamente, é ELA! É a mulher com a qual quero viver a vida inteira.
Namoram, casam-se, e, algum tempo mais tarde, o cara diz que não aguenta mais
conviver com a esposa que, na sexta-feira, dia de jogo do seu time (que está na
segundona), quer porque quer ir no pagode.
Não
precisa nem dizer que há duas alternativas: na primeira, ele fica assistindo ao
jogo e a mulher passa a noite inteira resmungando e enchendo o saco; na
segunda, ela bate o pé e ele resolve ir, mas fica o tempo chamando pra ir
embora, reclamando que o short dela está muito curto, ou seja, esses
terrorismos matrimoniais que todos conhecem muito bem.
Eu falei
sobre um encontro no Carnaval apenas porque estamos no clima da folia, mas
poderia ter ocorrido na rua, no supermercado, num enterro, ou outro lugar
qualquer, mas o que acho mais curioso é que há uma tendência, que podemos
considerar meio louca, de conhecer a pessoa fazendo uma determinada coisa e
querer passar o resto da vida com ele (ou ela) fazendo uma coisa oposta. A moça
se apaixona por um pastor, mas, casada, vive reclamando com as amigas que ele
não a leva nunca no funk!
Ora,
minha gente, o problema aí começa no apaixonamento: na maioria das vezes,
apaixonamo-nos, não pela pessoa como ela é, mas sim por uma imagem idealizada
daquela pessoa. O cara bebe pra caramba, mas a mulher casa achando que, só
porque casou, o sujeito vai virar um abstêmio. A mulher é uma consumidora
compulsiva, e o futuro marido acredita, piamente, que ela vai se tornar um
modelo de controle financeiro. Isso sem falar nos violentos que, espera-se, vão
se converter em amáveis e dóceis companheiros.
Tenho uma
ex-colega que sabia muito bem o que queria do casamento e, por isso, conheceu o
seu amado marido num clube de swing. O pior é que não deu certo: continuam
casados, mas, segundo ela, ele tem uma “peladinha” quatro noites por semana, o
que a incomoda muito, mas, vamos combinar, não me surpreende nem um pouco.
Resumindo,
o que parece ser uma forma infalível de fracassar num relacionamento, seja ele
qual for, é alimentar expectativas em relação à outra pessoa. Toda expectativa,
por mais econômica que seja, tem, em si, três defeitos básicos: é ignorante, é
impotente e é absolutamente casta.
Ignorante
porque a pessoa desejante não tem a menor ideia que o outro realmente é;
impotente porque, mesmo descobrindo o que o outro é, não há nada a se fazer
para mudá-lo (ou mudá-la), e, finalmente, o que é muito ruim para qualquer
relacionamento, totalmente casta, pois, por ser expectativa, é desejo, e, como
se sabe, só desejamos aquilo que nos falta, ou seja, ficamos só na vontade.
Então,
aproveitando o clima carnavalesco que, juridicamente, nunca esteve tão quente
em São João, vamos descendo a passarela do samba com nosso filósofo maior Zeca
Pagodinho: “deixa a vida me levar...”
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Langley
Photography, disponível em http://opoderdoblush.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html
Seus textos são muito bons. Gosto de suas idéias.
ResponderExcluirMika
Obrigado, Mika! Sinto-me honrado, mas não tenha expectativas com os futuros textos, senão estraga. Abração.
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