Foi deparando-me
recentemente no Facebook com uma postagem feita por Jaqueline Girardi Reis, que
vinha acompanhada por essa relíquia de foto acima, dos anos setenta, que eu, na
condição de morador há mais de cinquenta anos do local, resolvi contar alguns
causos pitorescos ali acontecidos. E o primeiro deles é mais ou menos assim:
Meu
pai, já bem doente no final de mil novecentos e oitenta e oito, resolveu
construir uma escada de madeira pra mim. Por sinal, uma escada incrivelmente
pesada para que eu pudesse, segundo meu velho, alcançar alguns pontos de
difícil acesso de nossa centenária casa. Jamais imaginaria e, com certeza, meu
pai também não, que aquela escada seria tão útil no futuro.
Já
no ano seguinte, mal haviam se passado duas semanas de seu falecimento, quando
um corre-corre na rua, em direção ao córrego, nos dizia que algo muito estranho
teria acontecido. E não deu outra.
Ao
chegar à sua beirada, visualizei de imediato que um carro havia caído lá dentro,
e que, tombado e posicionado de lado com
o som ainda ligado, parecia estar com seu condutor preso ou desmaiado em seu
interior.
Meio
que desesperado diante da dificuldade dos mais de cinco metros que nos separavam
do veículo, a única coisa que me veio à cabeça naquele momento foi buscar a tal
escada que meu saudoso pai havia me deixado de herança. Coincidentemente, seu
comprimento correspondia mais ou menos com a altura do muro, ou seja, em torno
de seis metros.
E
assim fui eu, desajeitado pela rua com aquele imenso peso nos ombros, tentar
posicionar da melhor maneira a referida escada, o mais próximo possível do
veiculo. Tudo embalado com boas músicas
vinda do interior do carro que, com seu som a toda altura, ainda permanecia ligado.
Literalmente, um resgate com fundo musical.
O pior
foi que eu não conseguia de forma alguma, devido à altura do muro, dispor a
escada no leito do córrego, pois, infelizmente, ela era um pouco menor que a
altura do muro. Como única alternativa, na tentativa de ajeitá-la com mais
segurança, procurei com a ajuda de alguns voluntários que se prontificaram a
firmar minhas pernas, debruçar sobre aqueles murinhos jogando metade de meu
corpo para baixo. Esta seria a única maneira de conseguir alcançar e continuar
a firmar a escada.
Naquele
instante, sem que ninguém estivesse esperando (principalmente eu), eis que me
sai de dentro do carro, com todo gás, nosso amigo acidentado. Para meu espanto
e desespero, em função de não ter ainda acabado de acomodar a escada, ele
começou a subir os degraus como um relâmpago. Enquanto isso, com a ajuda da
galera da superfície, que continuava agarrada em minhas pernas, eu tentava a
todo custo firmar a escada, que, ainda perigosamente reta paralela ao muro,
ficava insistindo em querer tombar para o lado oposto. Foi quando percebi que algo acabara de passar
como foguete por cima de mim e que, usando meu corpo como degrau, somente não
me jogou lá dentro devido à ajuda daqueles que permaneciam segurando minhas pernas.Do contrário, meu amigo, eu
teria também mergulhado com escada e
tudo pra dentro do STIDUM!
Por
ironia do destino, apenas duas semanas depois daquele ocorrido, começou a obra
de cobertura do córrego, hoje Pracinha do Chafariz. Fazê o quê, né!
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : Face da Jaqueline Girardi Reis
Parabéns à equipe do Pitomba por mais esta conquista.Abraços.
ResponderExcluir100.000 acessos não é pra qualquer um não! Só mesmo vocês!
ResponderExcluirObrigado, amigo Nilson, tanto pelo elogio, quanto pelas histórias que dividimos juntos para, hoje, relembrá-las.
ExcluirEste caso é muito bom.
ResponderExcluirBendita , ou melhor, bem feita, esta escada do pai. Sô Tunin não era fácil. Saudades dele
Sô Tunin era da estirpe de homens de bem, como o Vô Cavalheiro, Manoel Florindo, Sylvio Rigolon e tantos outros que citamos aqui como se fossem personagens de um livro do Garcia Márquez, mas que foram reais, inimitáveis, imprescindíveis.
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