sexta-feira, 15 de novembro de 2013

ESTE CHORO


Tenho em mim este choro
Que é um grito calado
Que é um nó no peito
Que é um jeito de dizer não
Que não sai.

Tenho em mim esta dor
Que é uma dor tão imensa
Uma soma de fazeres incompletos
De gozos inconclusos
E realizações não desejadas.

Tenho bem dentro de mim
Esta página quase virada
De vida controlada asséptica
De morte preparada e quitada
Antecipadamente.

Mas, da profecia autenticada
Em cartórios sagrados,
Me brota este prurido
De um amor proibido
Irrompe esta delícia
De saciar as sedes
E, sem saber, eu grito!

Meu grito é um urro e é um não
No grito, choro, e no choro explodo
O meu corpo exsuda lava
e o sexo drena o veneno
de recalques recalcitrantes.
A calma aparente que se segue
É só cansaço...

Poesia: Jorge Marin

Foto: Natural Thinker, disponível em http://www.flickr.com/photos/crazybynature/2189387168/

7 comentários:

  1. Amigo Jorge,

    Ao ler seu poema, principalmente a parte final "A calma aparente que se segue / É só cansaço...", não sei por qual motivo Lacaniano, já que vc fala do orgasmo, e não do choro, me lembrei da música do grande Cartola, "Disfarça e chora":

    "Chora, disfarça e chora
    Aproveita a voz do lamento
    Que já vem a aurora".

    Deve ser reflexo de noites, não vazias, que me acompanham cheias de idéias de arte; mas, "sem o cansaço da calma aparente que se segue".

    Preciso voltar a ser paciente de psicanálise: muito bonito seu poema (eu choro sempre, principalmente de saudade de minha queria mãe, que se tornou luz).

    Parabéns e meu fraterno abraço de companheiros no Choro.

    Brandão
    www.cesarbrandao.com

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    1. Obrigado, amigo Brandão,

      Receber afeto por um poema não tem preço; é ótimo. E conseguir chorar também é uma dádiva, como explica o próprio Cartola:
      "Todo o pranto tem hora
      E eu vejo seu pranto cair
      No momento mais certo."

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  2. Grande poema!

    Gostei principalmente da parte:
    "Tenho bem dentro de mim
    Esta página quase virada
    De vida controlada asséptica
    De morte preparada e quitada
    Antecipadamente."

    Ultimamente tenho a sensação de que, com o tempo, as vontades, atitudes e roupas da maioria das pessoas converge para um mesmo lugar comum, morno, óbvio e estereotipado.
    Se nos filmes de terror existem os mortos-vivos, nas ruas tenho visto muitos vivos-mortos. Não é uma crítica – pois me incluo entre eles – é apenas uma constatação que me incomoda e espero estar enganado.

    Viver só para quitar a morte me parece tão besta quanto comum...

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    1. Obrigado, Sylvio

      durante muitos anos, estudei tudo sobre a vida após a morte; agora tenho pesquisado, analisado e, graças a Deus, vivido a vida ANTES da morte!

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  3. Jorge,
    Desculpe-me a ousadia, mas da profecia autenticada em cartórios sagrados pode brotar esperança. Não deixe que ela se perca.
    Abraço carinhoso

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    1. Obrigado, acho que a palavra chave desse poema é, realmente, "esperança". E esta vem dos cartórios sagrados (se fosse só destes seria "fé") e de todos os outros lugares. A esperança se faz presente justamente em tempos de desespero ou incerteza como os que vivemos atualmente. A esperança abre nossa cabeça, dispara o coração, apaga os medos e abre nossos olhos para um futuro que pode ser melhor, sempre.

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    2. É isso aí, Jorge.
      Um abraço carinhoso

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