quarta-feira, 6 de março de 2013

PROCURA-SE HOMEM



Nos tempos do Ginásio do Sôbi, havia um texto que líamos no primeiro ano, com a Dona Glorinha Torres e que nos fazia rir muito.  Ela, toda enérgica e enfática, lia, nos ensinando a entonação e as pausas: “Apaguem a lanterna de Diógenes, achei um homem!”
Imaginem essa frase numa sala com um bando de marmanjos repetentes e buscando qualquer motivo para rir.  Cessadas as risadas, ela nos olhava com a cara mais séria do mundo e dizia: “gente, isso é uma coisa muito séria”.

Quarenta e cinco anos depois, consigo ter a real dimensão do que queria dizer a nossa pequena-grande mestra.  O mundo se tornou um emaranhado de nações, tribos, coligações e multifamílias, mas aquela ideia do filósofo grego de sair, ao sol do meio-dia, procurando um HOMEM com uma lanterna me parece atualíssima e, para falar a verdade, impossível.

Uai, pergunta o leitor, então você próprio não se considera um homem de bem como buscava o tal filósofo cínico?  Pois é, por mais que eu tente, não consigo (por uma questão de sobrevivência?), ter uma estatura ética igual, por exemplo, à do “seu” Irênio.  Lembro-me das reuniões dos vicentinos: ali, com suas roupas simples, posturas humildes, sentavam-se alguns dos homens cuja conduta pessoal, seriedade e espiritualidade, eu JAMAIS veria em nenhum local que eu frequentei no futuro.

Além do meu pai, havia outros que caberiam nos critérios de Diógenes dos quais outros dois eu faço questão de citar: o meu padrinho Manoel Florindo, escudeiro do Padre Trajano, e o sr. João Mariano de Lucas.  Esses homens habitam o meu imaginário com a certeza de que é possível ser humilde como no evangelho de Mateus, sem ser o inocente útil da cartilha marxista.

De volta ao século XXI, deparo-me com o conclave que deverá escolher o futuro papa, ou o “vigário de Cristo” como dizia o Papa João XXIII.  Os cardeais não estão nem conseguindo marcar a data do início da tal reunião, face às profundas divergências entre as diversas correntes ideológicas ou, como afirma Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo, face à “perda de fiéis, escândalos sexuais e financeiros”?

De uma forma ou de outra, naquela tarde de 1968, após a aula, descemos em algazarra e, em frente ao Trombeteiros, onde nos dispersávamos, rolou uma briga.  No meio do bate-boca, o Luiz Carlos Bertolini, o saudoso Mosquinha, perguntou para um de nossos colegas:
- “Você não é homem não, rapaz?”
A resposta ecoa até hoje nos meus ouvidos, e acho que vai até Roma:
- “Igual ao que a Dona Glorinha e aquele amigo dela queriam, vai ser muito difícil!”

Crônica: Jorge Marin
Foto: disponível em https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-v9TXXtGfm6rgExdu7o-2Ka6xqveGM6ErYMGVBQJn2IFSOuPUnj3eJW8exHzy1Wl2K0b5QIxGEk9oHTOWvaa88FZ91yaC8VoBHoaIKQQoavjFYNceHdz2DBkXQ9o3lC1xS4x2xo0X38Y/s1600/Diogenes_looking_for_a_man_-_attributed_to_JHW_Tischbein.jpg 

2 comentários:

  1. No que diz respeito ao ser humano, a qualidade anda inversamente proporcional à quantidade. Me lembra outro termo filosófico para descrever boa parte dos seres viventes: “besta-fera”.
    Difícil manter uma postura digna quando tanta mediocridade triunfa o redor, por isso também são poucas as pessoas que conheço que se enquadram como uma lembrança de conduta.

    Quanto às dificuldades da Igreja Católica, são previsíveis. Com o passar do tempo, a igreja tornou-se uma instituição cada vez mais material e menos espiritual, então aumenta o nível interno de burocracia e vaidade. Os cardeais se ocupam com muita política e pouca pregação, encerrando-se em resistência nas muralhas do Vaticano enquanto o mundo muda rapidamente ao redor.
    Torço para que a escolha do novo papa foque mais na religiosidade universal do que a religião institucional, mas pelo que ando acompanhando pela TV parece-me que será perdida outra oportunidade para tornar a Igreja Católica mais próxima do reino dos homens, afastando os mesmos paulatinamente do Reino de Deus.

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    1. Como você (pré)viu, Sylvio,foi mais uma oportunidade perdida!

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