“Todos
os seres desejam ser felizes e evitar os sofrimentos”, diz o Dalai Lama.
Indo,
de manhã cedo, para a padaria, encontro um conhecido executivo: em trajes de
jogging, vem caminhando, de forma saudável, pela manhã de um aparente
outono. De repente, toca um celular, e o
atleta tira do short o inseparável aparelho e começa um ruidoso bate-papo. Como estamos indo em direções contrárias, a
última coisa que escuto é uma frase assim: “olha, se ele não mandar a TED, eu
não vou poder encaminhar o pedido”...
Logo em
frente, no passeio ao lado de uma loja de vestidos de noiva, dois homens dormem
tranquilamente em caixas de papelão. Um
deles levanta a cabeça: “quantas horas, chefe?”. Respondo que são oito horas e ele diz para o
outro: “ainda é muito cedo”, e vira para o canto para continuar seu sono.
É compreensível
que qualquer pessoa, a essa altura da postagem, iria imaginar que eu direi que
aqueles dois mendigos sem-teto são felizes e que o executivo que atendeu o
celular, não.
ERRADO! Eu jamais faria apologia da miséria, ou da
riqueza, como sinônimos de felicidade.
Entendo que a felicidade vem de dentro pra fora, enquanto essas
materialidades que, faço questão de dizer, são ÓTIMAS, fazem o caminho inverso.
Mas,
afinal de contas, o que é essa tal FELICIDADE?
Se eu casasse com a filha da minha lavadeira, diz Fernando Pessoa,
talvez fosse feliz. Se não casasse,
talvez também fosse. O fato é que
ESTABELECER CONDIÇÕES para ser feliz, do tipo, quando eu ganhar na mega-sena,
ou quando eu for nomeado diretor, ou quando eu casar com a Gisele, são,
certamente, uma GARANTIA segura de infelicidade.
E por
quê? Primeiramente, para pegar o exemplo
da Gisele, duas coisas vão acontecer: ou eu não vou casar NUNCA com a Gisele; e
aí vou ser INFELIZ. Ou eu vou casar com
a Gisele mas, com menos de uma semana, vou descobrir que a Gisele não é NADA
daquilo que eu imaginava; e aí vou ser INFELIZ.
Então,
amigos, vamos recapitular que o Dalai Lama afirma que TODOS os seres desejam
ser felizes. No entanto, DESEJO em si
não garante NADA! O desejo de felicidade
é uma referência, uma motivação para viver a vida, um convite à sabedoria. Uma certeza de que multiplicar a felicidade,
esta sim, pode ser uma meta de vida.
Por
outro lado, sonhar com coisas que não desejamos ou, pior, obter coisas que
desejamos baseados em estímulos externos, é transformar a felicidade em
hipocrisia. É falhar como pessoa e
mentir para o espelho.
Crônica:
Jorge Marin
Foto:
Rebecca A. Jones, disponível em http://browse.deviantart.com/art/happy-55911204
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