quarta-feira, 27 de março de 2013

PARECE QUE FOI ONTEM...



Outro dia mesmo, estávamos indo para o Democráticos ensaiar: a peça teatral (A Bruxinha que era Boa de Maria Clara Machado) iria estrear e o nosso diretor – Fernando Leiva – estava ansioso. 

Era costume, na época, fazermos comentários sobre a política e cumpríamos aquele ritual: o que será que o Presidente Médici iria falar à nação no próximo dia 31?  Será que o Delfim Neto (Ministro da Fazenda) vai se dar bem em Washington?  E o Allende, vai divulgar o seu gabinete no Chile?  E o Perón?  Apesar de tudo, a grande notícia, divulgada com estardalhaço pelo Jornal Nacional, tinha sido o nascimento do segundo filho do jogador Rivelino.

Bellini, nosso sonoplasta (êta palavra bonita), rodava umas fitas cassete do Focus e do Quinteto Violado, separando faixas que seriam usadas na peça.  Recusava-se a entrar no assunto, segundo ele muito chato.  O que eu queria mesmo é poder ir no show do James Brown em São Paulo! – dizia.

Será que éramos ingênuos?  Ou aqueles tempos é que eram ingênuos?  Vendo tudo aquilo, de hoje, é como se vivêssemos uma vida em preto e branco, silenciosa, romântica e estranhamente ordeira.

As meninas chegaram (as bruxas), ensaiamos, rimos muito e corremos pra casa: era dia da entrega do Oscar e não queríamos perder nenhum detalhe.  Na entrega do prêmio de melhor ator, duas surpresas: primeira, o prêmio foi para Marlon Brando pela atuação no Poderoso Chefão.  Bom, isso não foi exatamente uma surpresa, pois Marlon Brando sempre foi magnífico.  A surpresa mesmo foi quando, ao invés do ator, entrou no palco uma índia chamada Pena Pequena e... recusou o Oscar em nome do premiado.

Intelectuais e revolucionários, ainda vibraríamos pela entrega de melhor filme estrangeiro a Luis Buñuel por O Discreto Charme da Burguesia.

Depois dormimos em paz.  O ar era limpo, o céu estava próximo.  Dali a alguns minutos, o calendário iria mudar para 28 de março de 1973, uma quarta-feira...

Crônica: Jorge Marin
Foto: Cartaz da peça 

Um comentário:

BRIGADU, GENTE!

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