Outro dia mesmo, estávamos indo para o Democráticos
ensaiar: a peça teatral (A Bruxinha que era Boa de Maria Clara Machado) iria
estrear e o nosso diretor – Fernando Leiva – estava ansioso.
Era costume, na época, fazermos comentários sobre a
política e cumpríamos aquele ritual: o que será que o Presidente Médici iria
falar à nação no próximo dia 31? Será
que o Delfim Neto (Ministro da Fazenda) vai se dar bem em Washington? E o Allende, vai divulgar o seu gabinete no Chile? E o Perón?
Apesar de tudo, a grande notícia, divulgada com estardalhaço pelo Jornal
Nacional, tinha sido o nascimento do segundo filho do jogador Rivelino.
Bellini, nosso sonoplasta (êta palavra bonita), rodava
umas fitas cassete do Focus e do Quinteto Violado, separando faixas que seriam
usadas na peça. Recusava-se a entrar no
assunto, segundo ele muito chato. O que
eu queria mesmo é poder ir no show do James Brown em São Paulo! – dizia.
Será que éramos ingênuos?
Ou aqueles tempos é que eram ingênuos?
Vendo tudo aquilo, de hoje, é como se vivêssemos uma vida em preto e
branco, silenciosa, romântica e estranhamente ordeira.
As meninas chegaram (as bruxas), ensaiamos, rimos muito e
corremos pra casa: era dia da entrega do Oscar e não queríamos perder nenhum
detalhe. Na entrega do prêmio de melhor
ator, duas surpresas: primeira, o prêmio foi para Marlon Brando pela atuação no
Poderoso Chefão. Bom, isso não foi
exatamente uma surpresa, pois Marlon Brando sempre foi magnífico. A surpresa mesmo foi quando, ao invés do
ator, entrou no palco uma índia chamada Pena Pequena e... recusou o Oscar em
nome do premiado.
Intelectuais e revolucionários, ainda vibraríamos pela
entrega de melhor filme estrangeiro a Luis Buñuel por O Discreto Charme da
Burguesia.
Depois dormimos em paz.
O ar era limpo, o céu estava próximo.
Dali a alguns minutos, o calendário iria mudar para 28 de março de 1973,
uma quarta-feira...
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Cartaz da peça
Fico admirado com a memória de voces!!!!!
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