Falava
da conversa fiada. E em como, de
repente, um assunto idiota, sem brilho, sem lastro e sem beira nenhuma,
encorpava-se e facebookava-se como facebookam-se os cães, as orações e os
torsos nus dos adolescentes.
Naquela
confusão de fotos e memes, parecia que havia conteúdo, mas eram apenas
películas, calígulas e gárgulas com finalidade específica de vender algum tipo
de prazer massificado.
O homem
ficou em frente ao monitor, parado, envelhecido. Assim, do nada, a trepadeira de um vaso
próximo teimou (atraveu-se?) a ir subindo pelo corpo já alienado pelos byte-mes
frenéticos. Tentava mover a ponta do
dedo em direção a um antigo mouse analógico, mas tudo que conseguia era um
suspiro.
Aquilo
que fora outrora uma pessoa já não ousava pensar. Alienara-se no conforto fraterno das
correntes utilitárias, mergulhara sem “esc” em scripts previsíveis. Autodeletara-se de uma realidade
incompreensível em off.
Tinha
pensamentos coloridos de uma banda de rock, de uma mulher de véu e de um natal
feliz, mas já não conseguia distinguir se eram memórias randômicas ou pop-ups recorrentes. Na tela azulada, nada era diferente: a
sucessão de formas obedecia a padrões intencionais de simulacros de beleza.
De
pronto, um relâmpago deve ter acontecido lá fora: a luz apagou, o mouse caiu e
partiu-se ao meio. Num último esforço, o
homem ergueu-se com dificuldade, saiu arrastando os vegetais, chegou à janela, abriu-a
depois de anos de reclusão e, sem pensar, pulou...
Ventava
muito. Era o décimo andar e ainda chovia
bastante.
Conto
curto: Jorge Marin
Foto: disponível
em http://www.aanblog.com/facebook-addicted-old-man.html
.
Meu amigo Jorge... belezura de conto! Tô bobo!
ResponderExcluirLer seu texto me causou a sensação de como deve ser quando você está falando algo e inesperadamente leva um tapa na cara, aí fica alguns segundos num torpor estático, tentando entender onde está e o que aconteceu.
Algumas pessoas estão deixando de ser animais e se tornando vegetais? Cruzar certas fronteiras é perigoso, porque talvez não tenhamos como voltar.
Sua viagem psico-virtual está perigosamente possível e assustadoramente próxima.
Para a situação de fragmentação aqui exposta, o que posso dizer que está cada vez mais prejudicial a perda de conexão, com a Net e com o mundo.
Brigadu, Sylvio. É engraçado que todo o tempo eu tinha em mente aquela imagem do início do filme The Wall, do Pink Floyd. Se houvesse Facebook na época, quem sabe o muro nem teria sido derrubado.
ExcluirFica aqui o registro tardio: que imagem significante a deste homem...
ResponderExcluirEstamos evoluindo ou regredindo?