(Digital art por Ella Shartiel)
Com certeza, o telefone celular veio, em muito, aproximar aqueles que estão longe, mas estaria eu mentindo se omitisse não achar também que, em certas ocasiões, veio a distanciar aqueles que estão próximos.
Pra começo de conversa, o celular não é, na verdade, um telefone, mas um rádio. Vamos combinar que é um rádio extremamente sofisticado, mas não passa de um rádio. Ambos, telefone e rádio, foram inventados no final do século XIX, por Graham Bell em 1876, e por Tesla em 1880. Na escola, aprendemos que o inventor do rádio foi Marconi, mas este foi quem apresentou oficialmente a invenção em 1894). Como se vê, demorou um pouco, para que as tecnologias se misturassem, gerando o nosso corriqueiro celular.
E não é que eu tenha alguma coisa contra esta revolução tecnológica tão útil, mas... é desagradável depararmos com um grande amigo, que não vemos há anos, e sermos privados de um simples aceno. Possivelmente, um bate-papo, com alguém que poderia até mesmo estar do outro lado do planeta, nos colocaria também, naquele momento, a centenas de quilômetros um do outro. Já observaram que, de uns tempos para cá, aqueles que se encontram próximos, ficaram relegados ao segundo plano?
Dia desses, entrei com certa pressa no açougue. Coincidentemente, nesta hora, encontravam-se no recinto, apenas eu e um balconista. Após fazer meu pedido, não deu outra: tocou o celular do referido atendente. Pra variar, tive que ficar, mais ou menos, cinco minutos em silêncio, esperando apenas que o tal sujeito terminasse sua conversa no celular. Digo calado porque, do contrário, só me restaria ficar conversando com aquele montão de carne. Haja paciência nestas horas! Um pouquinho a mais e o açougue teria perdido um freguês.
Não tardará o dia em que teremos que fazer uma chamada, para conversar com amigos que se encontram do outro lado da rua. Por sinal, coisa parecida veio a acontecer justamente com um de meus irmãos. Tudo teria ocorrido após frustradas tentativas de se chegar à mesa de um estabelecimento bancário para conversar com o gerente. Na verdade, o que realmente acontecia era que, sempre que ele se aproximava e ia chegando sua vez, era interrompido por diversas ligações que o tal gerente recebia. Cansado então, das inúmeras e frustradas tentativas de se aproximar, e após conseguir o número do celular da referida pessoa, posicionou-se na poltrona que ficava bem em frente à mesa do concorrido gerente e, antes que chegasse sua vez, foi logo telefonando. O episódio, que transcorreu como uma brincadeira entre amigos, que se conheciam há tempos, ilustra bem a concorrência entre a demanda pessoal, ao vivo, e as demandas via celular. Para se ter uma ideia da disparidade, basta voltar ao conceito inicial de que o celular é um rádio. Pois bem, se fosse um walkie-talkie, ele teria um único canal; se fosse um rádio faixa do cidadão, teria 40 canais, mas um celular simples pode se comunicar em quase 1.700 canais.
Até em videogame e máquina fotográfica, esta invenção sedutora foi transformada. Além de armazenar contatos, listar tarefas, agendar compromissos, gravar lembretes, fazer cálculos matemáticos, enviar e receber e-mails, acessar a Internet nos mais variados canais, mandar torpedos, além de interagir com outros badulaques, do tipo PDAs, MP3 players e receptores de GPS. Ufa, com tudo isto, é muito comum encontrarmos com adolescentes flutuando pela rua, caminhando de olhar grudado na telinha. Já vi gente caindo em buraco, trombando em poste e até mesmo entrando em um orelhão. A alienação é total! Verdadeiras cascas ambulantes, desfilando pelas ruas, enquanto suas consciências vão viajando pelo ar.
NA PRÓXIMA SEMANA: o celular e as situações constrangedoras, na missa, no trânsito e até no velório. Tudo em 3G, TDMA, CDMA e GSM, seja lá o que for isso. Aguardem, porque o desconhecimento é nóis, sem fronteiras.
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)
Realmente tenho que concordar, pois é a mais pura verdade. Se pensarmos bem vai chegar o momento em que ao invés de marcamos um encontro com determinada pessoa teremos que reservar um horário pra se chamar no telefone. Lamentável!
ResponderExcluirConcordo plenamente com vcs.
ResponderExcluirJá aconteceu tbém, qdo andando pela rua alguem está passando conversando no celular e acho q está pessoa está dirigindo a conversa p/ mim e prontamente a respondo.
Literalmente já fiquei no vácuo por várias vezes....É um sacooooooooooooooooo
Interessante este fato que se passou no açougue, pois a pouco mais de uma semana um fato igual aconteceu comigo. Cheguei na farmácia de plantão em cima da hora de fechar e o balconista não parava de falar no celular. Ficamos um de frente pro outro como se eu nem estivesse ali. Pior que tive que aguardar este bate papo por quase dez minutos para depois ele me dizer que não tinha o meu remédio.
ResponderExcluirSó não saí antes porque era a única que ainda estava aberta.
Concordo em gênero, grau e número com você Serjão, mas eu gostaria mesmo é que TODOS(AS) AQUELES(AS) que postassem um comentário deixassem REGISTRADOS seus NOMES OU APELIDOS para que soubéssemos quem na verdade estaria a dizer algo ; muito está me parecendo com o celular pois a galera escreve, coloca ANÔNIMO ( ou seja - NINGUÉM) porque o cara solta aqui sua opinião e ninguém tem a menor idéia de quem estaria por trás do comentário. Se fosse na época da ditadura todo mundo iria reclamar que não se podia aparecer como "AGORA PODE" aparecer e falar NINGUÉM quer assinar. Parece que o Serjão e o Jorge ficam conversando com NINGUÉM , sim porque amigo anônimo???? EU não tenho nem conheço nenhum!!!
ResponderExcluirFica pior do que celular, é ô num é?
Vamos assinar o apelido, o nome no coments!!!!
Um abraço a todos,
MAZOLA.