quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A BUSCA DA FELICIDADE

(Digital art por Paul Duffield)

Estou escrevendo para o blog, quando um grupo de religiosos toca a campainha: pedem para deixar um folheto. Vou buscar, mais tarde, a correspondência, e lá está ele. O título é sugestivo: “Deus acabará com todo o sofrimento!” Logo numa das primeiras páginas, ilustrada com desenhos de paisagens semelhantes à Ilha da Fantasia, podemos ler vários textos bíblicos mostrando que, num futuro próximo, não haverá mais guerras, as pessoas amadas voltarão a viver, haverá alimentos para todos, não haverá mais doenças, as pessoas más desaparecerão e a justiça prevalecerá.
Leio, com o devido respeito, todas estas previsões maravilhosas, e fico me perguntando se, automaticamente, o fim do sofrimento significa a aquisição imediata da felicidade. Acho curioso que, enquanto uma religião prega o fim do sofrimento, a nossa cultura laica apregoa a busca da felicidade, a qualquer custo, o gozo imediato, e a busca de mais e mais felicidade.
Então fico dividido: o que é melhor? A cessação do sofrimento ou a busca incessante da felicidade? De um lado, o fim do sofrimento, que depende da realização de tudo aquilo que se vê no Apocalipse e que não se sabe, ao certo, quando ocorrerá. De outro, um Freud pessimista afirmando que é praticamente impossível conceber um ser humano plenamente feliz.
Na dúvida, acompanhamos a maioria e saímos correndo em busca da felicidade. Podemos começar, comprando algum livro. Se visitarmos uma livraria, real ou virtual, podemos notar que milhares de livros tratam deste assunto, sem contar os pensamentos, os hábitos, as simpatias e as receitas para ser feliz.
Outra forma, também muito popular, são as drogas, tanto as lícitas, como as ilícitas. Aliás, prefiro falar em legais e ilegais; legais aí significando aquelas que podem ser vendidas livremente. Entre estas, as bebidas alcoólicas, que estão em toda parte, desde aniversários, casamentos e batizados, até reuniões sociais e de negócios. Não se concebe um encontro com um amigo, ou um namoro, ou um churrasco, sem a inseparável cervejinha.
Não tenho nada contra. Estou apenas viajando pelas drogas legais. Continuando, temos, talvez em uma escala maior, os antidepressivos, e os tranqüilizantes. Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar alguma família, na qual algum membro não utilize, um antidepressivo do tipo fluoxetina (Prozac) para combater a depressão, e um outro para poder dormir, normalmente clonazepam (Rivotril) ou cloxazolam (Olcadil). O engraçado é que as pessoas, mulheres em sua maioria, parecem se orgulhar de tomar alguns destes remédios. Chegam até a brigar com seus psiquiatras, pedindo a prescrição, baseadas em conselhos de amigas.
Chegamos, então, às chamadas drogas ilegais, um comércio que movimenta quase 10% da economia mundial, o mesmo que os combustíveis. Parece que, com a evolução dos costumes, mudou também o conceito de felicidade, pois, nas décadas de 60 e 70, a droga mais consumida era a maconha que, além de gerar uma dependência mais leve que o álcool, induz a um estado de tranquilidade. A partir dos anos 80 e até os dias atuais, a droga mais popular passou a ser a cocaína, tanto na forma pura, como impura (crack), que podem gerar uma síndrome de abstinência, e induzir à euforia. Podemos dizer que, antes dos anos 80, a felicidade era buscada nos alucinógenos e, depois, passou a ser procurada nos estimulantes, dos quais, aliás, faz parte também a nicotina, hoje um tanto fora de moda.
Mas, seja qual for o tipo de felicidade gerada por qualquer uma destas substâncias, é bom que se diga que esta felicidade fica na substância. Quando a pessoa interrompe o consumo, seja a droga legal ou ilegal, o efeito também cessa. E aí? Quem sabe, algum livro novo livro de autoajuda. Ou aquele folheto. Se bem que, vamos combinar, religião definitivamente não é a busca da felicidade! Se dissermos que é a busca da verdade, talvez estejamos no caminho.
NA PRÓXIMA SEMANA: o papel do cérebro na busca da felicidade.

(Crônica: Jorge Marin)

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