quinta-feira, 25 de novembro de 2010
FILMES QUE EU NÃO VI NO CINE BRASIL
Quando o assunto é cinema, às vezes me pego naquele dilema típico de todos os cinéfilos, e sempre lembrado nos comentários do meu amigo Brandão, presença constante em nossos fóruns: estamos falando de um filme-filme ou de um filme-arte? É só entretenimento ou aquela “razão esclarecedora” de que falam os filósofos socialistas? Pois eu resolvi pular esta parte, e usar como álibi o gênio de Luis Buñuel, segundo o qual, “a hipnose cinematográfica, leve e inconsciente, deve-se, sem dúvida, à obscuridade da sala, mas também às mudanças de planos, de luzes e aos movimentos da câmera, que enfraquecem a inteligência crítica do espectador e exercem sobre ele uma espécie de fascinação e de violação.”
Assim, já previamente hipnotizado fui para a fila, repleta de adolescentes, comprar meu ingresso para o megahit “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1”. Na fila, fui acompanhado dos meus filhos: o mais velho, que acompanha Potter desde os 18 anos; e o mais jovem, que nasceu junto com o “Cálice de Fogo”, de 2005. Ali mesmo já foi possível perceber a extensão do fenômeno potteriano: uma garota disse que estava comprando ingressos para as duas sessões, para a dublada e para a legendada, nesta para perceber a obra cinematográfica como ela foi feita e, na dublada, simplesmente para não perder nenhum movimento de Daniel Radcliffe, “nenhuma piscada de olho”, segundo ela.
Por este movimento, já se percebe que, mais do que um filme, Harry Potter passou a ser um ritual obrigatório para crianças e adolescentes, um fenômeno de massa que tem o mérito de trazer para o nosso dia a dia, através da escrita de J. K. Rowling, as histórias mitológicas, os seres fabulosos e os banidos elementais, todos distantes dos personagens-máquinas então presentes nas mídias infantis.
É esta mistura, que tantos tentaram, mas que, estranhamente deu certo para esta inglesa, escrevendo em bares enquanto a filha dormia, morando de favor, enquanto corria o divórcio contra o marido português. Enfim, “Vingardium Leviosa”, diz o feitiço inventado por ela, leve e para a cima!
Por todos estes motivos, era de se esperar que o filme atraísse uma multidão de apaixonados e nostálgicos. Quem assiste Harry Potter pela primeira vez neste “Relíquias da Morte; Parte 1”, certamente não vai conseguir entender o que se passa. O diretor David Yates, que também dirigiu o quinto e o sexto episódios, simplesmente capta a história e retrata o momento crucial para os três adolescentes protagonistas, que assumem a vida adulta e se afastam, literalmente, dos familiares. Ou seja, esta é a história de Harry, Ron e Hermione.
Quem leu o livro, sabe que seria impossível colocar todo aquele conteúdo – são 759 páginas – em apenas um filme. Desta forma, o episódio funciona como a primeira voz de um contraponto, em que o grand finale ocorrerá na segunda parte, da mesma forma que Matrix Reloaded ou As Duas Torres (do Senhor dos Anéis).
Neste filme, ou deveria dizer, penúltimo capítulo, o ambiente está particularmente sombrio. Não por acaso, a franquia buscou um diretor de fotografia excelente, o português Eduardo Serra, indicado para o Oscar pelo trabalho fantástico em “Moça com Brinco de Pérola”, em que teve a tarefa de representar os detalhes de luz e sombra da pintura de Vermeer. Aqui, a luz passa longe, e o Lorde das Trevas reina absoluto. Não tem mais a situação de conforto da Escola de Hogwarts, não tem, como foi dito, nem mamãe nem papai, nem Quadribol, nem gravatinhas vermelhas ou meias três quartos. Que me perdoem os que não viram “O Enigma do Príncipe”, mas Dumbledore foi assassinado, e os antigos protetores, o gigante Hagrid (Robbie Coltrane) e o professor Alastor Mad-Eye (Brendan Gleeson), embora ofereçam uma proteção aparentemente forte no início do filme, quando Harry tem de ser retirado da casa de seus tios, na Rua dos Alfeneiros, o que se vê é que os três amigos estão agora por sua própria conta e risco, contando, é claro, com as habilidades aprendidas na escola de magia (sobretudo por Hermione), mas tendo apenas um ao outro para confiar.
Aqui, surgem dois complicadores: primeiramente, uma coisa que é intrigante no livro: as pistas, deixadas por Dumbledore são tão obscuras que acabam sendo quase inúteis. Sabe-se que os místicos costumam falar e escrever em códigos compreensíveis apenas para os iniciados, mas, no presente caso, ninguém consegue entender absolutamente nada. Outro complicador, desta vez natural, é a sexualidade, que vem com a maturidade dos personagens. Afinal, e é grande questão das adolescentes, Hermione vai “ficar” com Harry ou com Ron?
Com esta importante questão, fecho a primeira parte desta crítica. Se a Warner retalhou o filme em duas partes, dou-me o direito de também criticar a primeira parte em duas. A segunda estará disponível no domingo à noite. Portanto, para proteger a todos contra a ameaça dos Dementadores, deixo-os protegidos: Expecto Patronum!
(Crítica – Jorge Marin)
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