quarta-feira, 6 de outubro de 2010

SEGUNDO TURNO: A REVOLTA DOS PALHAÇOS

(Brincadeira distribuída na Internet)

Quem leu o post da semana passada, e não acreditava que o palhaço ia chegar lá, quebrou a cara: o nobre Tiririca (agora a gente pode até falar o nome) superou a marca de 1.350.000 votos. Fenômeno só igualado anteriormente pelo famoso Enéias Carneiro (“meu nome é Eneias!”). Agora, como já era esperado, estão requerendo um teste para ver se o candidato eleito é ou não analfabeto. E eu fico pensando: como será este teste? Uma provinha de português? A tabuada de 8?
Se a prova a ser aplicada no Tiririca for minimamente difícil, periga que muitos dos parlamentares atualmente no poder, sejam reprovados, mesmo com os seus “diplomas” de curso superior. Segundo o dramaturgo austríaco Karl Kraus, que morreu em 1936, “o segredo do demagogo é se fazer passar por tão estúpido quanto sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.” Bem atual, não?
A corrida para o segundo turno já começou, e quem pensa que as palhaçadas já acabaram, continua errando, pois algumas manchetes já dão o tom do debate. Segundo vários veículos de comunicação, o PT descobriu que sua candidata foi mal nas eleições, entre outras coisas, por se declarar favorável a uma possível descriminalização do aborto no país. Resultado: Dilma vai se reposicionar e passar a fazer uma defesa ostensiva da vida.
Ou seja, a coisa funciona assim: um bando de gente ligado à candidatura Serra coleta declarações da petista afirmando ser favorável à legalização do aborto; depois junta tudo isto e distribui na Internet, nas mídias comprometidas com o tucanato (que são muitas) e, finalmente, nas igrejas cristãs. Depois disso, começa a caça às bruxas: as igrejas, até mesmo para esconder um pouco suas próprias mazelas internas, que todos conhecemos bem, iniciam uma cruzada contra a imoralidade, da mesma forma que condenam a pílula e os preservativos até hoje.
Mas uma coisa não é levada em consideração: há um contingente meio oculto, entre 729 mil a 1,25 milhão de mulheres que se submetem aqui no Brasil, anualmente, ao procedimento dito pecaminoso. Como a totalidade destes abortos são clandestinos, mais de duas centenas destas mulheres morre.
Eu fico pensando comigo uma questão, que deveria também incomodar aos coordenadores de campanha: será que estas mulheres que se submeteram à interrupção da gravidez votaria num candidato que prometesse a legalização do procedimento, ou, sei lá, até por culpa, votaria em quem continuasse a tapar o sol com a peneira, e fingir que o aborto não existe no país?
Faço esta pergunta, já que é a única que interessa aos políticos, pois o cerne da questão, que é a saúde pública, permanece intocado, como se as mulheres que decidiram interromper a gravidez merecessem, de fato, morrer. Justiça seja feita: a candidata Dilma Roussef declarou à revista Isto É que considera injusto “deixar para a população de baixa renda os métodos terríveis, como aquelas agulhas de tricô compridas, o uso de chás absurdos, enquanto as mulheres de renda mais alta recorrem a clínicas privadas para fazer.”
Acho tudo isto muito triste: agora, que a corrida presidencial chega na reta final, um assunto que envolve um grande conflito ético e moral passa a ser tratado como moeda de troca, ou seja, eu dou a vocês, religiosos, a certeza da condenação, e da danação, para aquelas milhares de mulheres imorais, e VOCÊS ME GARANTEM O VOTO DO SEU REBANHO!
Meu Deus, será que somos nós aqueles palhaços que criticamos?
Entendo que esta questão dolorosa, principalmente para as mulheres, deva ser encarada, discutida e decidida pela sociedade. Com calma, serenidade e objetividade. Sem falso moralismo e, principalmente, com a certeza que Deus é o tipo de pai que, se o filho, ou filha, lhe pedir uma peixe, jamais lhe dará uma cobra, ainda que este filho, ou filha, esteja em pecado.

(Crônica – Jorge Marin)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL