quinta-feira, 28 de outubro de 2010

FILMES QUE EU NÃO VI NO CINE BRASIL


Fui assistir Tropa de Elite 2 meio ressabiado: todo mundo fala de nazismo, violência excessiva e até mesmo um enfoque meio rambolesco para o herói Capitão Nascimento. Mas não é o que ocorre: após passar pelo tiroteio, percebo que, mais do que a taquicardia gerada pela ação, fica um nó na garganta, ou uma dor no estômago. Assim como acontece após levarmos uma bolada, ou um soco.
Acuados pela ameaça do crime iminente, e pela lama da corrupção generalizada (ainda mais agora, jogada pelos programas eleitorais, em nossos ventiladores), vamos nos tornando um bando de batmans enrustidos. Muitas vezes, alguém, em desespero, clama pela volta do regime militar, outros defendem a pena de morte. O fato é que adoramos estes programas sensacionalistas, em que um jornalista defende a lógica do BOPE de que “bandido bom é bandido morto”.
Mas, fazer o quê, somos pessoas de bem, e é dessa característica positiva nossa, que os perversos de toda ordem se aproveitam, para se infiltrar no tecido social, com um apetite jamais visto. Mas, no filme, podemos pegar carona no helicóptero do agora Tenente-Coronel Nascimento, e descarregar toda nossa fúria, e nossa metralhadora cheia de mágoas, no lombo dos supostos responsáveis pelos males de nossa sociedade.
Podemos acusar o Coronel Nascimento de ter um pensamento muito primário, com uma visão maniqueísta do mundo (do tipo nós somos do bem e eles do mal). Mas, se os próprios candidatos à Presidência da República agem desta forma, por que não um herói, ainda mais fictício? Desta vez, o diretor José Padilha, com o roteirista Bráulio Mantovani, constroem um personagem complexo, com qualidades e defeitos bem humanos e imprevisíveis. Nascimento não só explode em fúria como de costume, mas também vacila, ora segura o choro, ora chora e até reconhece sua burrice. Tem um código de ética e um sentimento moral únicos, vividos com um peso e uma dor tão intensos por Wagner Moura, que acreditamos realmente que o personagem envelheceu dez anos. Diferentemente do que ocorre na maioria dos filmes, a narração em off, feita pelo sombrio coronel, funciona muito bem, permitindo que viajemos pelos seus pensamentos radicais e primários, até que estes se confundam com os nossos próprios.
Ao contrário de nós, o Coronel Nascimento não apenas acredita na via da violência para solucionar o problema do crime organizado, como não hesita em utilizá-la até a morte do último marginal. O seu oposto no filme (e, para detonar o policial, marido de sua ex-mulher) é o ativista de direitos humanos, Fraga, muito bem interpretado por Irandhir Santos, que chega a arriscar a própria vida na cena inicial do filme, uma rebelião no presídio de Bangu 1. Os dois homens têm em comum, tanto a família, como a mesma visão idealista em relação ao combate ao crime, embora em direções opostas. Como vai se observar no final, ambos quebram a cara e percebem como a realidade pode ser mais cruel do que qualquer ideologia.
A citada rebelião no presídio, comandada pelo criminoso Beirada, vivido magistralmente pelo Seu Jorge, é o ponto de partida de toda a história, pois gera a exoneração do Coronel, mas, ao mesmo tempo, o transforma em herói perante a opinião pública, o que obriga o governador a nomeá-lo para o Serviço de Inteligência, dentro da Secretaria de Segurança Pública, de onde Nascimento mexe os pauzinhos para fortalecer o BOPE como nunca. Há um resultado esperado, a diminuição do crime organizado; e um resultado imprevisto, a formação de milícias pelo que foi chamado, na vida real, de banda podre da polícia.
Aos protagonistas, juntam-se personagens fictícios, mas totalmente verossímeis em nosso dia a dia: um governador preocupado apenas com sua reeleição, um secretário de governo que se promove às custas da máquina estadual e um apresentador de TV, que passa do popularesco dramático ao cômico (André Mattos, vivendo o apresentador e deputado corrupto Fortunato).
Esta sequência de Tropa de Elite é menos violenta do que a primeira em um aspecto, que é o da batalha corpo a corpo entre os bandidos e os “caveiras”. No entanto, quanto mais se eleva a percepção da corrupção, do morro para a cidade, e daí para o país, o que se tem é a violência real, de um sistema corrupto, assistido por um bando de expectadores que, tanto no filme como na vida real, nada fazemos.
Fica uma certeza: nossa crise ética e moral não será resolvida, nem por policiais assassinos, nem por ativistas de direitos humanos. Se os políticos, nos quais votamos nas últimas eleições, conseguirem chegar ao final de seus mandatos ainda com a “ficha limpa” pode ser um bom começo. Mas, será que alguém acredita nisto?
Pelo menos, o Coronel Nascimento, e os bandidos que ele persegue, a gente sabe de que lado estão.

(Crítica: Jorge Marin)

2 comentários:

  1. Muito bem Jorge!...Concordo plenamente com o que você escreveu.Um abraço do amigo Nilson Baptista.

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  2. Jorge!
    Você não só mandou muito bem no texto como também em seu desfecho ou seja, em seu resumo final. Estive "fora do ar" por uns tempos pois SERREI, literalmente, a ponta do meu dedo com a makita e só agora estou retornando, devagarinho,às atividades. Enviei-lhe, também hoje, um email, ok?
    abraço, Mazola

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