quarta-feira, 13 de outubro de 2010
AOS MESTRES, COM CARINHO
Caminhando pelas ruas vazias de Juiz de Fora, passo em frente a um telão, onde são transmitidas imagens do cenário nacional: o candidato à Presidência da República José Serra beija a imagem de Nossa Senhora Aparecida, enquanto Dilma Roussef abraça e beija um grupo de criancinhas em Brasília. Tudo isto me causa um certo mal-estar, mas percebo que política é mesmo um assunto para quem tem estômago forte.
Nossa Senhora Aparecida me lembra meu primeiro dia de aula no Ginásio do Sô Bi, quando fui abordado por uma senhora, de cabelos brancos, que me entregou uma pequena imagem daquela santa, e disse para mantê-la durante minha vida escolar, para que eu tivesse sucesso. Posso dizer, com certeza, que a santa foi uma das responsáveis pelo meu sucesso escolar. Mas, intercedendo aqui na Terra, não posso esquecer jamais as professoras, e os professores, que me conduziram no processo de aprendizagem.
É curioso que, muitas vezes, adolescentes, ríamos quando nos falavam da importância das professoras, principalmente das primárias. Hoje, no entanto, passados quase cinquenta anos do momento em que entrei, pela primeira vez, no Grupo Escolar Dona Judite Mendonça, digito aqui, como se estivesse preenchendo a minha antiga ficha escolar, o nome Renée Henriques Cruz, minha primeira professora.
Enérgica, ensinava, com segurança, uma turma de marmanjos, na qual fui parar por ter iniciado minha vida escolar diretamente no segundo ano. Com o passar do tempo, fui, com as primeiras avaliações, transferido para a classe de Dona Maria Ângela Ayupe Rezende Itaborahy (êta nome difícil de escrever pela primeira vez!).
Fiquei triste, porque Dona Renê tinha uma personalidade muito parecida com a minha mãe, o que me fazia sentir em casa. Mas, por outro lado, o contato com Dona Maria Ângela era uma experiência fascinante: primeiro, porque ela era muito bonita e muito chique; depois, porque alguns vizinhos eram da mesma turma. Dona Maria Ângela era um protótipo das mulheres atuais: ativa, independente, moderna e inteligente. E, para nossa sorte, foi também nossa professora no terceiro ano.
No quarto ano, Dona Maria Martha Pereira Camilo era uma mistura das minhas duas primeiras professoras: combinava disciplina com perfeição. Isto é, cobrava-nos trabalhos bem feitos e limpos e, ao mesmo tempo, hoje vejo que para nosso bem, uma postura ética e atitudes corretas.
No Ginásio do Sr. Ubi, tive a felicidade e a ventura (ou graça daquela Nossa Senhora Aparecida?), de ter mestres fantásticos. Primeiramente, a genialidade de Maria da Glória de Lima Torres, a Dona Glorinha, que, além de ser a responsável pela correção dos meus textos, foi minha primeira diretora de teatro. Outra personalidade inesquecível era a Dona Rizza Lamah, inteligentíssima, irônica e elétrica, deixava-nos atordoados com sua energia e rapidez de raciocínio.
Se Dona Rizza era pilhada, a paz e a calma vinham com Dona Cinila Valente dos Reis, que transformava a aula de Português num exercício estético, pois primava pela boa apresentação dos trabalhos e, coisa inexistente hoje, pelo discurso correto. Ainda no Ginásio, recordo, com admiração, do Professor Biel que, jovem ainda, nos deixou para lecionar Inglês no céu, e da inesquecível Dona Yveta que, com suas terríveis arguições, conseguia, a um só tempo, nos introduzir à ansiedade e à História do Brasil e do Mundo.
Naturalmente, tivemos também excelentes professores no Segundo Grau, mas é interessante como a lembrança dos mestres do ensino fundamental continua vívida em nossos corações e mentes.
Finalmente, de uma forma especial, a lembrança do nosso saudoso Ubi Barroso Silva, misto de professor, diretor, pai, educador e exemplo de vida. Como era o sentimento dominante naqueles “anos de chumbo”, confesso que sentíamos medo do Sôbi. Mas, estranhamente, era um medo bom: não era o medo de uma pessoa que poderia nos fazer mal, mas, pelo contrário, era o medo de ultrapassar um limite que não conhecíamos bem, mas o Sôbi conhecia. Ele sempre nos dizia que não “achava” nada (porque, segundo ele, “tinha um amigo que achou e não acharam mais ele”). E não achava mesmo, ele tinha certeza do caminho melhor, e da forma mais branda de nos transformar em cidadãos.
E cá estamos, cidadãos de um mundo globalizado, bombardeados pela torrente de informações que nos chegam a cada minuto. Cibernéticos, internautas, blogueiros, twitteiros, mas, sempre e sempre, eternamente gratos a estas pessoas. Como bem dizia a imortal Cora Coralina: “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
(Crônica: Jorge Marin)
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Sylvio disse:
ResponderExcluirBons tempos de bons professores(as) que formavam bons alunos (e cidadãos). Época em que educação e instrução andavam juntas. Hoje me parece que os pais querem, por preguiça ou incapacidade, “terceirizar” a educação como algo a ser aprendido na escola, esquecendo que educação se aprende em casa, pois a função da escola é transmitir instrução (ou nem isso atualmente). Professores como os citados aqui merecem mesmo ser chamados de “mestres” pois sua conduta pessoal e profissional transcende o mínimo exigido para receber o salário, sendo algo a ser aprendido (e apreendido), confirmando ou corrigindo a maneira de se portar em sociedade (esta sim é uma prova difícil, que temos que nos empenhar muito para conseguir um bom resultado e sermos aprovados). Que possamos contar com estes e outros mestres para nós, nossos filhos e netos.