Eu sou um
descrente da bondade humana. Diferente do filósofo Rousseau, que dizia que o
homem nascia naturalmente bom, acho justamente o contrário. Quanto mais em
contato com a natureza, mais dura, e áspera, a pessoa tem que ser.
Invoco
como minhas testemunhas, ainda que só na memória, a figura dos nossos avós:
eram homens e mulheres altivos, com a pele queimada pelo sol, rugas e veias pelo
corpo, muitos deles gentis e de bom coração, MAS... quando eles diziam NÃO, era
NÃO. E, o mais importante, TODOS escutavam. E respeitavam.
Não estou
falando isso por saudosismo, do tipo “ah, no meu tempo é que era bom”. Não era!
Eram tempos difíceis, preconceituosos, autoritários e até meio fanáticos.
Peraí,
dirão, mas você reclama do autoritarismo e elogiou aquele “não é não”. E eu
reitero mesmo o que eu falei, porque o “não é não” dos nossos avós tinha pouco
a ver com autoritarismo, e mais relação com o RESPEITO que dedicávamos aos
nossos velhos. Um respeito natural, que praticávamos porque acreditávamos que,
por se tratar de pessoas mais vividas, tinham mais coisas a nos ensinar, mesmo
que erradas. E respeitávamos também porque, como tinham uma mobilidade um pouco
mais reduzida (nem todos), cedíamos o lugar, deixávamos que falassem primeiro e
reconhecíamos as coisas que fizeram por nós e nossos pais.
Mas, com
a nossa mania de querermos ser muito bonzinhos, os tais, os liberais, os bacaninhas,
acabamos nos tornando péssimos avós. Primeiro, ninguém nos respeita, nem
dentro nem fora de casa. Nos ofendem no trânsito (“sai da frente, coroa”), não
cedem lugar no ônibus, desqualificam a nossa fala (“isso é coisa de velho rabugento”)
e parece que somos os preferidos apenas dos assaltantes e das prostitutas no
quinto dia útil.
Percebo,
em conversas com meus colegas aposentados, que ocorre uma desqualificação cada
vez maior com os velhos dentro de casa. Normalmente escolhidos para fazer
pequenos serviços, são geralmente criticados, muitas vezes pelo cônjuge que
fica em casa, pelos filhos e pelos netos. “Seu avô ainda não chegou com a
carne?” “Deve estar jogando no bicho.” “Ele esquece a metade do que pedi”.
Mas nem
tudo são críticas e reclamações. Há o momento em que todos se aproximam: “Vovô,
você paga meu colégio este mês porque a mamãe está sem dinheiro?” “Papai, você
poderia abastecer o carro porque eu vou viajar?” “Mamãe, você dá almoço pros
meninos nesta semana?” E aquele inevitável: “Vó, deixa o cartão comigo no
sábado à noite?”
Por isso,
meu colegas e minhas colegas de idosidade, fiquem espertos!!! A vida do ponto
em que estamos já não está tão longa assim. E há muito para se fazer: cantar,
dançar, ler, sorrir, viajar e curtir. Ah, e ficar à toa. Tudo isso é tão natural, como as nossas
rugas.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://br.pinterest.com/pin/778208010581036327/
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