sexta-feira, 24 de agosto de 2018

ARMEMO-NOS UNS AOS OUTROS



Assistindo aos debates na televisão, percebemos que pelo menos dois candidatos à presidência da república defendem a liberação do porte de armas para os “cidadãos de bem”.

A princípio, soa como uma boa solução para a violência urbana. Diz um candidato: “para evitar o estupro, toda mulher deveria levar uma arma na bolsa”. Ou seja, se a mulher percebe que alguém quer sacaneá-la, é só sacar a arma e mandar bala. Imaginando essa mulherada toda armada, três coisas me preocupam: marido sonso, TPM e greve de professoras.

Brincadeiras à parte, a liberação de armas de fogo para a população já é quase uma realidade: um projeto de lei, o PL 3722, já aprovado por uma comissão especial da Câmara dos Deputados propõe exatamente a REVOGAÇÃO do Estatuto do Desarmamento, aquele aprovado por plebiscito, lembram?

Alguns detalhes me preocupam quanto a essa questão de liberação geral de armas. Se o argumento para liberar armas para todos é a questão do estupro, como fazer para armar as principais vítimas, as crianças com menos de 13 anos? E, o que é pior, se estes menores tiverem que atirar, vão fazê-lo contra pessoas da própria família e vizinhos, que são responsáveis por mais de 30% deste tipo de crime.

Outra questão que me ocorre é o feminicídio. É raro o dia em que um jornal não traz uma notícia de marido assassinando esposa, matando namorada, e homens em geral que não suportam a ideia de serem “abandonados” como se fossem bebês. Ora, se as esposas, companheiras e namoradas estivessem armadas seria diferente? Ou, mais uma vez, estaríamos transferindo a culpa da morte para as mulheres, desta vez por não sacar o revólver a tempo?

Finalmente, quanto ao argumento de que os bandidos estão armados e nós, “pessoas de bem” não, fico seriamente me perguntando o que seriam essas pessoas de bem. Quem garante que eu, que não possuo processos nem condenações por crime doloso e consigo facilmente um atestado de um psicólogo para portar uma arma de fogo, não irei usá-la, por exemplo, num momento de tensão, quando um motorista para um veículo em frente à minha garagem? Pois isso já aconteceu comigo, e, face à ameaça que ele me fez, me limitei a chamar a fiscalização de trânsito. Mas, e se eu estivesse armado? Sei lá. Quem nunca teve vontade de dar um tiro num sujeito que, às três da manhã, passa com um som automotivo a todo volume debaixo de sua janela?

É por essas e por outras que peço para refletirmos bem, de forma desarmada, porque, se for armada, vai ser um tiroteio, pois o grande erro dos que defendem o armamento é pensar que quem não defende, não é capaz de puxar o gatilho.

Crônica: Jorge Marin

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