Assistindo
aos debates na televisão, percebemos que pelo menos dois candidatos à
presidência da república defendem a liberação do porte de armas para os
“cidadãos de bem”.
A
princípio, soa como uma boa solução para a violência urbana. Diz um candidato:
“para evitar o estupro, toda mulher deveria levar uma arma na bolsa”. Ou seja, se
a mulher percebe que alguém quer sacaneá-la, é só sacar a arma e mandar bala. Imaginando
essa mulherada toda armada, três coisas me preocupam: marido sonso, TPM e greve
de professoras.
Brincadeiras
à parte, a liberação de armas de fogo para a população já é quase uma realidade:
um projeto de lei, o PL 3722, já aprovado por uma comissão especial da Câmara
dos Deputados propõe exatamente a REVOGAÇÃO do Estatuto do Desarmamento, aquele
aprovado por plebiscito, lembram?
Alguns
detalhes me preocupam quanto a essa questão de liberação geral de armas. Se o
argumento para liberar armas para todos é a questão do estupro, como fazer para
armar as principais vítimas, as crianças com menos de 13 anos? E, o que é pior,
se estes menores tiverem que atirar, vão fazê-lo contra pessoas da própria
família e vizinhos, que são responsáveis por mais de 30% deste tipo de crime.
Outra
questão que me ocorre é o feminicídio. É raro o dia em que um jornal não traz
uma notícia de marido assassinando esposa, matando namorada, e homens
em geral que não suportam a ideia de serem “abandonados” como se fossem bebês.
Ora, se as esposas, companheiras e namoradas estivessem armadas seria
diferente? Ou, mais uma vez, estaríamos transferindo a culpa da morte para as
mulheres, desta vez por não sacar o revólver a tempo?
Finalmente,
quanto ao argumento de que os bandidos estão armados e nós, “pessoas de bem” não,
fico seriamente me perguntando o que seriam essas pessoas de bem. Quem garante
que eu, que não possuo processos nem condenações por crime doloso e consigo
facilmente um atestado de um psicólogo para portar uma arma de fogo, não irei
usá-la, por exemplo, num momento de tensão, quando um motorista para um veículo
em frente à minha garagem? Pois isso já aconteceu comigo, e, face à ameaça que
ele me fez, me limitei a chamar a fiscalização de trânsito. Mas, e se eu
estivesse armado? Sei lá. Quem nunca teve vontade de dar um tiro num sujeito
que, às três da manhã, passa com um som automotivo a todo volume debaixo de sua
janela?
É por
essas e por outras que peço para refletirmos bem, de forma desarmada, porque,
se for armada, vai ser um tiroteio, pois o grande erro dos que defendem o
armamento é pensar que quem não defende, não é capaz de puxar o gatilho.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://babeosydelirios.blogspot.com/2013/04/nuestros-sponsors-ole-ole-y-ole.html
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