quarta-feira, 8 de agosto de 2018

LOS CASOS DEL PITOMBA - A Reunião da Junta



Certa vez, mais precisamente em 1972, estávamos precisando ensaiar para tocar no Ginásio do Sôbi, e não havia disponível na cidade uma mísera bateria para ser emprestada! Aí alguma pessoa brilhante, que a modéstia nos impede de revelar, teve a feliz ideia de ir à casa de um senhor pastor evangélico pedir a ele o referido instrumento, por um ou dois dias. Sabíamos de antemão, claro, depois de uma minuciosa pesquisa de campo, que em sua igreja haveria um desses instrumentos, encostado.

Dois membros do conjunto foram escalados para fazer o pedido oficial nessa difícil missão, sendo um deles o pobre baterista que aqui vos fala, e o outro o Suveleno, que na oportunidade teria sido designado também como chefe da delegação. Ainda antes, ficaríamos horas na oficina, somente para ensaiar como iríamos nos proceder.

Chegou o esperado momento e fomos recebidos pelo pastor em pessoa que, educadamente, convidou-os para entrar. 

Ao sentarmos na sala, já tomados pela ansiedade, fomos fazendo, de cara, o nosso pedido. E o pastor, sem demonstrar nenhuma surpresa, mas também sem fazer nenhuma referência àquela bizarra solicitação, iniciou uma pregação que parecia não ter mais fim. Ouvimos do Gênesis ao Apocalipse, passando pelos Provérbios e Evangelhos, numa mistura que parecia uma novela da TV Record atual. Aonde é que o pastor queria chegar? Parece que ele mesmo não sabia! 

Enquanto isso, sorríamos e lançávamos olhares angustiados porém atenciosos, enquanto, no íntimo, perguntávamos a nós mesmos: e a bateria, sai ou não sai? Já havíamos tomado umas dez xícaras de café, o que dava pra assistir umas três sessões-coruja seguidas. 

Já haviam se passado quase duas horas, e o desespero e o arrependimento já começavam a nos abater. Estávamos até começando a escorregar pelo sofá, quando, finalmente, nosso pregador afirma que, para nos dar a resposta, teria que REUNIR A JUNTA. 

─ Reunir o quê? ─ perguntamos, mas, naquela altura do campeonato, qualquer sacrifício era válido enquanto o sermão continuava.

Após uma homilia que beirou ao exorcismo, saímos, fatigados em completo estado de graça, mas... sem a danada da bateria.

Inconsolados, desesperançosos, mas pelo menos purificados, dali mesmo, e já colocando em prática o plano B, seguimos em direção ao Beco das Flores rumo a casa de nosso amigo e grande baterista Carlos Mauro, que gentilmente, e diga-se de passagem, com muita coragem, veio a nos ceder, pelo menos para o baile, sua bateria.

Quase cinquenta anos se passaram, e até hoje esperamos por uma resposta, que seria dada no mesmo dia, ou seja, logo após a realização a tal REUNIÃO DA JUNTA. Aleluia!

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : acervo do autor

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