Vera está
sentada, sozinha, numa das mesas da entrada do restaurante. Eu ia dizer que era
no Botachopp, mas não tenho certeza.
Por não
ter muita vocação para escrever suspense, vou logo dizendo o assunto: Vera está
sentindo tesão. Qual o problema? – vocês irão me perguntar. Se eu disser que
ela tem sessenta e quatro anos, aí que vocês vão me crucificar de vez.
Então,
deixa eu fazer a defesa antes que me processem por discriminação de idosos.
Normalmente, elas são quatro amigas, que saem às sextas-feiras, “para
espairecer” como dizem. Uma é casada, uma viúva, outra solteirona, e a Vera,
que já se separou (foi largada, diz ela), voltou a casar e enviuvou.
Nessa
sexta, por artes do destino, todas as outras três (não vou dizer os nomes, para
não dar pinta) tiveram problemas domésticos: uma foi ficar com o netinho que
está no hospital (mas está bem), outra, apaixonada pelo Roger Daltrey, foi ao
Rock’n Rio, e a última foi num churrasco com o marido, do qual, certamente, vai
reclamar nas próximas trocentas sextas-feiras.
O objeto
do desejo de Vera, se é que podemos chamar essa comichão de desejo, é o Luiz
Cláudio, um ex-colega do grupo, que, depois de se divorciar, virou um solteirão
convicto. O fato é que, por uma dessas coincidências incríveis, embora a cidade
não seja tão grande assim, veio jantar no restaurante justamente hoje. Cacá,
como o chamávamos, é aquilo que poderíamos definir de coroa prafrentex, isso se
ele não fosse tão metódico e penteasse o cabelo de lado, meio topetinho.
A
situação pode parecer meio ridícula, mas Vera, pela criação recebida, já estava
morrendo de vergonha só por estar sozinha ali no restaurante. Quando reconheceu
o ex-colega na outra mesa (que lhe cumprimentou de forma protocolar, mas a
chamou de Verinha), ficou numa dúvida louca: devo chamá-lo para sentar na mesa?
Mas, e se uma das amigas ainda vier? O que vão pensar dela?
O devaneio
sexual então, ela não reconheceu nem para si mesma. Embora tenha feito seu
coração bater mais apressadinho. E o Cacá estava de bermudinha, uma coisa
impensável para os padrões dele!
Vou
resumir o que aconteceu para não virar suspense de fato. Quanto ele pediu a
maquininha de cartão para pagar a conta, Vera se levantou, pediu licença
sentou-se e foi logo dizendo com o rosto meio afogueado:
- Cacá,
eu gostaria muito de sair daqui junto com você, e gostaria que fôssemos direto
pra minha casa para passarmos a noite juntos. Pronto, falei! – quase morreu.
Vocês
precisavam ter visto a cara do Luiz Cláudio. Ficou branco, vermelho, engasgou,
até que processou a informação, afastou a cadeira e disse:
-
Verinha, eu te amo! Desde o quinto ano.
Vera riu
daquilo tudo.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150825_vert_cul_sexo_idosos_ml
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