sexta-feira, 22 de setembro de 2017

SEXYGENÁRIOS


Vera está sentada, sozinha, numa das mesas da entrada do restaurante. Eu ia dizer que era no Botachopp, mas não tenho certeza.

Por não ter muita vocação para escrever suspense, vou logo dizendo o assunto: Vera está sentindo tesão. Qual o problema? – vocês irão me perguntar. Se eu disser que ela tem sessenta e quatro anos, aí que vocês vão me crucificar de vez.

Então, deixa eu fazer a defesa antes que me processem por discriminação de idosos. Normalmente, elas são quatro amigas, que saem às sextas-feiras, “para espairecer” como dizem. Uma é casada, uma viúva, outra solteirona, e a Vera, que já se separou (foi largada, diz ela), voltou a casar e enviuvou.

Nessa sexta, por artes do destino, todas as outras três (não vou dizer os nomes, para não dar pinta) tiveram problemas domésticos: uma foi ficar com o netinho que está no hospital (mas está bem), outra, apaixonada pelo Roger Daltrey, foi ao Rock’n Rio, e a última foi num churrasco com o marido, do qual, certamente, vai reclamar nas próximas trocentas sextas-feiras.

O objeto do desejo de Vera, se é que podemos chamar essa comichão de desejo, é o Luiz Cláudio, um ex-colega do grupo, que, depois de se divorciar, virou um solteirão convicto. O fato é que, por uma dessas coincidências incríveis, embora a cidade não seja tão grande assim, veio jantar no restaurante justamente hoje. Cacá, como o chamávamos, é aquilo que poderíamos definir de coroa prafrentex, isso se ele não fosse tão metódico e penteasse o cabelo de lado, meio topetinho.

A situação pode parecer meio ridícula, mas Vera, pela criação recebida, já estava morrendo de vergonha só por estar sozinha ali no restaurante. Quando reconheceu o ex-colega na outra mesa (que lhe cumprimentou de forma protocolar, mas a chamou de Verinha), ficou numa dúvida louca: devo chamá-lo para sentar na mesa? Mas, e se uma das amigas ainda vier? O que vão pensar dela?

O devaneio sexual então, ela não reconheceu nem para si mesma. Embora tenha feito seu coração bater mais apressadinho. E o Cacá estava de bermudinha, uma coisa impensável para os padrões dele!

Vou resumir o que aconteceu para não virar suspense de fato. Quanto ele pediu a maquininha de cartão para pagar a conta, Vera se levantou, pediu licença sentou-se e foi logo dizendo com o rosto meio afogueado:
- Cacá, eu gostaria muito de sair daqui junto com você, e gostaria que fôssemos direto pra minha casa para passarmos a noite juntos. Pronto, falei! – quase morreu.

Vocês precisavam ter visto a cara do Luiz Cláudio. Ficou branco, vermelho, engasgou, até que processou a informação, afastou a cadeira e disse:
- Verinha, eu te amo! Desde o quinto ano.

Vera riu daquilo tudo.

Crônica: Jorge Marin

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