Chego
cedo ao consultório, mas o paciente já está na porta, me esperando. Calculo que
chegou, pelo menos, meia-hora adiantado.
Digo “bom
dia” e o deixo na sala de espera, enquanto entro para o início dos trabalhos.
De mais a mais, ainda faltam dez para as sete, horário em que começo os
atendimentos de sexta.
Quando
abro a porta, ele parece extenuado. Nervoso, até um pouco ofegante,
encaminha-se rapidamente para a minha cadeira, e eu explico onde ele deve se
sentar. A pergunta é direta e objetiva:
- O
senhor cura gay?
Da forma
que veio a pergunta, a resposta também volta. Veloz:
- Qual é
a sua doença?
Ele fica
um tanto enrolado para responder, mas diz:
- Eu acho
que eu sou... sabe, gay.
- Você
acha? – aperto.
O que se
segue é uma confissão. Uma confissão de vida, mas dita num tom de confissão de
confessionário religioso. Ele diz que é de uma cidade do interior e que, desde
pequeno, gostou mais de brincadeiras de meninas do que de meninos. Penso
comigo: eu também adorava bonecas, mas não posso dizer. E ele conta sobre um
primo com quem brincava muito, até que, num certo dia, acabaram se pegando, não
no sentido de briga, mas no sentido amoroso, “o senhor sabe como é, né?”
- Como é?
– pergunto.
Não vou
dar mais detalhes, mas fiquei ali, ouvindo aquele moço falar. É um rapaz
bonito, educado, trabalhador, bom aluno. Na faixa dos dezessete anos. Com tudo
para viver uma vida plena e saudável. Mas, enfim, tem essa doença: incapacidade
de ser feliz sem que lhe aprovem a forma pela qual tem prazer.
No final
da sessão, está mais relaxado, sorri. Digo que, na semana que vem, continuamos.
“Tchau, Oscar!” – ele diz. E sai. Fico pensando: quem será esse Oscar?
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://bodylanguagebrazil.com/wp-content/uploads/2014/05/
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