Era o ano
de 1965 e estávamos todos na fila: eu, Helinho, Renatinho, Rogério Baleia,
Mazola, Francisco e um bando de outros colegas. Cantávamos o Hino Nacional.
Éramos o futuro do Brasil, dizia a nossa querida diretora, a Dona Terezinha de
Almeida.
Entrávamos
para as nossas salas cantando a plenos pulmões algum “sucesso” do nosso
hinário. Aquela pobreza total que só mesmo quem viveu os anos 60s é capaz de
relatar: livros encapados com papel amarelo da congeladora, aquele lapisão
vermelho e aqueles sapatos poídos e arranhados.
Futuro do
Brasil, quem diria? Saí louco de vontade pra contar para o meu pai as
novidades. Meu avô é quem foi me buscar naquele dia, e eu fui falando de cara:
- Vô, cê
sabe que eu sou o futuro do Brasil? – eu nem lembro o que ele respondeu.
Chegando
em casa, minha mãe estava com uma revista O Cruzeiro lendo: era sobre a
Revolução Redentora de 1964, que estava completando 1 ano. Antes de contar
sobre a tarefa que a diretora havia me dado, ela comentou:
- Agora
sim, com os militares no poder, acabou a politicagem, a roubalheira, a
pouca-vergonha. Deus ouviu nossas orações contra o comunismo.
Meu pai
estava na Fábrica de Tecidos Sarmento, na fiação.
Fui
almoçar com o coraçãozinho batendo forte: não só eu era responsável pelo futuro
do Brasil (gente, o Brasil é muito grande, pensava), como também agora temos os militares para nos ajudar.
Não tem
como nada dar errado.
Pois é.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : acervo do autor
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