sexta-feira, 15 de setembro de 2017

EM 1965, EU ERA O FUTURO DO BRASIL


Era o ano de 1965 e estávamos todos na fila: eu, Helinho, Renatinho, Rogério Baleia, Mazola, Francisco e um bando de outros colegas. Cantávamos o Hino Nacional. Éramos o futuro do Brasil, dizia a nossa querida diretora, a Dona Terezinha de Almeida.

Entrávamos para as nossas salas cantando a plenos pulmões algum “sucesso” do nosso hinário. Aquela pobreza total que só mesmo quem viveu os anos 60s é capaz de relatar: livros encapados com papel amarelo da congeladora, aquele lapisão vermelho e aqueles sapatos poídos e arranhados.

Futuro do Brasil, quem diria? Saí louco de vontade pra contar para o meu pai as novidades. Meu avô é quem foi me buscar naquele dia, e eu fui falando de cara:
- Vô, cê sabe que eu sou o futuro do Brasil? – eu nem lembro o que ele respondeu.

Chegando em casa, minha mãe estava com uma revista O Cruzeiro lendo: era sobre a Revolução Redentora de 1964, que estava completando 1 ano. Antes de contar sobre a tarefa que a diretora havia me dado, ela comentou:
- Agora sim, com os militares no poder, acabou a politicagem, a roubalheira, a pouca-vergonha. Deus ouviu nossas orações contra o comunismo.

Meu pai estava na Fábrica de Tecidos Sarmento, na fiação.

Fui almoçar com o coraçãozinho batendo forte: não só eu era responsável pelo futuro do Brasil (gente, o Brasil é muito grande, pensava), como também agora temos os militares para nos ajudar.

Não tem como nada dar errado.

Pois é.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : acervo do autor

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