sexta-feira, 23 de junho de 2017

O DIA EM QUE ENVELHECI NO MANGUEIRA


Definitivamente, éramos muito coloridos nos anos 70s!

Vendo a movimentação frenética das trupes de teatro do nosso fantástico Nepopó Festivao, revivi por alguns minutos aquela alegria mágica de fazer teatro.

O momento do qual me lembrei ocorreu aí no local dessa foto, na Galeria do Mangueira. Saíramos de um ensaio no Democráticos, descemos a Rua do Sarmento e entramos, não sei por quê, no Mangueira.

Cabelos longos, roupas coloridas, restos de maquiagem (que testáramos) em volta dos olhos:
- Quantos anos você tem, Jorge? – pergunta Betânia, a bruxinha boa, agora com jeans e pulseiras.
- Vinte e um – respondo, me “achando” por ser adulto.
- Pô, você é velho, cara!

Naquele momento, sem que eu soubesse, eu estava, mesmo, ficando VELHO. Um concurso público e um salário, na época, muito bom me levariam pra longe da minha querida Garbosa, do Grupo Fantasia, do Pitomba, do Jornal Novidade, da arte que poderia ter sido.

Outra coisa que eu não sabia, e que sei hoje é que, ao escolher viver uma vida, estamos, AUTOMATICAMENTE, abrindo mão de TODAS as outras que escolhemos NÃO viver.

Durante anos, envolvido pela ilusão de “vencer na vida”, seja lá o que for isto, sofri muito e tentei fugir de maneiras variadas do demônio do E-SE?. E se eu tivesse ficado? E se tivesse me dedicado à arte? E se o Pitomba fosse conseguisse gravar um LP?

Trinta e nove anos depois desse fato (quase ia dizendo DESSA CENA), meu filho número 2 está saindo de casa para uma outra cidade, um outro país. Mais calmo, esclareço:
- NÃO se atreva a vencer na vida! Você está indo para viver. Só isso! – E ele ri. Acho que, de tanto eu falar, ele já sabe que as escolhas são SEMPRE boas e ruins.

Talvez ele nem acredite nisso. Mas, para não me preocupar, diz que acredita.

Ele sai, todo sorridente, de brinco, óculos escuros e tatuagem. Aproveito que não tenho que bancar o pai bem resolvido e dou uma chorada.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Serjão Missiaggia

2 comentários:

  1. O bom é saber que a vida não é uma ciência exata. Não tem uma escolha certa, não tem um caminho que garantidamente vai te tornar uma pessoa mais feliz. Então é só seguir a intuição mesmo ;)

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    1. Isso... isso. isso... Vindo de um mestre em Matemática Pura, este é o melhor elogio para o que foi dito na crônica. Beijão, filho!

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