sexta-feira, 25 de novembro de 2016

NO NOSSO TEMPO É QUE ERA BOM?


Vira e mexe, vemo-nos apavorados com o rumo caótico dos fatos, dos escândalos, dos abusos e das violências dos dias atuais.

E mais, vendo os jovens caminharem pelas ruas conectados aos seus gadgets eletrônicos, somos tentados a suspirar e nos refugiar na nossa frase de velho preferida: NO MEU TEMPO É QUE ERA BOM!

Mas, será mesmo? Passando uma noite chuvosa digitalizando fotos antigas para o computador e reciclando vídeos de cassetes rebobináveis, percebo-me francamente decepcionado com velhos álbuns de família.

Não sei se já ocorreu com vocês morarem em algum outro lugar, como uma cidade de porte médio e, tempos depois, voltar para a querida cidadezinha natal, correr pra sua antiga casa, mais precisamente ao quintal de seus sonhos, e descobrir, meio sem graça, que aquele seu mundo maravilhoso da infância não passa de um lotezinho chinfrim e barrento, com pernilongos incômodos e muito mato?

Vendo o computador de meu filho, e seus jogos interativos de alta resolução gráfica, falo pra ele: filho, eu trocaria a minha infância inteira, meus brinquedos de plástico, meus robôs e até mesmo o meu amado autorama por quinze minutos de Tomb Raider 2013!

A verdade é que, à medida em que vamos envelhecendo, começamos a desconfiar que, afinal de contas, a vida não foi tão feliz assim. E, pra não dizer que foi totalmente inútil, começamos a lembrar dos “momentos inesquecíveis da minha infância”, dos “amores incríveis que vivi”, ou mesmo das minhas “fantásticas realizações profissionais”. Tudo balela...

Lógico, durante a vida tivemos alguns (poucos) momentos realmente maravilhosos: por exemplo, se você é uma criança pobre e tomou o seu primeiro refrigerante (um copo de Grapette) na cantina escolar do seu grupo, você sabe do que estou falando!

Por outro lado, numa determinada noite, que deveria ser gloriosa da nossa juventude, jogávamos animada partida de sinuca no Bar do Tcham, quando um bando de PMs armados invadiram o local (digo invadiram pois não foram chamados) e, simplesmente, jogaram todas as nossas bolas nas caçapas e disseram para irmos embora pois já era tarde.

Naquele tempo, se protestássemos, seríamos presos. Se fosse hoje, também.

E é por isso que não tenho pressa, nem em voltar no Túnel do Tempo nem em viajar ao infinito e além, para ser feliz.

Porque a felicidade, como já falei, transforma tanajura em helicóptero. Mas unicamente porque a felicidade vem ANTES da metamorfose. Caso contrário, tanajura continua sendo uma formigona bunduda. Mas também uma iguaria deliciosa da cozinha contemporânea.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : lisafx disponível em http://stockfresh.com/

2 comentários:

  1. Concordo com vc. mesmo sendo eu muito saudosa de minha infância. Mas a verdade é vivermos o tempo de hoje, cada época tem seu valor.

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  2. Obrigado por comentar. O saudosismo, por mais belas que tenham sido nossas experiências, às vezes tenta nos prender no passado.

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BRIGADU, GENTE!

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