sexta-feira, 4 de novembro de 2016

COMO AGRADAR ÀS PESSOAS???


O que é que eu tenho que fazer para ser aceito? Melhor dizendo, o que é que eu tenho que fazer para agradar às pessoas que me cercam?

Quando era menino, em São João Nepomuceno, a resposta era simples: obedecer. Meninos obedientes tinham uma aceitação fantástica. Eram citados, com orgulho, pelos pais, elogiados pelos sacerdotes (suprema glória!), invejados pelas mães dos vizinhos (“olha que lindo que o Jorginho é”) e paparicados pelas professoras.

De volta ao século XXI, vejo-me num dilema: colegas aposentados aqui do bairro dizem que sou um comunista teimoso, e não consigo agradá-los. Artistas e ex-colegas da boemia juiz-forana dizem que sou um careta alienado, e não consigo agradá-los.

O fato é que, com o passar do tempo, fui perdendo aquela habilidade, tão útil e tão desejada nos dias atuais, de obedecer aos mais velhos, que hoje, como também sou velho, chamo de poderosos.

Dessa forma, abdiquei do meu desejo de ser bom e de também agradar os outros. Não saio por aí, a la Cazuza, disparando contra o sol a minha metralhadora cheia de mágoas. Mas também quebrei, há muito, os meus sapatinhos de cristal de Dorothy. Nem Sade nem São Vicente. Nem Demônio nem Jesus Cristo. Nem Metralha nem Pateta.

Por isso, tenho encontrado algumas dificuldades, pois, quando tento argumentar alguma coisa sobre o tempo, ou a paisagem urbana, ou sobre som automotivo, logo me perguntam: você é o quê?

- Gente! – respondo, mas, confesso, um pouco ressabiado, porque nas discussões modernas, eu, que sou um produto do século XX, me sinto totalmente deslocado. Isso porque, nas querelas (viram o termo?), nas divergências “mudernas”, as pessoas NÃO ESCUTAM.

Mas, então como se dá o debate? Não há debate. As pessoas buscam detectar, o mais rápido possível, um rótulo pra te colocar: homofóbico, ateu, comunista, maconheiro, governista, fanático. Não vou dizer nem o nome de um partido, pois, se o fizer, é apedrejamento na certa.

Dias sim dias não, lá vou eu, sobrevivendo sem um arranhão. Da incivilidade de quem não me escuta. E devoto de São Raul.

Crônica: Jorge Marin

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