Vira e
mexe, vemo-nos apavorados com o rumo caótico dos fatos, dos escândalos, dos
abusos e das violências dos dias atuais.
E mais,
vendo os jovens caminharem pelas ruas conectados aos seus gadgets eletrônicos, somos tentados a suspirar e nos refugiar na
nossa frase de velho preferida: NO MEU TEMPO É QUE ERA BOM!
Mas, será
mesmo? Passando uma noite chuvosa digitalizando fotos antigas para o computador
e reciclando vídeos de cassetes rebobináveis, percebo-me francamente
decepcionado com velhos álbuns de família.
Não sei
se já ocorreu com vocês morarem em algum outro lugar, como uma cidade de porte
médio e, tempos depois, voltar para a querida cidadezinha natal, correr pra sua
antiga casa, mais precisamente ao quintal de seus sonhos, e descobrir, meio sem
graça, que aquele seu mundo maravilhoso da infância não passa de um lotezinho
chinfrim e barrento, com pernilongos incômodos e muito mato?
Vendo o
computador de meu filho, e seus jogos interativos de alta resolução gráfica,
falo pra ele: filho, eu trocaria a minha infância inteira, meus brinquedos de
plástico, meus robôs e até mesmo o meu amado autorama por quinze minutos de
Tomb Raider 2013!
A verdade
é que, à medida em que vamos envelhecendo, começamos a desconfiar que, afinal
de contas, a vida não foi tão feliz assim. E, pra não dizer que foi totalmente
inútil, começamos a lembrar dos “momentos inesquecíveis da minha infância”, dos
“amores incríveis que vivi”, ou mesmo das minhas “fantásticas realizações
profissionais”. Tudo balela...
Lógico,
durante a vida tivemos alguns (poucos) momentos realmente maravilhosos: por
exemplo, se você é uma criança pobre e tomou o seu primeiro refrigerante (um
copo de Grapette) na cantina escolar do seu grupo, você sabe do que estou
falando!
Por outro
lado, numa determinada noite, que deveria ser gloriosa da nossa juventude,
jogávamos animada partida de sinuca no Bar do Tcham, quando um bando de PMs
armados invadiram o local (digo invadiram pois não foram chamados) e,
simplesmente, jogaram todas as nossas bolas nas caçapas e disseram para irmos
embora pois já era tarde.
Naquele
tempo, se protestássemos, seríamos presos. Se fosse hoje, também.
E é por
isso que não tenho pressa, nem em voltar no Túnel do Tempo nem em viajar ao
infinito e além, para ser feliz.
Porque a
felicidade, como já falei, transforma tanajura em helicóptero. Mas unicamente
porque a felicidade vem ANTES da metamorfose. Caso contrário, tanajura continua
sendo uma formigona bunduda. Mas também uma iguaria deliciosa da cozinha
contemporânea.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : lisafx disponível em http://stockfresh.com/
Concordo com vc. mesmo sendo eu muito saudosa de minha infância. Mas a verdade é vivermos o tempo de hoje, cada época tem seu valor.
ResponderExcluirObrigado por comentar. O saudosismo, por mais belas que tenham sido nossas experiências, às vezes tenta nos prender no passado.
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