sexta-feira, 15 de julho de 2016

VIOLÊNCIA EM SÃO JOÃO... E EM TODOS OS LUGARES


Escrevo essa crônica ainda mexido pelas imagens contundentes do caminhão atropelando e abatendo pessoas a tiros em Nice, na França.

Mas, não iríamos falar da violência em São João? E eu pergunto: há diferença entre aquele sangue derramado nas areias europeias e aquele que ainda está marcado ali na Praça Dr. Carlos Alves?

Há diferença entre a violência dos terroristas islâmicos e dos traficantes? Entre a violência dos policiais contra negros dos Estados Unidos e a violência de ativistas contra os policiais?

Há alguma diferença entre essas violências externas e a nossa violência interna? Quando digo “interna”, não digo interna da cidade, mas a interna de dentro de cada um de nós.

Parece que, quando se fala em violência, só existe a violência externa, do Islâmico, do traficante que, apressamo-nos em dizer, “do morro”, como se a violência fosse uma coisa “deles lá”. Até nos discursos, proferidos (e bem proferidos) na Assembleia Legislativa, falou-se daquela violência que, de uns tempos pra cá, VEIO para São João.

As soluções oferecidas, e tomara que sejam adotadas logo, envolve aumento da estrutura policial, políticas públicas de prevenção e instalação de câmeras. Ou seja, vamos nos armar mais contra a violência já armada.

Não sou ingênuo de supor que combateríamos a violência existente com palestras e paz&amor, mas a questão que pretendo mostrar aqui é que violência é algo que está dentro de cada um de nós e que, se não controlada, pode virar um hábito. Um péssimo hábito.

Eu vejo isto numa coisa simples, que são os nossos (talvez inocentes) debates no Facebook, onde a divergência de opinião gera ataques pessoais violentos que termina com o rompimento da amizade virtual e até real entre pessoas. Num ambiente mais civilizado, pessoas debatem pontos de vista diferentes e, depois, saem juntas pra tomar um chopp ou jogar conversa fora.

Mas, por aqui, não é isso que acontece. Aqui, se você reclama de um carro que está com o som alto na sua porta, logo o motorista (que está errado) parte pra cima para tirar satisfações. Quando seu filho adolescente faz a coisa mais previsível que um adolescente faz, que é contradizer os pais, logo vem alguém e diz que, no meu tempo, o meu pai me “comia na porrada, e foi bom pra mim”.

Como se vê, há um longo caminho para diminuirmos a violência, mas, certamente, essa caminhada começa daqui pra lá, e não de lá pra cá.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Eric Gaillard, Agência Reuters, disponível na Internet

4 comentários:

  1. Muito bem Jorge, foi curto e objetivo. É isso! Começa dentro de nós

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    1. Obrigado, Zezé. Fica difícil combater a violência, e não tenho dúvida de que ela tem que ser combatida, definindo-a como uma coisa EXTERNA a nós.

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  2. Texto muito bom para fazermos uma reflexão sobre a violência, muito perspicaz nesse sentido de dentro para fora, assim como todos deveriam refletir sobre a corrupção que na maioria das vezes está dentro da maioria de nós, nas nossas manias de querer levar vantagem em tudo e com isso vamos fomentando essa corrupção escancarada e que nem mais dá vergonha na cara de quem a pratica, inclusive se a apontamos em alguém, este retorna a nós com violências verbais, quiçá físicas, assim como no exemplo do motorista do carro com o som alto.
    Enfim, a mudança depende de nós... mas os nós estão tão apertados que vai ser difícil desatá-los.
    o ser humano está doente de crônico para terminal...

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    1. Achei fantástica a sua construção, Carlos, não sei se intencional ou não, de que, apesar da mudança depender de nós, os nós estão muito apertados. Talvez porque nós estejam(os) difíceis de desatar. Abraço.

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