sexta-feira, 1 de julho de 2016

VIDEOGAMES DA MINHA VIDA


Em 1972, no alto dos meus 14 anos de idade, finalmente estava conseguindo, para orgulho do meu pai, a glória de entrar no mercado de trabalho. E, do alto de uma escada de uns três metros de altura, meu primeiro emprego, limpava de forma desesperada, as gloriosas vidraças do Banco Comércio Indústria de Minas Gerais S.A. na esquina da Rua do Sarmento com a Rua do Grupo Velho.

Do alto daquele lugar incômodo, contemplava também a mesa do gerente, sr. Mauro Nogueira e, diziam, trabalhe com dedicação pois um dia você vai chegar ali!

À noite, outra grande vitória na minha vida: frequentava, o Curso Técnico de Contabilidade no Ginásio do Sôbi. Tanta dedicação naquela idade tão jovem mereceria um prêmio: depois do recreio, fomos autorizados, num dia qualquer de maio, a sair mais cedo para conhecer o estande do Ginásio na 1ª Exposição Agropecuária e Industrial de São João Nepomuceno, que seria inaugurada oficialmente no dia 12.

Naquele recinto mágico, depois de uma rápida passada pelo tal estande, ficamos encantados com aquilo que parecia ser a oitava maravilha do mundo: as máquinas de fliperama. O que seria aquilo, meu Deus? Logo, logo, entraríamos em contato com as “revoluções” tecnológicas: o pinball e até uma máquina de arcade que simulava uma corrida de carros. Muito tosca ainda, e com uma telinha pequena, esta se tornou a minha favorita. Com os rostos acima de nossos ombros, alguns adultos comentavam: “é, não têm mais o que inventar!”.

Em 1979, passei no famigerado concurso para o Banco do Brasil e todos me diziam que agora, sim, minha vida estava feita. Chegando lá no meu primeiro destino, me disseram: agora você é B1, e sua meta é chegar a S8. Ou seja, a mesa do sô Mauro já não era mais o top. Agora, o negócio era chegar naquela letra que, pelos meus cálculos mais otimistas, e se eu passasse em todos os concursos internos, eu chegaria no século XXI. Por coincidência, com o novo salário, comprei uma maravilha tecnológica: o Telejogo Philco, que podia ser acoplada à TV e transformá-la num videogame, na verdade um mísero pixel sendo rebatido por dois pauzinhos. Não têm mais o que inventar – dizia.

E assim seguia a vida: em 1984, Filipe, meu primeiro filho, já jogava o novíssimo Atari, eu era M2 e os jogos da moda eram o Enduro, o Pitfall e o Atlantis.

Em 1990, já na plataforma NES, meu filho nº 2, Tássio (hoje criador de games), deslumbrava-se com A Lenda de Zelda, um novíssimo jogo de rpg que, pasmem, podia ter tantos finais quantas fossem nossas opções. Agora, sim, eu era S1, e, realmente, não tinham mais o que inventar.

Hoje, 44 anos após aquele inesquecível encontro com os games na 1ª Expô de São João, meu filho nº 3, Artur (youtuber e comentarista de games) me pede para escrever sobre este assunto. “Para saber como era no passado”, segundo ele, enquanto entra correndo para sua sala do sexto ano.    

Vou caminhando pra casa e pensando: meu último deslumbre com games foi o PES, Pro Evolution Soccer em 2007 (chamava ainda Winning Eleven), mesmo ano em que deixei de ser S8, pois me aposentei.

Ao invés de aprender com minha carreira profissional, aprendi muito com os games, estes sim verdadeiros mestres desde o inglês até a filosofia: a vida é cheia de fases, umas mais fáceis outras mais difíceis. Para cada chefão que você derrota, haverá outro, mais poderoso e mais chato de derrotar. No final, o inevitável game over, mas, em todas essas fases, a possibilidade daquela alegria juvenil da noite abençoada de 11 de maio de 1972 na minha São João: FIGHT!

Crônica: Jorge Marin

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