Escrevo essa
crônica ainda mexido pelas imagens contundentes do caminhão atropelando e
abatendo pessoas a tiros em Nice, na França.
Mas, não
iríamos falar da violência em São João? E eu pergunto: há diferença entre
aquele sangue derramado nas areias europeias e aquele que ainda está marcado
ali na Praça Dr. Carlos Alves?
Há diferença
entre a violência dos terroristas islâmicos e dos traficantes? Entre a
violência dos policiais contra negros dos Estados Unidos e a violência de
ativistas contra os policiais?
Há alguma
diferença entre essas violências externas e a nossa violência interna? Quando
digo “interna”, não digo interna da cidade, mas a interna de dentro de cada um
de nós.
Parece
que, quando se fala em violência, só existe a violência externa, do Islâmico,
do traficante que, apressamo-nos em dizer, “do morro”, como se a violência
fosse uma coisa “deles lá”. Até nos discursos, proferidos (e bem proferidos) na
Assembleia Legislativa, falou-se daquela violência que, de uns tempos pra cá, VEIO
para São João.
As
soluções oferecidas, e tomara que sejam adotadas logo, envolve aumento da
estrutura policial, políticas públicas de prevenção e instalação de câmeras. Ou
seja, vamos nos armar mais contra a violência já armada.
Não sou
ingênuo de supor que combateríamos a violência existente com palestras e
paz&amor, mas a questão que pretendo mostrar aqui é que violência é algo
que está dentro de cada um de nós e que, se não controlada, pode virar um
hábito. Um péssimo hábito.
Eu vejo
isto numa coisa simples, que são os nossos (talvez inocentes) debates no
Facebook, onde a divergência de opinião gera ataques pessoais violentos que
termina com o rompimento da amizade virtual e até real entre pessoas. Num ambiente
mais civilizado, pessoas debatem pontos de vista diferentes e, depois, saem
juntas pra tomar um chopp ou jogar conversa fora.
Mas, por
aqui, não é isso que acontece. Aqui, se você reclama de um carro que está com o
som alto na sua porta, logo o motorista (que está errado) parte pra cima para
tirar satisfações. Quando seu filho adolescente faz a coisa mais previsível que
um adolescente faz, que é contradizer os pais, logo vem alguém e diz que, no
meu tempo, o meu pai me “comia na porrada, e foi bom pra mim”.
Como se
vê, há um longo caminho para diminuirmos a violência, mas, certamente, essa caminhada
começa daqui pra lá, e não de lá pra cá.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Eric Gaillard, Agência Reuters,
disponível na Internet
Muito bem Jorge, foi curto e objetivo. É isso! Começa dentro de nós
ResponderExcluirObrigado, Zezé. Fica difícil combater a violência, e não tenho dúvida de que ela tem que ser combatida, definindo-a como uma coisa EXTERNA a nós.
ExcluirTexto muito bom para fazermos uma reflexão sobre a violência, muito perspicaz nesse sentido de dentro para fora, assim como todos deveriam refletir sobre a corrupção que na maioria das vezes está dentro da maioria de nós, nas nossas manias de querer levar vantagem em tudo e com isso vamos fomentando essa corrupção escancarada e que nem mais dá vergonha na cara de quem a pratica, inclusive se a apontamos em alguém, este retorna a nós com violências verbais, quiçá físicas, assim como no exemplo do motorista do carro com o som alto.
ResponderExcluirEnfim, a mudança depende de nós... mas os nós estão tão apertados que vai ser difícil desatá-los.
o ser humano está doente de crônico para terminal...
Achei fantástica a sua construção, Carlos, não sei se intencional ou não, de que, apesar da mudança depender de nós, os nós estão muito apertados. Talvez porque nós estejam(os) difíceis de desatar. Abraço.
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