Passando
em frente à Livraria Vozes, saudade imensa veio até mim, e eu, sem saber por
quê, exceto que era da minha mãe.
Um livro?
Alguma frase solta me capturara? Ou a visão de alguma paisagem mediterrânea que
a dona Olga tanto amava? Nada disso! O que buscou minha mãe, do céu de onde
tanto se esforçou para pertencer, foi a visão singela de um calendário do
Coração de Jesus – 2017.
Nos meus
tempos de menino, o Calendário do Sagrado Coração de Jesus era o nosso
whatsapp. Impossível viver sem ele. A “folhinha”, como chamávamos, trazia todos
os assuntos, mas todos mesmo, desde o comentário do evangelho de domingo até
dicas de saúde e piadas.
A coisa
funcionava assim: ao retirar a folha do dia anterior, tínhamos uma visão da cor
do paramento que o padre deveria usar na missa do dia, e que tipo de missa era.
Em seguida, vinham as leituras bíblicas sugeridas: o evangelista, um apóstolo e
algum texto do Antigo Testamento.
Outra coisa curiosa eram os santos do dia. Por
exemplo, no dia em que eu nasci, uma sexta-feira, dia 5 de outubro, minha mãe
correu à folhinha para ver os santos do dia: eram Santa Flávia, São Meinolfo e
São Benedito, o Negro. Olhando para a própria pele, e da italianada toda da
família, ela fechou a folhinha e lascou: Jorge Fernando. Talvez porque sonhasse
que eu pudesse ser um dia diretor de teatro ou de televisão, embora a TV Globo
só viesse a ser criada 8 anos depois.
Coisa
também muito importante era saber, antes mesmo de tomar o café, se o dia era de
penitência. Sexta-feira era.
Finalmente,
a lua era minguante.
Afinal,
poderão dizer, qual era a utilidade do Calendário do Sagrado Coração de Jesus? Eu
já ia falar “a mesma do Google”, mas, para isto, tínhamos a Grande Enciclopédia
Barsa.
E,
francamente, a utilidade eu não sei. Hoje, por exemplo, serviu pra eu lembrar
da minha mãe. Ainda bem que ela passou batida por aquele nome... Meinolfo.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://www.franciscanos.org.br/wp-content/gallery/folinha-sagrado/1957.jpg
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