A vida é
uma droga.
Alucinógena,
completou a menina sentada no outro lado da mesa, sem tirar os olhos da tela de
cristal líquido do seu iPhone.
No meu
tempo, quando eu era bem pequeno, me falaram do Papai Noel. Eu via aqueles
presente todos, sabe? – e olhou, pela primeira vez, para a garota com roupa de
couro. Preta (a roupa). Ela tinha cabelos curtos, espetados, mas não muito.
Contra
aquela beleza de coisas que eu desejava, não havia argumentos – continuou o
homem, com o uísque ainda intocado. Era de noite, mas o bar ainda estava bem
vazio. Devia estar tocando uma música, ou era o barulho do freezer, pois era
bem suave.
A mim, me
disseram que haveria uma pessoa que eu poderia encontrar. E amar. Pelo resto da
vida! – disse a menina. Era uma saia bem curta, notou o homem.
Já me
falaram sobre isso também – respondeu o senhor, roupas mais joviais do que sua
real idade – chamam de “amor”. Eu mesmo já caí nessa várias vezes. Três de
forma oficial – completou.
Oficial?
Como assim? – indagou a moça.
Ah, desculpe
– disse o homem, se aproximando – esqueci de dizer que, no meu tempo, quando a
pessoa achava o tal par ideal, tinha que ir no cartório registrar e,
principalmente, na Igreja, consagrar a união que, pelos ritos, seria para
sempre.
Você não
parece um cara que vai à igreja. A moça acabou deixando escapulir essa
observação, não como uma crítica, mas até com uma dose de admiração. Chegou
quase a se arrepender, porém ele já havia começado a beber.
Por uma
bela mulher, vou até ao inferno.
Velho
falando bravatas – pensou ela. Eu gosto!
A música
ficou mais alta e não foi possível acompanhar os diálogos. Quando saíram
juntos, o velho dizia assim: olha, não vou te enganar, sou apenas um professor.
E ela sorrindo: tem problema não, véi (gíria, não conceituação). Sou lésbica.
E
foram... nem era tão tarde assim.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : frame do filme Esse Obscuro Objeto de Desejo
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