sexta-feira, 22 de julho de 2016

O MUNDO É UMA DROGA... ALUCINÓGENA


A vida é uma droga.

Alucinógena, completou a menina sentada no outro lado da mesa, sem tirar os olhos da tela de cristal líquido do seu iPhone.

No meu tempo, quando eu era bem pequeno, me falaram do Papai Noel. Eu via aqueles presente todos, sabe? – e olhou, pela primeira vez, para a garota com roupa de couro. Preta (a roupa). Ela tinha cabelos curtos, espetados, mas não muito.

Contra aquela beleza de coisas que eu desejava, não havia argumentos – continuou o homem, com o uísque ainda intocado. Era de noite, mas o bar ainda estava bem vazio. Devia estar tocando uma música, ou era o barulho do freezer, pois era bem suave.

A mim, me disseram que haveria uma pessoa que eu poderia encontrar. E amar. Pelo resto da vida! – disse a menina. Era uma saia bem curta, notou o homem.

Já me falaram sobre isso também – respondeu o senhor, roupas mais joviais do que sua real idade – chamam de “amor”. Eu mesmo já caí nessa várias vezes. Três de forma oficial – completou.

Oficial? Como assim? – indagou a moça.

Ah, desculpe – disse o homem, se aproximando – esqueci de dizer que, no meu tempo, quando a pessoa achava o tal par ideal, tinha que ir no cartório registrar e, principalmente, na Igreja, consagrar a união que, pelos ritos, seria para sempre.

Você não parece um cara que vai à igreja. A moça acabou deixando escapulir essa observação, não como uma crítica, mas até com uma dose de admiração. Chegou quase a se arrepender, porém ele já havia começado a beber.

Por uma bela mulher, vou até ao inferno.

Velho falando bravatas – pensou ela. Eu gosto!

A música ficou mais alta e não foi possível acompanhar os diálogos. Quando saíram juntos, o velho dizia assim: olha, não vou te enganar, sou apenas um professor. E ela sorrindo: tem problema não, véi (gíria, não conceituação). Sou lésbica.

E foram... nem era tão tarde assim.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : frame do filme Esse Obscuro Objeto de Desejo 

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