quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

FAZENDO ARTE&FATO


Ao deparar com essa preciosidade de foto no face de nosso querido amigo e irmão Pitombenses Suveleno, não tive como me conter e deixar de lembrar e narrar mais uma vez este fato histórico que aconteceu por volta de 1973. Foi exatamente esse lugar o escolhido para teste de nosso primeiro protótipo de uma inocente bombinha, ou seja, na antiga oficina Transtec que, na época, funcionava bem ao lado da entrada de sua casa, beirando o córrego.

Essa primeira versão foi projetada pra ser uma bomba de médio efeito caseiro, detonação partida elétrica 110volts, na característica solo. Sua potência seria de três MEGAMELODIAS, que na escala Pitombense, corresponderia a três MEGATONS.

Combinamos na ocasião que a detonação seria num domingo qualquer, precisamente às 18h03min. Pra variar, no dia do primeiro teste não houve quórum, sendo que quase todos sumiram naquele dia, sobrando a bananosa apenas para Silvio Heleno, Renatinho e eu, na missão científica de ver e sentir o que a danada da XB3/4 VERSÃO 01 SOLO seria capaz.

Um de meus irmãos, que vinha acompanhando indiscretamente essa nossa loucura, um tanto ressabiado e não acreditando muito em nossa capacidade, ficava a dizer que, de bombas ele entendia e que, juntamente com um de nossos primos, havia feito muitas na adolescência.

Naquele dia fatídico, enquanto terminávamos os últimos detalhes da construção e já nos preparávamos para a contagem regressiva, quase aconteceu uma tragédia. Suveleno, para meu espanto, após esticar o fio de detonação até a escada da oficina, colocou aquela bendita coisa bem na porta de entrada (vide foto).


 Nessa hora, tenso e assustado, perguntei:
- Suveleno! Eu num entendo muito bem de bombas, mas você não acha que esta coisa, posicionada aí, principalmente, de portas abertas, não dará retorno? Ou seja, não estará muito perto da gente?!
Suveleno, simplesmente responde:
- Tudo tranqüilo, Serjão!  É só fazer a contagem regressiva, tapar os ouvidos, apertar o botão e entregar para Deus!

Foi aí que, sentindo que ele, na empolgação, estava meio cego para perigo, procurei tomar frente à situação. Pedi que colocasse o ARTEFATO para o lado de fora, fechasse um pouco mais a porta, e deixasse pelo menos uma janela aberta. Seguro morreu de velho e para nossa sorte, assim foi feito.

Começamos então a escutar a contagem regressiva, que já previamente gravada, seguia sentido 20 para zero. Quando apertamos o botão, a única coisa de que me lembro, é de ter ficado completamente surdo, meio zonzo e cego. Envoltos numa fumaceira danada, só sentíamos que começava a chegar gente de tudo enquanto é lado. Alguém gritou lá fora: Tão pondo fogo casa do Anjinho!

Acredite quem quiser, mas a pressão do impacto foi tão grande, que a porta da oficina chegou a arriar pros lados após se partir em duas, ao passo que, no momento da explosão, surgia na parede uma rachadura de quase 2 metros de comprimento e pedaços do telhado subiam rumo ignorado, despencava alto-falante pra tudo enquanto é lado.  

Nesse momento, passageiros das 18h00, que estavam saindo da antiga rodoviária com destino a Juiz de Fora, segundo informações, saltaram do ônibus assustados e, enquanto alguns corriam desorientados sem saber o que estava acontecendo, outros ficavam a olhar abobados para o lado da oficina. Enquanto isso, em meio à confusão e envoltos naquela fumaceira, fomos saindo um a um lá de dentro, tossindo uma enormidade e como se nada tivesse acontecido.

Já do lado de fora, aquele meu irmão que dizia entender de bombas encontrava-se extremamente apavorado. Aguardava-nos ansiosamente, para batermos o quanto antes em retirada, pois havia comentários de que algumas pessoas já teriam dado queixa na delegacia.

E se eu disser que essa primeira versão, se comparado às outras duas, não teria passado de um inocente estalinho, acreditariam?

Enfim, por via das dúvidas “Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”. Palavra de Serjão, num tempo em que “ficar bombadão” era quase destruir a Praça Floriano Peixoto.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : Facebook do Sílvio Heleno Picorone

2 comentários:

  1. A estória já é maravilhosa, com fotos históricas então fica digna de uma postagem especial, tipo "edição de colecionador".
    Em 73, ditadura rolando solta, não sei como o Pitomba escapou de ser classificado como grupo terrorista ou, no mínimo, grupo sem noção.

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    1. Acho que, num país dirigido por um exército de pessoas sem noção, um sem noção a mais ou a menos não fazia diferença. Ainda mais que fazíamos a nossa própria revolução caseira, o que depois foi copiado pela banda RPM.

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