Ultimamente,
venho observando muito este vai e vem dos talheres que tem ocorrido aqui em
casa. Por sinal, fato este que também acredito
acontecer na maioria das famílias.
Acho
até que, pelo simples fato de nunca termos tido uma auxiliar doméstica e por eu
ter me prontificado a exercer esta nobre missão de estar sempre colocando os
talheres na mesa, tenha despertado tanto minha atenção.
Para
ser sincero, acho mesmo que este vai e vem dos talheres, que quase sempre nos
pega numa idade meio que assim, digamos, não muito jovial, oferece uma
excelente oportunidade de estarmos utilizando um pouquinho mais nossos
neurônios, ou seja, uma melhor noção de matemática, tempo, espaço, memória e
por que não, também outros processos cognitivos.
Geralmente,
tudo já começa no início do casamento quando a rotina das duas unidades deixa, por
um bom tempo, nossos neurônios um tanto acomodados e preguiçosos. Período dos pares,
onde dois pratos, dois talheres, dois copos, por sinal geralmente idênticos,
ditam o dia a dia do casal. E este
marasmo psicomotor vai se perpetuando por um bom tempo até que, com a chegada
do primeiro filho, a coisa começa a mudar.
E foi o
que ocorreu comigo, quando, repentinamente, tive que começar a exercitar o
número três, ou seja, três pratos, três talheres, três copos, além, é claro, das
três xícaras e os respectivos três pires no café. Isso pra não falar das
constantes variações de cores e modelos que começavam a surgir.
Com a
chegada de meu segundo filho, mesmo demorando um pouco a me condicionar, fiquei
por um bom tempo e, automaticamente, fazendo do número quatro, meu norte, ou
seja, quatro pratos, quatro talheres, quatro copos juntamente com as quatro
xícaras e seus respectivos pires no café. E as novas cores e modelos iam, cada
vez mais, se misturando na mesa e na minha cabeça também.
Daí pra
frente, vão surgindo as constantes variantes que sempre acontecem nas chegadas
das visitas, dos familiares, nas idas e vindas dos filhos ou mesmo na ausência
de alguém. Se, por um lado, embaralham
um pouquinho mais, por outro estimulam sobremaneira novas sinapses.
E assim
a vida vai girando, no rodízio das cadeiras e na dança dos talheres.
Hoje
serão dois pratos, dois copos...
Crônica:
Serjão Missiaggia
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