O amor
é o que nos aproxima ou o amor é o que não nos separa?
Antigamente,
e mesmo hoje em dia, debruçamo-nos sobre intermináveis romances, ditos “de
amor”, nos quais uma característica estava SEMPRE presente: a mocinha JAMAIS
podia ficar junto do mocinho. Essa é a
essência do amor romântico. Julieta não
podia ficar com Romeu porque ele era um Montecchio, Orfeu não podia ficar com
Eurídice porque ela morreu, e o próprio deus do amor Eros não podia nem ser
visto por sua amada Psiquê.
As
novelas de TV só atraem nossa atenção porque um determinado casal não pode
ficar junto, ou porque são irmãos e ninguém sabe, ou porque o vilão e a vilã inventam
uma história que impede a união.
Lacan
diz que o que aproxima as pessoas é a falta.
A pessoa sente falta de uma coisa que não sabe bem o que é, mas até
pensa que sabe. Aí vê outra pessoa e
pensa que aquela pessoa pode oferecer-lhe aquilo que a completa, embora não
saiba bem o quê. Dizem os psicanalistas
que o amor obtura o buraco. Eu penso que
obturação não é amor.
Nos
dias atuais, há essa busca desenfreada pelo amor. Como se o amor pudesse ser encontrado, após
buscas e buscas, testes e testes, degustações e degustações. A ideia pode parecer divertida, mas
certamente não é amar, assim como dezenas de exames organoléticos não vão
substituir a emoção de tomar um bom vinho.
Mas,
então? Amor é o que junta ou é o que não
deixa separar? O evangelho de Mateus dá
uma pista, quando diz: “o que Deus uniu, o homem não separe”. Isso muitas vezes
é interpretado como se quem casasse numa determinada igreja, não pudesse se
separar. Mas a verdade é bem outra: se
Deus = Amor, então significa que o Amor é aquele elo, aquela cola que, DEPOIS
de unido, não deveria ser separado pelo homem.
Quem
tem o seu parceiro/parceira, sabe muito bem que o motivo que o(a) levou a
iniciar um romance poderia ser o mesmo para qualquer outra pessoa desses
bilhões que temos aí no mundo. MAS, o
motivo pelo qual você INSISTE em ficar junto, esse aí é o AMOR!
Ah, mas
então se tem amor, não acaba, não descola mais?
Não, gente, até aquela supercola descola. É que o amor, até mesmo o mais abençoado,
também cansa, adoece, pira, desconecta.
Então, a receita, se é que existe uma receita, pode ser: fortalecer o
desejo do outro! E, mais uma vez, bate a
dúvida: ah, mas e se eu investir na relação e outro não? Mais uma vez, Lacan dá a resposta: EU
AGUARDO, MAS NÃO ESPERO NADA!
Crônica:
Jorge Marin
Amigo Jorge,
ResponderExcluirLendo seu ótimo texto, dopado por "Analgésico" após muita dor noturna na fratura do pé, penso em Lacan e Duchamp, e surge a ideia do título de obra de arte, que ainda não sei o que será: "Aguardo em quarto sempre em guarda".
É que quebrei o pé esquerdo semana passada, e uso agora uma bota estranhíssima com o título de Robot Foot, e duas muletas com o título de Canadenses; além de ser obrigado a fazer repouso o tempo todo, com o pé apoiado em montanha de almofadas: "Aguardo no quarto sempre em guarda".
O primeiro amor é estar bem de saúde, o resto Eros em seus erros nos socorre.
E também acabo de pensar em fazer um trabalho de arte com o título de "Ao verso de pé quebrado".
O verso de pé quebrado, numa definição banal, escapa às regras de construção de um poema, e se torna algo meio campenga ou gambiarra dentro do poema... De amor?...
Aí pensei em fazer foto minha, parede neutra ao fundo, cabelos, barba e barriga enornes, "em guarda" com os instrumentos que uso para tentar curar o pé quebrado, utilizando como roupa, velha bermuda marron despodada, e caniseta creme que tem na frente a foto de uma impressão da digital do dedo direito e em preto, assim como nas carteiras de identidade: "Ao verso de pé-quedrado".
Talvez o amor, entre infinitas definições, talvez seja isso: um pé quedrado precisando que os ossos se colem, para a gente voltar a caminhar normalmente pela vida, até que novamente o pé volte a se quebrar: "o que aproxima as pessoas é a falta".
Excelente texto, amiguirmão Jorge.
Com meu afetuoso abraço,
Brandão
www.cesarbrandao.com
Pé quedrado em quabrado e dem drabo. Esperanbo que ROMA MORRA para AMAR AMAS sem braços (quedrados?). Que São Duchamp te GUARBE & PROJETE!
ExcluirErrata ao meu comentário: além de vários erros de português (estou dopado de analgésico, já disse), eu queria dizer camiseta e não caniseta, e eu queria escrever bermuda desbotada; e não "despodada". Mas como Lacan diz que o "ato falho" é que se traduz em significado ou significante, talvez o amor seja "caniseta despodada".
ResponderExcluirBrandão
wwww.césarbrandão.com
Não há errata entre amigos pois, cá entre nós, a arbitrariedade do signo linguístico sempre e sempre vai levar ao mal-entendido, já dizia Lacan.
ExcluirO que significa "caniseta despodada"?... Não sei; e acho que ninguém sabe. Assim também é o AMOR... Ninguém sabe o que é. Nem Lacan, nem Freud... Nem deus e diabo na terra do sol... Como disse Glauber Rocha.
ResponderExcluirBrandão
www.cesarbrandao.com
Quem sabe Glauber não estivesse sendo profético e o Amor seja O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO, ou, simplesmente, CABEÇAS CORTADAS?
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