sexta-feira, 20 de setembro de 2013

MENSALÃO - A ILUSÃO


O bom de se ter mais de 50 anos é não se iludir mais, ou, pelo menos, assim é que deveria ser.  No entanto, a cada desdobramento do universo político, reclamamos que ficamos desiludidos.  Ora, se ficamos desiludidos, é porque, ANTES, nos iludimos.

Lembro muito bem da turma reunida, cabelos grandes, calças boca de sino, pelos idos dos anos 70, no Bar do Agostinho em frente ao Cine Brasil.  Líamos Marx escondidos em nossos quartos e depois, estimulados por algumas brahmas, defendíamos o socialismo e queríamos os militares fora do poder.  Porém, NÓS NOS ILUDÍAMOS, porque a experiência socialista na União Soviética, ou em Cuba, foi aquela catástrofe que todos conhecemos.  Também NOS  ILUDÍAMOS quanto aos militares, pois, se faziam vista grossa à tortura e à violência, pelo menos, suas vítimas ainda eram menores do que os usuários do SUS de hoje, que não deixam de sofrer calados inúmeras atrocidades.

Depois veio a abertura política, o Diretas Já, e não preciso nem dizer que NOS ILUDÍAMOS, haja vista os dois presidente eleitos na esteira desses movimentos: Sarney & Collor.  No caso deste último, uma SUPREMA DESILUSÃO, pois acreditávamos que a esquerda ERA INTELIGENTE!  E, no entanto, Lula & Brizola bateram cabeça, numa luta louca pelo poder, e o Collor caiu de paraquedas na hora do Jornal Nacional.

Agora, mais recentemente, tivemos, finalmente, a eleição do Lula que (não tenho medo de reconhecer) foi um bom presidente.  Mas... OUTRA DESILUSÃO: seu governo, teoricamente socialista, consistiu numa transferência, jamais vista na História do Brasil, de lucros para os grandes conglomerados bancários, em troca de uma rapinha destinada aos miseráveis de todas as tribos.  Imaginem uma mistura de Robin Hood com Delfim Neto: é isso!

Aí nós, que sempre defendíamos a lisura e a honestidade do PT, fomos bombardeados com o tsunami do chamado Mensalão, onde o único a ficar de fora parece ter sido o dedo mindinho do Presidente que, no entanto, não sabia de nada...  MAIS DESILUSÃO!

Depois de tanta esculhambação, podemos pensar: é, agora aprendemos a lição.  Trata-se de um sistema PODRE que, SE CONTINUAR ALIMENTADO POR NÓS, vai crescer, numa metástase institucional incontrolável.  Foi quando ocorreu o JULGAMENTO DO MENSALÃO.  Enquanto todos, no Facebook, festejavam o justicialismo do Ministro Joaquim Barbosa, quase fui agredido por um amigo, ao afirmar:
- Essa virulência do julgamento é apenas uma manobra pra derrotar o PT nas eleições municipais.
Meu amigo, de forma ufanista, me rebateu enfaticamente:
- Você é um velho!  Pior: você é um velho socialista decadente.

Bom, pelo menos desta vez, eu não me ILUDI...

(Ah, e nas próximas eleições, eu SÓ voto em pessoas que NUNCA exerceram cargos políticos.)

Crônica: Jorge Marin

9 comentários:

  1. Falou e disse, Jorge! E muito bem dito.
    Suas considerações são excelentes.
    Estou com você.

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    1. Obrigado, Mika. É como diz o mestre Paulinho da Viola: "desilusão, desilusão, danço eu, dança você, na dança da solidão".

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  2. Amigo Jorge,

    Discordo de sua crônica. O bandido do Roberto Jeffersson (que era super ligado ao Collor, e deveria estar na cadeia há vários anos, assim com Collor, Sarney, Renan Calheiros, Delfim Neto, Antônio Carlos Magalhães – que já morreu – e vários outros que estão no Senado, na Câmera dos Deputados, ministros do governo de Dilma, etc) intitulou de “MENSALAÇÃO”, é corrupção que existe antes da república; e já no Império (basta ler textos de Machado de Assis).

    Como Fernando Henrique Cardoso foi reeleito?... Comprando votos do Senado e da Câmera, e isso foi denunciado; mas ninguém virou réu na justiça, e hoje a Academia Brasileira de Letras, fundada pelo gênio Machado de Assis, tem bandidos com Sarney e FHC (dentre outros).

    Quem matou PC Farias, braço direito de Collor? (as investigações não concluíram que foi queima de arquivo).

    Quem matou o irmão de Collor, que denunciou a corrupção?... Acho que foi noticiado como “infarto”.

    Mas agentes da ditadura que não se identificaram, disseram que João Goulart sofria do coração, e eles invadiam a casa dele, e punham medicamentos semelhantes; mas que provocariam a morte dele por “infarto”; ao invés de curar.

    Tancredo Neves, resultante das “Diretas Já”, foi morte muito estranha e misteriosa para Sarney assumir... (ou eu quem sou iludido, Jorge?).

    E Juscelino Kubitschek, que acidente maluco foi aquele, o carro sendo perseguido, até o motorista perder o controle, e ocorrer o acidente?...

    E essa baderna com mascarados quebrando lojas e instituições públicas nessas manifestações populares?... Isso não é democracia; mas anarquismo, e parece que tem grupo organizado orquestrando estes atos.

    Por qual motivo a CSN (a primeira siderúrgica brasileira) sair de presente para amigo do FHC, Benjamin Streinbruch?... E a Vale do Rio Doce, com reservas de minério para 400 anos, e que pertencia aos brasileiros, foi tb vendida a amigos dele por quase nada?.... Etc , etc, etc.... Por qual motivo não houve julgamento de “mensalação” no governo de Fernando Henrique Cardoso; já que tudo isso que acusam o PT já existia naquele governo, e em governos anteriores?.... (inclusive na ditadura).

    Infelizmente, para governar o país, o PT foi obrigado a entrar no jogo, e aceitar as regras; que sempre negamos. Aí o José Dirceu cobrou de Roberto Jeffersson prestação de contas do dinheiro repassado ao partido dele para eleição, e que ele embolsou.

    Não tendo como se defender, inventa essa palavra “mensalão”, e que ele, Roberto Jeffersson, recebeu de todos os governos quando foi deputado, e a Globo que estava à falência, aproveita para noticiar muito e tentar derrubar o governo, e não pagar suas dívidas com a União (e que ainda não pagou).

    Tem muita história camuflada nesse jogo todo, meu Caro Amigo. E essa bobagem de manifestações provocadas pela internet é aproveitar de juventude diferente da nossa geração (que começou cedo a trabalhar, e estudar, e ler).

    O melhor protesto não é manifestação ou passeata sem objetivo; mas eleição. Os corruptos que estão no poder foram eleitos pela mesma juventude que hoje faz passeata e protesto.

    Sim, o socialismo faliu, o capitalismo também... e ainda não há nada para substituir isso. Porem a velha democracia, derivada do grego, é o poder do povo, pelo povo, e para o povo.

    Talvez também esteja capenga. Mas se soubermos votar, e excluirmos os corruptos profissionais e que se repetem em todos os governos; algum dia haverá mudança.

    Portanto, querido amigo Jorge, não se trata de “ilusão”; mas de “conscientização”.

    E achei sua crônica “ao falar do dedo mindinho do presidente ter ficado por fora”, extremamente incorreta.

    Todas essas acusações que são hoje feitas de forma oficial ao PT, ouço sempre desde sua fundação, quando era partido sem importância; mas não criado pelos ricos, mas por trabalhadores (depois que o PT cresceu, infelizmente monte de corrupto se filiou).

    Meu abraço, e PT saudações.

    César Brandão
    www.cesarbrandao.com

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    1. Amigo Brandão,

      Concordo com você: realmente eu me excedi na questão do dedo mínimo do presidente. Peço desculpas aos leitores, inclusive ao Lula.

      Quanto aos demais fatos citados por você, nenhum deles é objeto da minha crônica pois jamais tive a MENOR ilusão quanto à direita, à CIA, à Arena, à Tucanalha e afins.

      O que dói é ter cultivado, com muita paixão, alguns ideais e vê-los barganhados de forma vil.

      Mas, assim como Eduardo Galeano, acredito num novo modelo político em gestação e, assim como o genial uruguaio, digo que "somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos".

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    2. Olha César

      Também já acreditei em esquerda e direita, fui à palestra e comício do Lula, ocasionalmente votei na legenda do PT para os cargos de senadores e deputados federais porque acreditava em sua imagem de partido criado por trabalhadores pobres, que queriam mudar o país, tirando do controle os ricos e desonestos. Olha que votar em legenda ao invés de uma pessoa é algo que nunca fiz para outros partidos, pois para mim isso é sinal de uma confiança cega, que não é característica minha.
      Votei no Lula em diversas eleições, inclusive quando foi eleito presidente pela primeira vez. Acreditava que ele não tinha o preparo intelectual necessário para governar o país, mas pensava que sua origem humilde e honestidade justificariam e compensariam possíveis erros.

      Quanta ilusão... esquerda ou direita são igualmente sustentadas nos governos por dinheiro, alianças militares e acordos financeiros.
      O Lula fez como presidente o que fez durante toda sua carreira política: falou muito e fez pouco. Quando ele foi reeleito (sem meu voto), cheguei à conclusão de que ele foi coerente e eu é que estava errado, ao não perceber que um cara que se aposenta por falta de parte de um dedo de uma das mão não é honesto e não está a fim de trabalhar.
      Eu fui iludido por minha burrice e falta de percepção, não por campanhas ou idealismos políticos.

      Acredito que mais incorreto do que o Jorge falar do dedo mindinho do Lula, é o fato do Lula usar este mesmo dedo como desculpa esfarrapada para se aposentar e ser sustentado por décadas pelos cofres públicos, enquanto pessoas com limitações mais severas se viram para ganhar seu sustento diário. A anistia política garantiu aos militares torturadores uma aposentadoria tranquila e, recentemente, ótimas pensões aos “guerrilheiros”. Saíram perdendo apenas os que morreram na época e todos os trouxas que atualmente pagam imposto de renda para sustentar os que, voluntariamente, correram riscos para manter ou conquistar o poder político, inclusive praticando crimes. Nem os militares, nem os comunistas, lutavam por um mundo mais justo ou melhor, o que interessava era o poder para ter a autonomia de impor aos outros sua visão de mundo.

      Até onde sei, FHC, Lula, Dilma e outros beneficiados não destinam parte de suas indenizações e pensões da “luta pela esquerda” para os pobres ou mesmo instituições que trabalham para um mundo mais igualitário os justo. Eles também não recusam a cara aposentadoria como presidente por “trabalhar” por 4 ANOS, enquanto os “trabalhadores do mundo” ralam 30 a 35 anos para ganhar um mirrado salário mínimo.
      Essas pessoas, com suas bocas comunistas e bolsos capitalistas, não passam de hipócritas guerrilheiros de butique, pregando um mundo onde a igualdade seja patrocinada pelos outros, e os serviços voluntários e sacrifícios sejam realizados por uma massa de iludidos.

      Você afirma que “infelizmente, para governar o país, o PT foi obrigado a entrar no jogo, e aceitar as regras”. Seguindo esta linha de raciocínio, posso afirmar que infelizmente, para continuar a ser petista, o cidadão é obrigado a entrar no jogo e aceitar as regras.
      Essa é uma justificava superficial e omissa, que favorece os desmandos e desigualdades típicos das ditaduras!

      O PT não é vítima de um sistema corrupto, É CÚMPLICE! Eu votei nos petistas porque criticavam “as regras do jogo” dos ricos e poderosos, não para eles adotarem a postura do “agora que estou aqui, percebo que as coisas não são bem assim”, como afirmou discaradamente o Lula durante seu primeiro governo como presidente.

      Deixo claro que não gosto de política e não sou a favor de partidos (de esquerda ou direita). Política se faz com honestidade, competência e respeito, independentemente de ideologias. O resto é discurso e ilusão.

      O pior cego é aquele que se esforça para não enxergar!
      PT saudações para as alienações e tabus!

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  3. De ilusão em ilusão, entra e sai geração, e o Brasil continua entregue ao desperdício e esculhambação.
    Ainda acredito que nós, brasileiros, estamos agora trilhando um caminho de amadurecimento político, mas vêm os dinossauros alienados do Judiciário, usando seu tempo extremamente bem remunerado, para jogar esse balde de água fria no ânimo dos iludidos, revendo questões óbvias e desnecessárias, discutindo o sexo dos anjos, criando possibilidades que só interessam à vaidade e lucros dos políticos, enquanto nossos tribunais continuam a prejudicar o cidadão comum e favorecer os desonestos e ricos, com suas leis mal elaboradas, burocracia ineficiente e corrupção de funcionários que não são presos e demitidos.
    Passinho pra frente, passinho pra trás...

    Pior do que este sistema podre continuar a ser alimentado POR NÓS, é o fato de que ele continua a se alimentar DE NÓS que, iludidamente, achamos que o lucrativo é investir tempo e esforço de uma vida inteira em ética e eficiência, ao invés de desonestidade ou oportunismo.

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    1. Obrigado, Sylvio. Você captou, realmente, o xis da questão: a lógica do nosso sistema político é a lógica do câncer. Instala-se a título de promover o crescimento, apropria-se do material saudável dos hospedeiros/eleitores, só promove o crescimento de si mesmo, exporta sua malignidade para os órgãos mais distantes e tudo o que suas vítimas podem fazer é, no máximo, rezar.

      O pior é que criam as leis que vão desrespeitar e livram a cara de meliantes (como aconteceu recentemente na Câmara dos Deputados) para depois criar a lei que os puniria.

      Voltando ao Eduardo Galeano: "na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre".

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  4. Caro Sylvio Bazote,

    “ De ilusão em ilusão, entra e sai geração, e o Brasil continua... O pior cego é aquele que se esforça para não enxergar... as alienações e tabus”. Parabéns. Muito bom seu texto, e você escreve muito bem.

    No entanto, o que você argumenta, ouço sempre desde a fundação do PT, e bem antes do Partido dos Trabalhadores exercer qualquer cargo político.

    E esse que é o lado bom da Democracia. Pessoas com opiniões diferentes e divergentes poderem expressar o que pensam e sentem. Tenho vários amigos que pensam bem semelhante ao que você expõe em seu texto; mas não fico tentando trocar a opinião deles, e eles também respeitam meu idealismo e sonho. Somos amigos, e o mais importe é isso.

    Foi esse meu idealismo quixotesco que levou meu trabalho a participar de uma das mais importes exposições de arte do mundo, a Bienal de São Paulo, e que tinha o título de “Utopia versus Realidade”; e lá apresentei uma instalação com o título de “Contra o Canto das Sereias”.

    O que posso fazer?... Sou um cego sonhador, e isso se reflete na produção de minha obra; já que para mim arte e vida não se separam. O que penso, sinto, vivencio... tento traduzir em arte.

    E arte, dentre inúmeras definições, também pode ser o resultado de “vivência e cultura”. Afinal, a vida é frágil pinguela oscilante entre o útero e o túmulo. Uma gambiarra.

    Voltando, agora, ao seu texto, quando fiz meu comentário, liguei para meu amigo/irmão Jorge, e disse que gostaria de provocar comentários diversos e opostos de inúmeros leitores. E você teve coragem de, em excelente texto, expor aquilo que muita gente pensa; mas se aquieta (com todo o direito de ficar quieto).

    Mais uma vez, parabéns por seu texto, e obrigado pelas opiniões em “diálogo e confronto” com as minhas. Um grande país é feito de pluralidade. “E da adversidade, vivemos!...”, como bem disse o grande artista de vanguarda brasileiro, Hélio Oiticica.

    Então, que a utopia se traduza em realidade, e um mundo melhor, humano, aconteça para as próximas gerações.

    Meu sincero abraço,

    César Brandão
    www.cesarbrandao.com

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    1. Caro César Brandão

      Acredito que a política é (ou deveria ser) a arte de tolerar e costurar diferenças em busca de soluções que atendam às necessidades da maioria. Sem respeito e consciência isso fica difícil ou impossível.

      Não me importo com os partidos políticos, pois acredito que são as pessoas que têm as atitudes que podem fazer a diferença, independentemente da legenda a que se filiam. Sinceramente não sei se isso é alienação ou romantismo da minha parte.

      Os partidos políticos – assim como as pessoas – se perdem em seus objetivos e erram em suas ações. É necessário, então, ter a humildade e coragem de admitir e tentar corrigir os erros ao invés de gastar tempo e energia para justificá-los ou negá-los.
      Também tenho minhas utopias e uma delas é que pare a improdutiva e perniciosa disputa partidária, e que nossos governantes se tornam mais administradores do que políticos, dando continuidade a boas ideias e resultados, ao invés de sabotarem a população pensando na eleição.
      Não importa qual “P” começou, melhorou ou manteve algo que torne nosso país melhor; para somar ao invés de subtrair, eleitores e eleitos precisam de maturidade, ética e coerência.

      Um abraço, discordante nas opiniões e solidário no desejo de um lugar melhor para nós e as futuras gerações.
      Sylvio

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